Coleção pessoal de natanirisorim
Notícia:
tem uma parte sua escondida em mim
pois o médico afirmou
e o exame constou
que o coração que carrego é de outra pessoa.
Eu estive reparando a lua e pensando nos muitos olhares que já percorreram por ela. A lua é a junção dos separados, dos apaixonados, dos desesperados… Numa noite há tantos que se amam e a convidam ao compartilhamento. E a lua, sempre educada, se doa, e se divide com os demais olhares de casais de namorados que antes nunca aperceberam-se do quão bonita é! A lua sempre desculpa os dispersos. Às vezes se exibe com confiança, em outras, acanhada. A lua pela manhã se despede com saudade. Há os que não se contentaram em admirá-la apenas de longe; e por isso as pegadas nela. Ontem eu olhei no céu a mesma lua que Cecília, que Machado, que Drummond contemplaram e a que o moço que conserta os meus sapatos ainda observa. Pensei no meu amor por ti e então descobri que certas coisas Deus fez para serem eternas.
Falou-me uma dose de sonho pelo canto dos olhos. O riso confirmava: era meu. Ainda que nunca dissera. E eu sou tua - mas isso eu não quero negar.
Prefiro machucar-me emocionalmente que machucar outrem. Não digo com isso que gosto de ferir-me em constância, mas é que a dor em nós é sempre maior quando descobrimos que somos o motivo da dor do outro. Se a dor é minha, sem problemas, eu resolvo, eu me viro, mas se é de outro me desviro e a sensação de culpa permanece em mim. Me sinto a mais tola de todas.
A princípio não passou de uma pessoa que havia acabado de conhecer. Confesso que trocamos algumas palavras sem eu ter com você alguma intenção que passasse da primeira, sem nem entender o que exatamente estava fazendo ali. Mesmo assim você quis expor sua beleza a mim. Não essa que se encontra num olhar de galã da novela das nove ou num cabelo de boneco com cada fio no seu devido lugar. Não. Eu vi você lá no fundo, e acabei me vendo lá também. Eu sorri e você sorriu junto: acho que é você quem estive esperando.
Os Clichês de Augusto
O mais comum é sempre o “eu te amo” e, por coincidência, ou boniteza, é justo o que me causa cócegas no peito, me levando ao riso. Augusto também diz coisas como “eu estarei aqui por você” ou “pode contar sempre comigo, ok?” E eu não só acredito como me rio no coração outra vez… Me diz, há algo mais bonito do que alguém aí por você, pra você? Certo que, quando acontece, a gente até desconfia. Torce o pescoço para um lado, para o outro, vira para trás para ver se é com a gente mesmo a palavra. E não é que é? Augusto me ama! E para o nosso contento, eu o amo também.
Ventania
O vento sussurra-me algo ao pé do ouvido
Mas sei que não me amas
Ainda! – Falo-me com esperança
De um dia ser eu o teu amor
E mesmo que eu entendesse as cantigas do vento
Saberia que em nada seria declarações
Mas, ah! Se eu pudesse falar a língua dos ventos
Teria a audácia de mandar-te um beijo a mais.
Oh Darling!
Teus olhos quase que postiços
me fazem repensar na ideia que é te amar
Há alguém no mundo que enxergas como me vê?
E, se isso acontece, é justo quando você sabe?
Pois eu não posso ficar nesse contratempo
dizendo a mim e para o vento que prefiro correr ao oposto
do que ir ao teu encontro.
Os infinitos de Carla
Carla fotografava o céu com os olhos; vai ver por isso o brilho intenso contido neles. Suas palavras tinham a lisura do tempo que, sem cerimônia, apenas é: ensolarado, nublado, chuvoso, por que não? Se as fases de lua ela também tem… Ah! Pudera eu saber voar só para ter lugar na cor dos seus olhos noturnos. Quem me dera se o amanhecer tivesse a delicadeza de não levar embora as estrelas daquele olhar amigo.
No prédio ao lado de onde eu moro há um moço que ao invés de pedir para abrirem o portão ele grita: “Joga a trança Rapunzel!” Eu me rio. E imagino o quão feliz seria se o mundo inteiro risse comigo, pelo menos nesse instante.
Arranha-céu,
O céu arranha. Quem me dera ser criança, olhar para cima e sorrir. Se ainda rio já não sei. E se sei esqueço. E se esqueço já não lembro como fui ao ser criança. Quem pudera a infância visitasse sequer uma única vez o meu ser: esse pobre calejado, avançado
e ainda assim paralisado em primícias das quais não sabia e confesso que ainda não sei o que aconteceu que fui olhar para aquele arranha-céu e não sorri.
Não estou fazendo pouco caso, nem desprezando o que quer me oferecer. Só estou feliz demais para querer ser quebrada ao meio.