Coleção pessoal de noi_soul
como se estivesse na ponta de uma fraga
os pensamentos e sentimentos misturam-se
e vivem perto
e coadunam-se sem cessar:
o luto de um amigo querido
por seu filho assassinado
rapaz mais moço do que eu
ainda não tinha 30 anos
[dor, horror, tragédia]
e, ao mesmo tempo,
vejo a vida florescer
nos olhos de um novo bebê
levo poesia transpondo o oceano
conheço jovens inspiradores que
buscam refúgio na arte
[respiro, suspiro, aceito]
estradas à frente
notícias, alarme!
bombeiros, ajuda, aviões de resgate:
irmãos se afogam no leito da chuvas
não cessam as gotas nem as dores
[desespero, tristeza, impotência]
viver e ser humano
tão consciente de tudo
de todos, daqui e dali
e saber que
… uma angústia
não respeita outra
e a alegria também não perdoa
a mente e o coração tão confusos
por viverem lutas, gozos e lutos
no viçar do dia que ecoa…
...
trabalhar com palavras
mergulhar em sentimentos
costurar mágoas e alegrias
em versos e pensamentos
transportar a outros mundos
na ponta da imaginação
envolver em tantas tramas
pulsando o coração
antes de amanhã
ainda tem hoje
a vida não perdoa
o transcorrer contrário das horas
simbora!
viver o agora
é chama que acende
a fogueira da alegria
no coração.
seja perene
insistente em teimosia
de amar este dia
como se derradeiro fosse
escute o tinido
da velha esperança
entre na dança
desta danação!
sofra enquanto há sofrimento
brinde quando chegar o alento
viva o instante
antes
da morte
e, com sorte,
ainda poderá lembrar!
há um poema em meu armário
vou catá-lo
e vestir seu tecido sobre minha pele
[há instantes de inexistência]
apesar das aparências
ainda estou transvestida
pelo seu olhar.
como pesa deixar ir:
estou tão agarrada aos meus pedaços
no compasso de uma dança destemida
tudo se torna fragmento de mim
mãe
pai
irmã
irmão
filha
filho
todos são peças do meu quebra-cabeça particular
e o adeus dilacera um pouco mais
o que ainda resta dentro da garganta:
estilhaços de uma voz emudecida
pela despedida
das partes do meu espírito que
ainda sonham
vejo os olhos deles pela última vez
mas nunca sei!
até que um alarme soe e me avise:
outra parte de você
se foi…
[nunca existi inteira
agora
sou a peça derradeira]
Antes eu desejava salvar o mundo.
Agora desejo me salvar do mundo.
Espero que amanhã eu não deseje salvar o mundo de mim...
a gente tem medo
do que pode ser
se for tudo
se for muito
se for inteiro
eu tenho medo
do que posso ser
ser for tudo
se for muito
se for inteira
eu não me impressiono tanto
quanto talvez devesse
eu não me importo tanto
quando da vez de ver-se
eu não me iludo tanto
quanto talvez temesse
eu não me espanto tanto
quando da vez de ter-se
Eu queria falar de todo o significado
de toda a importância que sua
existência
representa em minha vida:
sem seu apoio eu não poderia fazer
aquilo que mais me anima
sem sua companhia constante
eu não poderia conhecer
histórias das mais fascinantes
sem sua presença desde a minha mais tenra idade
eu nem sei como andaria
pelas calçadas desmanteladas da cidade
sem seu abraço
meus braços se cansariam
sem suas lentes
meus olhos mal enxergariam
são quase 30 anos, amigo
em que afasto você de mim
apenas para dormir
– é que nos sonhos uso a minha visão interior
e com ela enxergo além do que os olhos possam distinguir.
quando nada mais me causar espanto
nem as belezas nem as tristezas
da existência
quando a felicidade ou o pranto
deixar de ser turbulência
sinto que não existirei também
acordei tão animada
ia fazer um mundo bonito
criar histórias
reinventar a fórmula da Poesia
duas horas
deslizando o polegar
numa esteira lisa
e já me perdi de mim:
não sirvo para a vida
tudo parece estar pronto!