Coleção pessoal de patricia-pinheiro

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Amadurece, enfim, aquele que passa a viver de olhos e ouvidos bem abertos, que se permite sofrer e sensibilizar pelas experiências, esvaziar-se para ser capaz de ficar cheio novamente, e que, quando transborda, jamais deixa de tentar encher outros copos.

O sutiã cor de rosa

Certo dia, ao entrar em uma loja, me deparei com um sutiã cor de rosa. Ele era de um rosa chiclete, todo cheio de renda. Lindo!

Quando me certifiquei de que o preço era mais lindo ainda, tratei logo de experimentar para ver se ele gostaria do meu corpo da mesma forma.

Não sei vocês, mas sempre coloco o sutiã virado para poder fechar pela frente, depois o desviro normalmente.

Acontece que, na hora de desvirar, descobri que aquele se tratava de um sutiã diferente.

Ele possuía, além das alças normais, uma parte que deveria se encaixar nas costas, me obrigando a colocá-lo pela frente e fechar por trás, o que exigiria que uma pessoa fechasse ele para mim.

Nunca imaginei que o fato de eu depender de outra pessoa para conseguir fechar facilmente meu próprio sutiã me incomodaria tanto. Devo confessar que me senti ofendida com tamanha imposição.

Ao dividir com alguém minha angústia, a pessoa prontamente alegou ser romântica a ideia da necessidade de um segundo para o fechamento da roupa íntima.

E ela não deixa de ter razão. Existe muito romantismo e sensualidade no ato de fechar as roupas de sua companheira.

Mas a beleza verdadeira, penso eu, estaria no fato de eu pedir que alguém fechasse meu sutiã porque isso me faria bem, por esta se tratar da minha vontade, e não de uma necessidade.

O sutiã cor de rosa é a sociedade que impõe, através dos meios de comunicação, padrões de beleza às mulheres.

O sutiã cor de rosa é o ideal machista da mulher que precisa de um companheiro para ser feliz e que é olhada diferente quando diz que não pensa em ter filhos.

O sutiã cor de rosa representa todas estas imposições disfarçadas de romantismo e supostas receitas para a felicidade.

Que sejamos capazes de viver nossas vidas e fazer escolhas baseadas em nossos próprios ideais, não naqueles que fazem questão de construir para nós. E que saibamos discernir ambos.

Que jamais deixemos de ir contra tudo aquilo que, de alguma forma, degrina nossa imagem e limite nossa liberdade de escolha.

Bonito mesmo é desejar verdadeiramente que alguém faça parte de sua vida, é ter filhos que sejam fruto do puro sonho de ser mãe, é o corpo que não é moldado por nenhuma capa de revista.

Que sejamos capazes de fechar nossos próprios sutiãs.