Coleção pessoal de NoiteSombria

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Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Como poucos, eu conheci as lutas e as tempestades. Como poucos, eu amei a palavra liberdade e por ela briguei.

o mar urrava
como um fauno
após o coito

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Madrugada de Junho

Chamam-me Zé, da terra do rei. Apesar disso, um humilde plebeu.

Cidadão orgulhoso, hébrio eventual e desafortunado, estudante bem sucedido e intelectual fracassado.

Há dias não durmo. Não muito. Não.

Soluções das mais diversas foram-me apresentadas. Como meu caráter, contudo, são falhas.

Como ciência, deixam a desejar. Como técnica, ineficazes. Como crença, continuam no plano imaginativo. Um fracasso.

Ontem testei um remédio. Dormi junto ao despertar do sol.

Hoje foi diferente. Álcool. A alvorada se foi há horas e ainda escrevo estes versos.

A agonia já deixou de ser amante. Casei com ela e a traí. Raiva, minha nova paixão.

Desespero será o meu futuro. Desesperança, após ele.

Quero chorar. Também desejo vomitar. Tristemente, não tenho mais controle sobre o próprio corpo.

Minhas mãos tatilografam amontoados de rabiscos estranhos, os quais a autoria negarei pela manhã.

A falta de memória será a prova.

O sono não vêm. A angustia bate frenética a porta de meu coração. Descobriu a traição e agora cobra seu preço.

Suspiraria de alívio se ela apenas pegasse as malas, preferisse meia-duzia de ofensas, desse meia-volta e só voltasse meia quinzena depois, com um oficial de justiça e uma intimação. A dor de cabeça séria menor.

Decadência.

Ao menos não estou sozinho. A tristeza é companhia fiel. Durmo com ela às vezes, mas durmo.

Mal posso esperar pela próxima visita.

Niilista? Não, não tenho tanta sorte e nem tanta esperança assim.

Ó, Tristeza, quando voltarás? Desejo-te, fiel amiga. Se quiser-tes, caso-me contigo. Aceitarei teus egoísmos, desejos e tuas traições.

Sono, eis o que quero em troca. Apenas isto. Aceitas a proposta?

Fico feliz...

O amigo certo se vê nos dias incertos.

Cada um é criador do seu próprio destino.

Um mal não é um mal para quem não o sente; que te importa se todos te vaiam se tu mesmo te aplaudes?

A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.

Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos.

Os homens são menos sensíveis ao prazer do que à dor.

A sinceridade não é dizer tudo o que se pensa, mas crer em tudo o que se diz.

Cabe a quem dá, não a quem pede, ditar as condições de paz.

Basta que ameaceis com a guerra: tereis a paz.

Mais pode a virtude do que a ousadia.

Uma paz certa é melhor e mais segura do que uma vitória esperada.

Quanto maior for a sorte, menos se deve acreditar nela.

Quanto maior é o sucesso menos se pode confiar nele.

Não podemos suportar nem os nossos vícios, nem os seus remédios.

A ira nada pode sem a força.