Coleção pessoal de noi_soul
há um poema em meu armário
vou catá-lo
e vestir seu tecido sobre minha pele
[há instantes de inexistência]
apesar das aparências
ainda estou transvestida
pelo seu olhar.
como pesa deixar ir:
estou tão agarrada aos meus pedaços
no compasso de uma dança destemida
tudo se torna fragmento de mim
mãe
pai
irmã
irmão
filha
filho
todos são peças do meu quebra-cabeça particular
e o adeus dilacera um pouco mais
o que ainda resta dentro da garganta:
estilhaços de uma voz emudecida
pela despedida
das partes do meu espírito que
ainda sonham
vejo os olhos deles pela última vez
mas nunca sei!
até que um alarme soe e me avise:
outra parte de você
se foi…
[nunca existi inteira
agora
sou a peça derradeira]
Antes eu desejava salvar o mundo.
Agora desejo me salvar do mundo.
Espero que amanhã eu não deseje salvar o mundo de mim...
a gente tem medo
do que pode ser
se for tudo
se for muito
se for inteiro
eu tenho medo
do que posso ser
ser for tudo
se for muito
se for inteira
eu não me impressiono tanto
quanto talvez devesse
eu não me importo tanto
quando da vez de ver-se
eu não me iludo tanto
quanto talvez temesse
eu não me espanto tanto
quando da vez de ter-se
Eu queria falar de todo o significado
de toda a importância que sua
existência
representa em minha vida:
sem seu apoio eu não poderia fazer
aquilo que mais me anima
sem sua companhia constante
eu não poderia conhecer
histórias das mais fascinantes
sem sua presença desde a minha mais tenra idade
eu nem sei como andaria
pelas calçadas desmanteladas da cidade
sem seu abraço
meus braços se cansariam
sem suas lentes
meus olhos mal enxergariam
são quase 30 anos, amigo
em que afasto você de mim
apenas para dormir
– é que nos sonhos uso a minha visão interior
e com ela enxergo além do que os olhos possam distinguir.
quando nada mais me causar espanto
nem as belezas nem as tristezas
da existência
quando a felicidade ou o pranto
deixar de ser turbulência
sinto que não existirei também
acordei tão animada
ia fazer um mundo bonito
criar histórias
reinventar a fórmula da Poesia
duas horas
deslizando o polegar
numa esteira lisa
e já me perdi de mim:
não sirvo para a vida
tudo parece estar pronto!
que bobagem querer agradar a todos.
você não vai conseguir!
então, sinta-se um pouco mais livre
para ser o seu melhor
de acordo com seus próprios
parâmetros.
antes de eu não estar
você me destruiu primeiro no seu olhar
com sua indiferença
com seu desprezo
com sua descrença
na dor que vivia a me esmagar
sinto o desterro de viver
e ser pisoteado pelas lembranças
e s m a g a d o r a s
da minha própria infância
…
onde estavam aqueles
que um dia prometeram
a eterna aliança?
Sou filho de um mundo hostil
sou fruto de uma não vontade
sou chuva que não caiu
sou vento sem paisagem
…
e o que fazem os outros
senão esconderem segredos
das mentes estranhas do povo
engolem seus próprios degredos.
o olhar do mundo
aprisiona os sentidos adormecidos:
não me julgue pela dor de ser preterido
nasci uma pérola incrustada na ostra
a fiz sangrar
minar
doer
até, enfim, singrar entre os mares
impetuosos desta existência
vim e vou
como cheguei
estou parindo a outra face
enquanto vicejo o milagre
de uma nova essência.
– as cortinas do palco incendiaram
acendi o pavio
escutei as labaredas penetrarem em mim
como fogo fátuo
indo e vindo
passando e sendo
mais um dentre tantos que não conheceram
razões para continuar…
[apenas não me julgue mais um covarde
a verdade:
eu, a sós com meus pensamentos,
me sustentei até aqui!
e isso foi muito
e isso foi tudo
e n f i m]