Coleção pessoal de natyparreiras

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EXTRAVIO
Eu preciso de um poema
Forte
Inanimado
E absolutamente vazio.

Eu pressinto um poema
Na liturgia velada do teu jogo de sombras
Posto que sei imenso do azul.

Eu esgoto o meu desejo
E arrebento o desconforto
De ter tido saudade
De ter tido o tempo exato
De desmerecer o cálculo.

Eu imploro o poema digno de nada
Digerido em minha ossatura tenra
E despreparada.

Eu impugno o poema que me cospe
O sabor errático da vitória.
(Em mim, gangrena)

Eu mastigo o fracasso
Como quem disseca
A ultima doçura daquela goma
- já incolor -
A grudar intestinos.

Eu encolho o poema
E sem as rimas
Disfarço
A dimensão de meus pormenores.

Eu esqueço o poema
No bolso da calça preta
E amarrotada
Que um dia já existiu na minha lembrança.

Eu preciso o poema
Na falta
Na tua falta
Em não presença
De estar aqui.

Eu
Simplesmente
Perdi
O poema
Num achado de esperanças.

POEMA SEM COMANDO
Tem um barulho doido dentro do meu ouvido. Dissonante.
Ressoando toda uma confusão de cartas outrora já marcadas.
Não sei se é o ampl de guitarra ou as minhas cordas vocais, adulteradas.
Não sei.
Aliás, saber é algo que deveria passar pelos ouvidos. Olvido. Esqueço.
Álias, lembrar é papo pra outra sessão de análise.

Estou literária
minha mente
suspensa.

tô nessa de deixar fluir no papel
abstrato
o que tratei desde a cura
há tempos
remediada.

eu medeio sem medida o tédio das distorções, em mais sílabas, acredita?
eu leio, eu laço a palavra a gerar sinônimos de desentendimento,

e você?
me entende?

sei lá
o que há
aqui
talvez o vazio
amortecido
do que já vivi
lívido
e decapitado
descrito com letras duplicas e maiúsculas.

pequena
eu.

e um mundo inteiro de esperanças
parado
no ponteiro exato
quem sabe
um dia...
amanhã?

não.
a negação presentifica o desejo de existir
paradoxal
é o nada...
nada consta
em teus olhos
só há espaços.

eis o sábio parágrafo repetido pela minha própria ignorância
em manusear a palavra com cuidado
palavra dada
gera dados
e estes,
- enfim -
demandam
fatos.

e eu
desmando
- o tal malandro -

Nem eu
nem você...

AUTO DE SAGRAÇÃO

A liberdade é um céu de espinhos
em nuvens áridas
Secas
Secas
E esparsas.

A liberdade é um nó no linho
E na navalha, o punho...

Pálida,
Escorro sangue
Na grinalda.

A liberdade é o preço ganho
Do sem destino
Um terço a menos
Do que exprimo
Um dedo a menos
Em cada palma.

Ali a verdade é um peso
no estômago
do meu filho,

Todo verso meu
É um antigo delírio
Esquecido na fome do mendigo
Alimentado na mais soberana
Das faltas.

SEPARAÇÃO DE CORPUS
A cor dos meus olhos
-serena-
Confunde-se com a lua torpe
Das incertezas.

Não por falta de convicção
- me entenda-
Mas por saber que onde há rua
Há farol
E a penumbra é como pó
Que repousa sobre a mesa.

Talheres ao alto!
Que voem os copos
Quebrem-se o pratos
Os chatos
E os planos!

Eu quadriculo o quadrado
Cada um no seu,
E eu no meu
O nosso é o oceano.

Quadrado enorme
E disforme
Percorrido pelas marés longínquas
E correntes marítimas
A minha fé
Em ser tua mulher
Não cabe em uma rima.

Arruma
Os móveis todos
No canto da sala
E abre alas
Pros nossos poucos
Espaços
Que juntos
Constituem hemisférios.

Eu falo serio!
Meu dom mais terno
É estratificar o dito termo
E descontrai-lo ao extremo...

Relaxa.

A vida é bem mais simples
Do que as aspas
De "viver bem"
Mas bem viver
É viver às lagrimas!

E eu choro
Menina tola
Do pequeno pé
Que onde pisa
faz surgir
O asfalto.

Eu falto
Para ser presença
Inconstante
E esperada
No abrigo íngreme,
Na autopista
- Em lombadas e cicatrizes -
Que não se segue pelas placas.

Curva acentuada à esquerda
Direção segura é a consciente
E modesta
Pronta para desviar dos muros
Sem mirar em florestas.

A vida é uma selva
Eu bem sei!
O bem que eu procuro
Quem me dera!
Me dará
Terra firme?

Estou às margens da BR 115
Mas estou em festa.

Me perdoe, meu papel
Por não ferir-me
Nem às vésperas...

Não há dom
Que o amor não sublime
Nem o mesmo o dom
- acredite -
Que há na dor de ser poeta.

SILÊNCIO

Sim
Estou de luto
Mas a luta tem sido tamanha
Que me faltam pulsos
Para quedarem-me os braços.

Sim, eu soluço
Eu divago em vultos
Mas não caio de bruços
A absorver impactos
- nem brutos -
Minha fé tem mais soluções.

Mais fraco é o curso
Não toco meu barco
- Flutuo -
Apenas escuto
E desvio dos sons.


O silêncio é um culto
Ao deus dos pagãos.

AUTO DE ANUNCIAÇÃO
A vida
tem o sonho
de bastar-se
eterna
Mas prossegue finita
febril
e faltosa.

E é nessa busca
pelo que jamais haverá de ter lugar
Que vagamos exatos
por dimensões de delírio.

Me dê a mão
a mola propulsora
de todo e qualquer desejo
E eu impulsiono o mundo
para parar o tempo em nós.

Tudo teu, meu amor:
meu sonho
minha sutil arritmia
quando chegas e me tens nos olhos
na boca
por entre palavras...
Sei quando sou a escolha.

E eu escolho viver vasta
E inteira nos teus lábios
que sussurram à cada noite
a espera pelo dia seguinte.

Sim
Hei de amanhecer nos teus olhos
todo dia.

Abro a janela e contemplo
- Não a noite fria -
Mas a saudade que sopra e queima
A brisa leve que o vento já anuncia.

LUA NOSSA
Olha no meu olho
Bem devagar
Nao tira os seus olhos
De dentro de mim

Percebe o quanto me entrego
Irrestrita
Ao nosso ritmo
E sem pressa alguma.

Não diga uma palavra
Não ouça nada
Além da minha alma
Vulnerável ao afago do teu corpo.

Celeste
Corpo de luz
Cadente
Fecha teus olhos
E faz um pedido.

Os olhos da lua
Sempre serão os meus
Desejos
E os teus, ouvidos.

AUTO DE PRECIPÍCIO
Já não sei viver
Sem tua sombra
A recortar-me
Por entre pares de olhos
Meus ouvidos.

E eu te ouço
Curto e estancado
Na letra mínima da canção
Repelida
Pela ausência fria
ou em vastos sentidos.

Eu sei te ouvir
Dormindo
Por entre o sono embaçado
E o despertar irredutível.

Espanta-me a dor em teus olhos
Como quem engole o céu
Por entre lagos e precipícios.

Em pensar que a poesia
Repousa o viço
Tal a sombra de uma árvore
Recompõe o suor dos legítimos.

Justo?
Não.
O amor é um abismo.

LUNAR
O dia esconde-se
Noturno
E tudo o que se vê
é céu
Feixes de luz automáticos
Ditos-estrelas.

Há um recanto arredondado a aparelhar a reza do poeta.

Há a espera
Voluntariosa mas de duração presumida.
Há a vida
Previsível eloqüência do inesperado
Há o acaso
O curto
Circuito infinito

Há o oposto
Ao dito
Há o amor a prazo
O nosso
É ao vivo.

Canção que não toca

Desligamos o telefone.
Meu mundo gira e toca a canção composta pelos agudos e graves da minha esperança, ou pelo fim dela. Talvez querendo te tocar.
Nomes soltos e tortos percorrem o tortuoso caminho da dispersão.
Mártires salvando a própria alma das chamas infortunas é o que são.
Me falta chão, me sobra teto limitando a sede dos sonhos-canção.
Me falta e sobra tudo.
E não entendo porque me rendo, porque sou apenas sendo e nada querendo desse teu mundo.
O som do chicote-razão ecoa frente à tua dó, à tua pena.
Enfeita ainda mais a cena feita de ápices dinásticos e faces de dor serena.

Nas trocas de neologismos para o não, encontramos a mesma resposta:
Na vida não há canção que toque fundo quem não gosta.

Chuva de domingo
Chegou a chuva...
Cheia de charme,
Chamando, chama queimando,
Soando o alarme.

Sh!
Sh!
Cala-te chuva grosseira!
Teu charme apagou a chama por inteira.
Sh!
Sh!
Chama, me chama,
Inflama, me ama,
Me tira da lama,
Da poça de lama,
Dessa chuva de cama,
Insana, fagueira.

Me inunda profunda,
As gotas imundas,
Tempestade de nunca,
Nunca molhar-se,
Mesmo sendo a face,
Do que molha minha nuca.

Sh!
Sh!
Cheiro de choro,
Chão feito de choques.
Tens o toque de ouro,
Mas teu não é de morte.

Cabisbaixos os pingos dela,
Molham-me dentro e minha janela.
Me abrigo em meu desleixo,
Mas ela vem quando não deixo,
Tentar-me em meu leito de donzela.

Céu sísmico nos meus pés,
Nuvem só de vento triste,
O tempo nublado esconde o que és,
Em meus olhos a chuva persiste.

ShShShShShShShShShShSh!
A chuva lá fora não caí tanto,
Quanto os pingos brandos do meu pranto,
Pelos cantos,
Pelos cantos.

As gotas que escorrem pelas veias,
Pingam-me no rosto salgadas de areia.
Ó céu clareia,
Clareia!

ShShShShShShShShShShSh!
De cada pingo um dia me vingo.
Chuva que molha um céu só,
Faça ela o que faça o sol,
Vai te inundar noutro domingo.

Sh!
Chuva não chora,
Chuva não chega,
Chuva vai embora,
Chuva chove lá fora,
Chuva, chega!
Sh!
Silêncio para o sol para o sol sorrir.
Sh!
Salva-me da saudade de ti!

Me acolhe na tua aldeia,
Sem eira nem beira,
Me molha, me olha, me odeia,
Mas que venha a Segunda-feira.

Basta deste domingo,
Choramingos,
Chovem os pingos,
A noite inteira.

ShShShShShShSh...
...
A chuva se foi de meu céu revolto,
Para pingar sobre este papel de poema marcado,
Inundou este e afogou muitos outros,
Mas agora não é mais do que passado.

Mas espere!
Tempestade nunca vem só de um lado.
A chuva molha,
E se não me olhas,
É porque também tens o olhar marejado.

O dia em que o concreto do arquiteto desabou
O que sabes de mim
Se tens meus versos
Mas se a mim, de fato
Nunca tivestes?

O papel, mentiroso de berço
É um inteiro de um amor um terço
Em um terço de hora.

Agora,
O que tenho
Arquiteto?

Apenas um desenho
De resto?

Desenho...
Ou rabisco?

Nos olhos, um cisco
É o que tens,
Arquiteto,
Pois não enxergas além da tua planta
O deserto.

De certo
Do chão estás perto,
Arquiteto,
E minha cabeça no teto,
aqui,
perto.

Enquanto és arquiteto,
Sou “aquiperto”... e tão longe.

Podes construir o que quiseres de frio concreto,
Ergas os prédios com os quais sempre flerta,
Pois enfim, caro Arquiteto,
Terás poema sangrando aberto,
Mas jamais o amor concreto de uma poeta.

Tempo de velas
O que a linha do horizonte me trará?
Teu dedilhar de notas tortas,
Para abrir todas as portas,
Encantar aos céus de volta,
Descer ao fundo mar?

Nas profundezas em mim,
Profundezas sem fim,
Velejando rumo às avessas do teu olhar.
Olhar,
Olha ao mar,
Mártir do azul borrado,
Do céu de seu lado,
Enluarardo,
Sem peixe pra pescar.

Bravas ao infinito que se esvai nos ombros da tua mirada...
Enquanto ainda há.

A sicronia delas,
Silêncio ao fundo da janela,
São belas, as ondas são celas.
Prenderam teu destino a fundo,
O levaram bem pro fundo,
Às profundezas do meu amor de mar,
Ao meu amor a luz e ao vento de velas,
Ao naufrágio daquelas,
Que desenham meu partir e pintar de telas,
Pois nelas,
Meu amor pode durar.
Sem maresia, todos os dias, quando o tempo assobia:
É hora de atracar.

Sistema Único de Saúde (SUS)
O silêncio,
O estrondo,
A festa,
A ressaca,
O silêncio.
O grito,
A dor,
O tratamento,
A doença,
Os sintomas,
O exame,
O desconhecido.
O médico,
A cura,
O fracasso.
Os desesperos,
O gemido,
O silêncio.
A tentativa,
A fuga,
A solidão,
O resgate.
A esperança,
A decepção,
O sorriso,
O fingimento.
O mistério,
A mentira,
O choque,
O sangue,
O risco.
O inesperado,
O choro,
O silêncio.
O cansaço,
A verdade,
O segredo,
O impacto,
O silêncio.
O inevitável,
Os sentidos,
O temor,
A simulação,
O desencontro.
O tempo,
A ausência,
A luz,
A descoberta,
O especialista,
O doador,
O coração,
O transplante,
A batida,
O silêncio.
O susto,
A rejeição,
O remédio,
A pulsação.
A festa,
A algazarra,
A abstinência,
A lição.

Amor que mata

O impacto de um pacto,
De fardo e pecado,
Pode ser a algema de almas gêmeas,
Sendo negado.

Que força tem o destino,
Quem ousa,
Quem bane,
Quem ama,
Quer sangue,
Cretino?

O deleite do amante,
Tão raro,
Tão caro,
É doce,
E Amargo,
Diamante.

O eco do teu grito,
Tão mudo,
Tão tudo,
É fato,
Relato,
Do mito.

Meus braços,
Soltos,
Nosso laço,
Morto.

Desejo de ser quista,
Tão sutil,
Juvenil,
Tão livre,
Como tive,
Masoquista.

Caminho que não sigo,
Que renego,
Que é cego,
De paixão,
Que levou um não,
Castigo.

Todos os restos e sobras,
Do teu horror,
Da tua obra.

Fardo...Pecado,
Pecado...Fardo.
Causa ou conseqüência,
Tudo vale pela sobrevivência,
De viver sem te ter ao meu lado.

Que derrame o sangue,
Que grites de pavor,
Não peço que me ames,
Mas te mato por amor.

A controvérsia do amor absoluto
As pessoas fazem cartas nas despedidas.
Mas fiz mais do que cartas,
Coloquei mais do que cartas na mesa.
Te mostrei sem medo o que era e o que queria,
Jamais deixei linhas presas...
Fui tão fundo na irrelevante sentimentalidade daqueles dias,
Que acabei inerte na correnteza que dava pé, mas se afogava na própria pouca profundidade.
Bem na verdade,
Meu amor,
Jamais te pude chamar assim,
Nem para mim, nem baixinho, mas sim agora,
No fim.
Não tenho mais medo de ouvir tu ressonares que vago na infertilidade do que sinto sozinha,
Somente em minha irracional poesia.
Sempre que te disse,
Ou ainda, escrevi,
Que era hora de lançar âncora no porto,
Que o que me corroía, logo estaria morto,
Pequei.
Pequei na ignorância de quem ama a solidão de poeta,
Um quase profeta da própria desgraça.
Agora, digo-te com a cândura dos males acometidos aos que fingem a infinita essência dele,,,
Do amor:
Juro-te estar sempre por perto,
Corando-me as faces ao ver-te te aproximares,
Pedindo a lua que se deite sob os mares,
Senão nos teus braços, então nos meus versos.
Servindo-te de sombra sem aspirações de vulto,
Orgulho embebido em amor absoluto,
Ressurge e não morre assim é o meu luto,
No preto dos teus olhos o abismo tão cego.
Farta da utopia quase pueril disfarçada sob miradas de repreensão,
Farta de repetir a mim mesma com punhos cerrados a luta pelo não,
Resolvi dizer que sim,
Que te amo,
Mesmo que eu não ame,
Que morro,
Mesmo que não derrame,
Sangue.
Dizer-te que sou tua e serei eterna aos teus desatinos,
De menino...
Mesmo que conte décadas sem teu despertar vespertino,
Ou para mim, desatino.
Na esperança de que fazendo-te acreditar que te amo, nada fará com que me chames,
Enlouquecida peço, e só peço que me ames.
Nunca o fim foi tão cretino,
Não mais escreverei o que senti,
Mesmo sendo estes os últimos que assino,
Juro ainda mais versos eternos para ti.

prEGO
O que move teu ego pálido
Químico de gelo
Por que desfaz-me desmantelo
Se os céus esquálidos, esquerdos
Doem-me “em mim” o dedo
Envolvido de desapego
Extorquido do teu ego
Do teu zelo?

Ego sei te nego
Mas me renegas
Às léguas intrépidas
Do teu medo.

Por que o desmantelo
Se o martelo dos cegos
Martelou-me os sombreiros?

Borra-se o pélvico bálsamo de bordas caçoantes
Que riem do meu antes
D’antes fossem céu-inferno
O que limbo, o que eram...

Era-me papel pôr de prego
És-me tinta furta-cor do cego
Dá-me papel, pincelo
Pinta-me no bélico pão-farelo
Esfarela o cérebro
Celebra o clérigo
Afago dos histéricos
Épicos
Podres
Póstumos
Inexactos... Fossem cactos os cacos em mim...
São cactos dos que catam os cacos
Cactos caçoam cactos
Abstractos
Cactos
Cactos... Esqueléticos riem...

Ruborizaste minha alma
Envergonhaste-a de ti
Tão dentro, tão fundo
Tão pálida, caste minha alma
Caste-a de ti...

Cactos cactam minha alma
Cactos cactam em mim... burocácticos
Antes cactos fossem rasgando a alma
D’antes fossem cactos rasgando o rim.

Firme o “fulgo dos felpes felpos dos Alpes”
Alpendres de postes podres de pena
Postes podres de pena
Pena
Cactos
Pena de mim...
Que não mais tenho pena
A cumprir...
Mas os cactos, desbocactos
Riem...

HonRATO Feroz
Há vezes apenas sinto que existo apenas porque não desisto de existir
Há vezes apenas sinto o que não minto apenas porque minto que não senti
Há vezes em que não sinto, sequer insisto ou desisto do que já existi

Há vozes que me obrigam no solo morto, se jaz, morri.
Há doses que me inseminam do rastro corvo que apodreci
Há tosses que se terminam pelo brônquio aberto de sol e si

Há dores que são um pacto...
que são um pacto...
Submeti

Às dores que só um rato...
que só um rato...
Sobrevivi.

Súplicas à Pérola
À Maria Rita

Eis que surge ela
A não espera árdua de ser ela
E grita a Cinderela
Quem dera-me ser ela
Rita, Maria, Séria

Quisera minha súplica poder-te tão sincera
Quisera-me Maria ser-te Rita
Ser-te rítmica minha súplica
Ser-te-me tão lúcida a tua música
Que grita
Pondera
A dor da Cinderela
Que era ela
Antes do debruçar de tuas querelas

Querê-las querem às bélicas
Belas ao bálsamo de Rita, Maria, Séria.
Eis que surge ela...

Eis que surge o grito
O medo assombra-se do mito
O mito apodera-se do grito
E grita
Rita, Maria, Séria.
Quisera-me ser lúdica a empírica tua quimera
Quisera-me ser mito tua afronta mais sincera
Quisera-me ser grito, o debruçar mais bonito
No ímpeto que vocifera, algoz
Quisera-me a Cinderela silenciar em tua voz.

Eis que surge o tempo
Assombra, assopra-nos tão lento
Prende o ar, faz ciumento
Herda telepático o tormento.
Eis que surge ela
Eis que se apodera
Já não era mais sem tempo.

Seu tempo
Tempestuosa
Rita, rima, rasgo e prosa
Ela rasga, ela arrasta, sinuosa
A esfera de argila
Que no palmo de seus aplausos
Desfibrila
Se desbota
Ao embevecer-se com suas notas
Pudera...era ela
Rita, Maria, Séria.

Cinderela trapos d'alma
Pedaços fugidios
Do meu eu tão tardio
Que derrama
Quando grita
Quando Rita, Maria, grita
Esvaí-se em delírio
Bonita
E inflama
A flâmula escarlate que aprisiona
Acústica
O meu eu
O meu erro
De angústia
De não ser lúdica
A tua música
De ser flauta no frio
De tua astúcia...
Bonita
Regenera
Rita, Maria, Séria.

Quem dera-me ser ela
Quem dera-me, Cinderela
Sentir-te pés lúcidos n'água, aguarela
Translúcida em teu timbre que suplica
Pela pérola
Que supera...
Mas a pérola
Era ela...

Rita, Maria, Séria

Negação
A dignidade dos meus versos é posta à prova
Não hei de merecer que meus pecados sejam documentados
Tão pouco disfarçados nas hipócritas brechas do lirismo.