Coleção pessoal de Ninaflorzinha

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Amor -perfeito

O poeta eternamente tem que sofrer!
É seu castigo,seu açoite pelo poder
Penso que utopia é amor- perfeito
Sem passar por dor ,sem um defeito

Já dizia um poeta quase amante
Se não sofre o finge fazer o farsante
Das poucas verdades que conheço
Pode ser meia(?) verdade mas delirante

Amor- perfeito nunca haverá só aparente
Só a dita flor assim o é e morre rapidamente
Clamamos por ele,seu sabor, ser enganados
È vida e sem o saber somos assim afortunados

Ao meu pai-


Vem de novo!


Meu primeiro pensamento hoje cedo foi meu pai
Não se passa um só dia que não venha a me lembrar
Olho que em mim tudo vê,e o melhor de mim extrai
É meu par,sorriso, graça ,mão segura de apertar
As mãos enormes _ Lembrança que com o tempo não se esvai
O meu colo preferido ,vem a lágrima secar!
No dia que tu partistes levou o que o amor extrai
Vem contar tudo de novo,o que adorava escutar
Estórias mil vezes ouvidas, vem de novo! Proseai!
A quem possa ler um dia este triste lamentar
Não pense palavra seca que ao coração não vai
É saudade do meu velho, impossível de afagar
Mas que dói bem mais que parto, é amor que se vai


26/10/2009

Não Deveria se Chamar Amor

O amor que eu te tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar amor
De tão irreconhecível, tão desconhecido
Que não deveria se chamar amor

Poderia se chamar nuvem
Porque muda de formato a cada instante
Poderia se chamar tempo
Porque parece um filme a que nunca assisti antes

Poderia se chamar la-bi-rin-to
Porque sinto que não conseguirei escapulir
Poderia se chamar a u r or a
Pois vejo um novo dia que está por vir

Poderia se chamar abismo
Pois é certo que ele não tem fim
Poderia se chamar horizonte
Que parece linha reta mas sei que não é assim

Poderia se chamar primeiro beijo
Porque não lembro mais do meu passado
Poderia se chamar último adeus
Que meu antigo futuro foi abandonado

Poderia se chamar universo
Porque sei que não o conhecerei por inteiro
Poderia se chamar palavra louca
Que na verdade quer dizer: aventureiro

Poderia se chamar silêncio
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Talvez

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objetos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A se olharem...
Pensar talvez:
Paralelos que se encontram no infinito...
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.

Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra.

O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues voltar,
trazendo restos do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Esperemos

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.

Acontece

Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.

Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.

Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.

Que entrevista espaçosa e especial!

(Últimos Poemas)

Tenho medo da escuridão que o amanhã traz nos bolsos
Espero os dias melhores, quentinhos ,salgados..eles virão
Não nasci cega não sei andar assim a tatear os rostos
Quero minha prainha lá no meio das casuarinas...o verão

Programo as coisas que farei ,até coreografia nova montarei
Uma mochila maior para as noites de risos estórias, lampiões
Só não quero a escuridão de agora e chega de lamentações!
11/10/2009

Rotina

“A idéia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O inicio é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do jornal é o fato
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta é o rock
O coração é a rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do queijo
A rotina da boca é o desejo
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza
Toda rotina tem a sua beleza.”

DÚVIDA

As vezes amo poemas
As vezes temo

Têm poder assustador
Libertam
Prendem
Abrem olhos
Vendam

Machucam
Acarinham
Lembram
Anestesiam
Mostram caminhos
Criam atalhos
Matam
E fazem renascer

Brotam
Secam
Apagam
Iluminam
Iludem
Desmascaram...

As vezes amo poemas
As vezes os temo

Sou poema
Me amo.
E as vezes...
Tenho medo de mim.

SOLIDÃO ACOMPANHADA


Solidão acompanhada
Boca que se move muda
Surda e tola gargalhada
O som inútil a mente afunda

Presente alí nesse instante
Só assiste como um monge.
E esse vão se faz gritante
Enxerga um mundo de longe

O corpo sempre cercado
Mas a cabeça lá...distante
Em meio a todos abrigado
O riso falso destoante

Já não verão meus olhos ?

Já não verão meus olhos os que a ti pertencem
Nem meu fel teu riso
Mas perseguirei o teu olho com o meu
Pertencemo-nos outrora
E tempestades se anunciaram
Pertecemo-nos outrora
Agora me vou...
Mas perseguirei o teu olho com o meu
Levo a melancolia molhada,parceira
Eu vinda de ti e agora sem rumo
Diga teu olho:terá luz o meu?

De longe


Sou o próprio verso
Crio minhas vontades,meu universo
Só eu vivo e lugar nenhum me habita
Meu desejo me consome e me dá vida

Quero o que tens e o que te amedronta
Queres o que tenho e me faz tonta
Serão deuses nossos algozes?
A mim parecem demônios ferozes

Criam distancias vazio no espaço
Jogo vago de frio carrasco
Precisos ,afins ,seres calados
Riem quando jogam os nossos dados?

Do sótão

Ausência fere,dói mata
Fica um frio a corroer
Deixa alma prêsa,ata
Faz pensar que vai morrer

Sinto o cheiro dos incensos
Que acendia pra encher
Esses mais tristes momentos
E das lágrimas verter

Hoje invisto no sorriso
Nesse sótão nem mais vou
Riso incerto impreciso
Que conserva o que passou

Dessa ausência fica o elo
Que ainda habita a mão
Tolo belo e amarelo
Quase infame sem razão

Vôo em novos horizontes
Sem mais triste escuridão
De montanhas verdes montes
Mas não vou sozinha não.

O Feitor


Açoita-me o pensamento noite e dia sem descanso
O suor correndo o rosto pareceu humano pranto
Trouxe cores e imagens embutido em riso manso
Sem camisa mostrou serviço e também um corpo branco
Manteve-me o rosto mirado no retrato encantado
De um moço que me olha sobre o braço debruçado
Enquanto pintava outros ,muitos,todos enfeitiçados
Amoras,flores,horizontes,caminhos,árvores,gatos
Mas chega o dia de descanso ,seu trabalho compensado
Fala rindo ao seu senhor:-Já vou indo ,vou feliz e volto renovado
Vou correr com os pirralhos,fazer bagunça,cortar galhos
Sem exausto ir dormir nem acordar como galinha
Abraçar minha patroa adormecer de conchinha
Isso é vida meu amigo!Não o que aqui faço!
Mas ele volta como sempre,pra semana tem trabalho
Açoitar meu pensamento todo dia , seu regalo

9/10/2009

Do que ficou

Aprendi a duras penas
Saudade é só e apenas
Vontade passageira
E nessa dor ligeira
Pensamos ser tormento
A dor que é momento
Mas curada a ferida
Fica de trôco a vida
Estrada a nossa frente
Sem cores ou repente
Só solo duro e vero
Por hora o que mais quero
Nas vidas que por vir
Promessas de sorrir
Rejeitarei de pronto
Não quero sonho tonto
Só quero o meu canto
Sem sonho ou acalanto
Pesares não terei
Sem sonhos viverei


(10/09/2009)