Coleção pessoal de noi_soul
Puxo o ar com força
ele não deseja encontrar meus pulmões
o coração acelera
o estômago queima
os músculos reagem
primeiro os braços paralisam
depois, as pernas
o intestino aperta
e sinto que tudo deseja fugir de dentro
– inclusive eu!
o único pedido preso na garganta
é que alguém testemunhe
que alguém socorra-me da agonia derradeira
que o vento sopre e me arraste rápida
e furtivamente
sem que nem mesmo eu perceba
– o desejo é que alguém me encontre
e sussurre com sinceridade ao meu ouvido:
está tudo bem, querida, está tudo bem!
Tudo já está se resolvendo
assim, no gerúndio, no caminho,
tudo já está se resolvendo…
e, mesmo já acostumada a vivenciar essas crises,
eu possa me dizer também:
– vai passar, já passou outra vez
vai passar agora também
eu não quero morrer assim
… de ansiedade!
Para as alegrias da infância
É que eu almejo voltar
O céu na Terra bailando
A delicadeza do ar
Um baile na primavera
Lindo verão a surgir
Ah, quão doce era
Sua presença em mim!
Para as alegrias da infância
Eu sempre volto a sonhar
Canções no pé da estrada
Cantigas que fazem ninar
Um vento e uma caldeira
Imagens podem cingir
Tão vasta de brincadeiras
De novo volto a sorrir!
Não sou tão arguta quanto deveria
Nem tão inocente quanto queria
Sou um meio termo estranho
Entre o azedume e o doce
Entre o ar e a terra
Entre a vida e a morte
Entre a paz e a guerra.
Ditado para a terceira década do século vinte e um do calendário gregoriano:
Digas que figurinhas tu envias que eu te direi quem tu és!
(acróstico)
Forma o pássaro da manhã
A lua em sua prosa
Deu poesia ao talismã
A nuvem pintada de rosa
Vou contigo pra Pasárgada
Meu caro Manuelito
Quem sabe lá eu encontre
Dos Anjos, os versos íntimos!
Pensando bem, eu irei
Para o mundo de Drummond
Tão vasto quanto ele mesmo
Mais vasto do que o som!
Jorge e sua Fulô
Bem me acompanhariam
As estrelas de Bilac
Mais forte lá brilhariam
De Campos e todo o LUXO
A vida seria perfeita
Como os versos de Vinícius
Na morte, vida refeita!
Citando Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos, Carlos Drummond, Jorge de Lima, Olavo Bilac, Augusto de Campos e Vinícius de Moraes.
Ah, os meus passos correm
como eu corro
como minha alma corre
como minha vida corre
como meu tempo corre
- E se escorre!
Mas eu não me abandono
Eu nunca me abandonarei
- Não mais!
(adornos)
as palavras não mudam o mundo
mas as pessoas, com suas palavras,
podem fazê-lo...
é mesmo uma pena
ter pena
e não saber voar...
O que fazer quando se está triste?
Chorar?
Lamentar?
Vivenciar o mal que corta a alma em mil?
Ser eu?
Ou me transformar em muitas?
Soltar ou amarrar os cabelos?
Deixar os pés livres ou dançar em minha pequena prisão particular?
(escapatória)
eu andava perdida na vida
até me descobrir artista
e entregar-me de vez...
a-tra-vés
ou-tra-vez
ouço-me em silêncio
(criação)
até o que eu sentia
fui eu mesma que criei
é minha própria invenção
essa dor que sinto
no fundo da alma
do meu coração
Tem revolta
Envolta
Em tanto preconceito
Tem conceito
Formado
De tanta revolta
Tem valores
Invertidos
Travestidos de bem
Tem bondade
Disfarçada
Na pena de alguém...
(Amar é...)
Um abraço ou um braço a quem necessita
Uma palavra ou um ouvido amigo
Uma mão que levanta ou que divide a bagagem
Um olhar que compreende ou aponta um caminho
Um pão para o faminto ou uma canção aos seus ouvidos
...
Uma música, uma louça lavada, uma casa arrumada
uma esperança plantada, uma confiança conquistada
um alento merecido, um convite ao cinema
uma verdade dita, uma virtude desperta
um gesto singelo, um momento
um tempo… Presente!