Coleção pessoal de NormaArnaud

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Ditas e benditas palavras que acalentam, lamentam e curam, tem o poder da fúria, da lamúria e da luxúria. Muitas são jogadas ao vento sem o menor sentimento, tem as que se enchem de drama e as que vem e difamam. Há as que expressam fé, purificam e semeiam paz, aquelas que escondem a verdade no que dizem, e as que se corrompem antes mesmo de serem ditas, tem as que são pronunciadas com carinho e tem o poder de despir e acariciar a alma, essas nos tiram a calma. Nem sempre palavras são apenas palavras, muitas são sufocadas no coração e deixadas lá sem opção e outras arrancadas muitas vezes sem permissão. Sejamos cercados de doces e meigas palavras, pois as com veneno não se tem antídoto.

Quando desdobramos o amor, ele não cabe mais no peito, fica espremido e transborda pelas beiras e faz um bem tamanho dividi-lo...

As relíquias que guardamos na alma servem para lembrar o passado, evitar que o presente seja meramente vivido e não sentido no seu esplendor sem anular os sonhos, naufragar os pensamentos e corromper os sentimentos, não deixar as falhas antigas serem repetidas, procurar dar um novo rumo aos contos e encantos que a vida proporciona. A lucidez partilha da mesma trilha que a insensatez, ambas se debatendo por prioridade, deliberadamente nos envolvemos com uma pitada de carinho, afeição e humor, sem no entanto perder o sabor que o momento traz. Assim lentamente vamos demarcando uma fatia do coração para explorar nossos mais profundos desejos sem reservas, sem cobranças, sem limites.

Caminhando lentamente fica mais latente a dor, inconfundível sentimento de vazio que tua ausência deixa. A incansável busca da resposta por não ter-me feito morada no início da jornada, um passado já distante que não conseguiu apagar as marcas que foram poucas mais intensas. A cada passo sinto as pegadas deixadas para trás, evidenciando uma consciência sobrecarregada por um momento cheio de sentimentos mais inegavelmente ilícito ao pensamento, já não somos imaturos para quebrar regras no entanto nosso desejo vai além da experiência adquirida com as muitas primaveras, delicadamente a juventude volta a brilhar nos olhos e nos deixamos levar pela fraqueza da alma. Inevitavelmente o medo faz presença constante e perspicaz mas a volúpia perpetua e ficamos novamente a vagar nos nossos sonhos.

Só entendemos a loucura quando nos tornamos os protagonistas de uma paixão, vivemos um delírio e a alma busca abrigo e aconchego. Fica difícil impor limites, já não sou eu, somos nós e estamos em tão sublime sintonia que não depende só do meu querer, juntos e sem controle nos perdemos. A busca incansável pela sensação do toque que se dá por inteiro e sem reservas, fica o sussurro das palavras insanas no auge do prazer....., lentamente e no mesmo ritmo voltamos a realidade e já não está tão perto, fica apenas o respirar ofegante tentando se encontrar.

Esse sentimento, suponho eu pela vaga lembrança só pode ser amor, tem feito eu viver plenamente cada instante......

Através da janela da alma me encontrei, em meio a um emaranhado de rascunhos amarelados perdidos no tempo, carregados de paixão. Linhas e letras a vagar no pensamento, paralisando o momento e refletindo um passado a muito engavetado. Quem diria que um coração já ultrapassado e amarrotado palpitaria com tantas lembranças, trairia a razão por uns instantes de compaixão. É notável a grandeza de detalhes que sobressaltam aos olhos e caminham lentamente ao presente e nos coloca frente a frente com a realidade. Parece vago e remoto o longo espaço que separa a ingenuidade da maturidade que parecemos ter, e sem perceber provamos novamente a mesma delicadeza que nos arrebatava, agora porém com destemida imprudência de quem vê no tempo seu inimigo mortal.

Quem dera a loucura e a insensatez viesse arrebatar o medo, é assim como quem não quer nada, mas simplesmente querendo tudo, provocasse a alma e como num delírio roubasse a calma. Assim veria em teus olhos a doce súplica do querer e teria certeza então de tua dor por meu amor, poderia provar de tua angústia e me deleitar no prazer do teu ser. Seria a tempestade a tanto esperada, nos tomaria em total desequilíbrio, derrubaria as barreiras e seria semelhante ao caos, nada iria escapar do turbilhão de sentimentos e ressentimentos que viriam à tona. Quando o chão viesse novamente a nossos pés e a mente recobrasse os sentidos, a mansidão traria o silêncio a embalar nossa culpa, é assim com profundas cicatrizes, voltaríamos ao esquecimento.