Coleção pessoal de PAULOEMILIOAZEVEDO
E eu que penso e não existo através do espelho, calculei sem muito gasto sináptico o tempo que se perde no selfie para encontrar a posição (projeção) idealizada de si. Foi, pois que o resultado é: esse tempo é muito maior que o tempo no qual as pessoas rapidamente encontrarão seus mais perfeitos defeitos. As virtudes, no entanto demorarão uma vida inteira para lhe devolverem à altura de sua imagem sonhada ou pesadelo indescritível.
Sonhamos todos os dias. Lembramos pouco, mas sonhamos sempre. Tenho a imperfeita impressão que quando dormimos, morremos. O sonho é a lembrança para se manter vivo; é o alimento do sono. Mas, a era virtual matou o sonho e transformou a vida real em fuga débil. Estamos passando uma fome onírica, sem precedentes.
Eu, brisa, quando vejo um vento forte, cheio de vida, dou-lhe a última porção de ar que me resta para que ele se torne um furacão
O Ministério da Carência adverte:
Pessoas que se apegam rápido demais às outras estão muito distantes de si mesmas.
O problema do internauta é confundir a realidade (na qual está inserido) com a totalidade da realidade (na qual todas as pessoas são participantes).
A maior das violências se opera contra aquele que não pode protestar, justamente porque lhe é ausente um projeto de consciência e, consequentemente, julgamento moral que o motivaria a tal ação.
A euforia é a manifestação violenta no público de um vazio do ente privado. A alegria é o canto do eu na sensível harmonização da plateia.
Havia um tempo em que o espetáculo da humanidade era a própria vida, mas agora a vida se tornou espetacularizada e desumanizante. A vida não existe mais, porém, curiosamente, está a todo instante sendo filmada.
Domingo é um dia que tanto se quer que ele chegue, mas quando ele chega tão logo se quer que ele parta.
O tamanho da solidão de um criador é proporcional à abrangência que ele deseja para o êxito de suas obras e personagens.
Estou chegando a conclusão (tardia é verdade, mas que sempre me ocorreu) que as pessoas querem sempre algo de nós, mas nunca nos querem.