Coleção pessoal de noi_soul
estampa entre as folhas
o horizonte
e nele enxergo o vislumbre de tudo
o que poderíamos ser
e não somos
o que poderíamos ter
e não temos
o que poderíamos sonhar
e não sonhamos
entre a dor e o desespero
dos que gritam por clemência
e apenas recebem ausência
do inefável sentir
em seus braços vazios
encontram doloroso frio
e crenças de um possível
– porvir!
in-sa-tis-feitos
Vestir-se com o ideal de si
A fantasia do seu próprio eu
Aflora narciso
Abaixa decência
-- a tal decadência
!
O máximo e o mal
O bom e o real
A vida
O caos
O filtro
A foto
A pose
O jeito
Janela
Quebrada
É boa a estrada
Pra quem é perfeito
!
Doce ilusão
Amarga verdade
A tal vaidade
Que enche o peito
!
Que golpe num ego
Tão frágil e ferido
Um pobre menino
Que busca respeito...
Mas ele, em seu leito,
Dormente
Insano
Um santo profano
!
Esquece o eleito...
Vive como a ilusão de si
Sem conhecer-se
Sem se amar
Sem merecer-se
Sem se encontrar...
Um dia, ele há de ser!
Um dia
!
ele acordará...
¿Será?
dis-forme
falsa simetria
doses de agonia
ao olhar perplexo
da cidadania.
quem vive de versos
rotos de existir…
passa pelas ruas
esgotos do devir.
fala-se em direitos
falácias sem um jeito
próprio de servir.
os versos tão disformes
da minha boca escorrem
não têm pra onde ir…
como pode uma alma ser tão triste, tão triste
a ponto de não conseguir nem mais sonhar?
– a tristeza profunda é isso:
nada de sonhos
nada de perspectivas
nada de ilusões as quais se agarrar...
sonhos mal-ditos
se a fama dilacera
imagina a cama vazia!
se a lama entorpece
imagina a sanha luzidia!
se a gama impede
imagina a dama-fantasia!
dos pesadelos sedentos
a devorar meus olhos em noites quentes
o pior é o sonho
que nunca se realizou!
capataz do destino
um bandido ferino
de olhar tão amedrontado quanto o meu!
e ainda há tanta futilidade
a embaralhar os devaneios de uma alma
num corpo imperfeito...
há a sede!
há a fome!
há o sono!
há um desejo ardente pela vida!
e isso tudo me consome
como uma ferida purulenta
sem dó nem piedade
sem voz nem silêncio
sem clamor nem liberdade
sem tristeza nem alento!
oh, sonhos impuros!
que mal há em querer
aquilo que me falta?
se são partes da carne ou do espírito,
nunca consigo identificar!
são vermes corroendo
o melhor de um alguém que nunca fui...
mas poderia ter sido
nos sonhos mal-ditos
de outro ninguém...
ponte-iro
entre passagens e paisagens
somos pontes uns para os outros
é como se eu carregasse segredos
de outro alguém
estou correndo para o nada
com medo
de ser descoberta
lendo as linhas secretas
que nunca escrevi…
um dia deixarei
todos sem resposta
um dia darei
meu último suspiro
pode ser hoje, pode ser agora…
enquanto isso
continuo entre passagens e paisagens
sendo ponte para quem
encontro no caminho…
cada centelha importa
e cada importância centelha
entre passagens e paisagens
somos pontes uns para os outros…
O fogo crepita
Lascas do seu corpo
Fulguram entre as cinzas
Nos entendemos em meio às chamas
E esta cama
Já não tem sossego
Sem nós...
O que será que se escreve
Quando os pensamentos já não são suficientes?
O que será que se pensa
Quando as palavras se fazem ausentes?
O que será que se sente
Quando a alma não está mais presente?
O que será? O que será?
O que será das verdades sem a gente?
des-encontro
o meu alguém está em casa
esperando com a mesa de jantar posta
ele passou um café
preparou os pratos
colocou uma flor ao lado da minha cadeira…
o meu alguém está em casa
aguardando eu retornar para lhe fazer companhia
rirmos juntos das bobagens do dia
e descansar nos braços um do outro
sem medo de julgamentos…
o meu alguém está em casa
com a porta aberta a aguardar minha chegada
eu o vejo olhar o relógio
estou atrasada… já é tarde e ele me liga
muitas chamadas não atendidas…
o meu alguém está em casa
olhando pela janela,
na expectativa de me ver atravessar a esquina
e minha sina
é não ver seu doce olhar…
o meu alguém está em casa
me esperando
me chamando
mas ele ainda não sabe
– meu amor, me perdoe!
… nunca mais irei chegar!
o meu alguém está em casa
tão despedaçado quanto eu…
– eu não queria que fosse assim!
se, ao menos, ele pudesse me escutar
eu diria… eu diria:
– meu amor, estou aqui… olha pra mim...
nem adianta eu ser sincera
quando, na real, eu quero
é machucar…
palavras doem
corroem a alma
às vezes um tapa
pode ser menos vulgar…
nem adianta eu começar...
maiêu-tica
estou prestes a ter uma ideia genial
PSIU!
silêncio!
preciso me concentrar
está vindo… está vindo
estou quase parindo
a ideia que ao mundo agitará
q u a s e
q u a s e
q u a s e l á
respira, inspira, expira
cadê a caneta?
cadê o papel?
celular, cadê?
ela está vindo
está vindo
v i n d o
veio!
viu?
alguém pegou?
não?
NÃO?
não acredito!
que pena… que aborrecimento!
já passou…
... tenho vergonha
de mostrar os versos malfeitos
de outrora
e divulgo estes hoje
porque amanhã me envergonharei
dos versos
(Mal) feitos
de agora...
Dos detalhes é que vivemos... Somos instantes e, como instantes, passaremos...
...então, nos entreguemos à agridoce experiência do viver!
consola-me saber
que a vida é maior que eu
… flutuo no tempo-espaço
como uma piscadela da galáxia
– da menor galáxia do universo!
não tenho importância
na quase infinda dança dos astros
e essa liberdade me encanta…
é a liberdade da descoberta
da minha bela insignificância!
ah, como é leve existir apenas
enquanto os dardos me apontam
e minhas mãos aprontam a cena
– uma igual história!
um conto qualquer, outro poema
e já não preciso dar conta dos meus dilemas!
ah, como é bonito ser apenas
enquanto as folhas bailam
e meus pés andantes acenam
– um instante à toa!
um fragmento, uma suave pena
e já não preciso de fugas nem de aplausos
– UM SALTO!
E nova moradia se faz em mim:
a vida é boa…
a vida é boa
… a s s i m!
Pena que palavras não fossilizem!
Quem pronunciou a primeira delas?
Se ao menos elas existissem
Palavras, meros sons que reverberam...
dimensão do tempo profundo
alargado pelo início do mundo
mostra apenas a direção de ida
numa dança sem saída
descreve a rota do meio
sem tese e sem rodeio
acende a luz da experiência
num átimo da existência
corre mão até o infinito
desperta em forte grito
traz do nada o mesmo pó
numa onda traça o nó
dimensão do tempo profundo
alargado pelo início do mundo
descreve o ritmo do pulso
num instante do seu curso