Coleção pessoal de nataliarosafogo1943
às vezes parece que acendo uma clareira de alegria e extravaso toda a minha melancolia, como se achasse a cura... e numa bebedeira louca, desafio os beijos da tua boca...
não há regresso, habito na encruzilhada, trago a esperança nua, o sonho estremecido e a alma por um fio...
terno o orvalho da madrugada quando o amanhecer ainda não é... e o sonho vacilando se desfaz em nada, logo que a realidade em nós assenta o pé...
quando o silêncio é pesado, qualquer barulho parece assombração, e as nuvens no pensamento ficam inquietas...é como estar só e não ser possível quebrar a solidão.
poisou o acaso em mim
deixou-me sorriso triste
tentando desviar-me assim
por caminho que não existe
e por becos apertados
sujeita a tropeçar,
nestes poemas calados
com tristeza a soçobrar.
natalia nuno
é o passado que se desenha na aura deste pensamento em vôo nas minhas mãos... enquanto os meus olhos riem, treme a água no açude e eu criança, com um tremor de asas no sangue...no reino da minha infância o silêncio, e o vento rondando nas ramas, logo o chilreio lânguido do pássaro, ignoro quem voa melhor, se ele, se eu... juntos pelo acaso deste sonho meu.
cada palavra cheira a fruta
e a saudade,
arranca-me um suspiro das profundezas
do meu coração vigoroso
e mais outra palavra ao virar da esquina
volto a suspirar, vendo-me ali menina.
e tudo se cumpriu, mas não como nos sonhos daquela menina de silhueta magra, da miúda da minha memória que se agarra a mim e parece não querer cortar o cordão umbilical que nos une, garota que parece ter adormecido com o rosto entre as mãos, gostava de a poder reconfortar, mas os nossos silêncios são mistérios que tecem memórias, onde o sol começa a desaparecer...
como fruta doce, crescia no meu peito a melancolia e é como se fosse, qualquer coisa que nunca soube, ou será que sabia?! não sei se fiz mal ou bem só sei que amei, sem pertencer a ninguém...
surgiu o dia em ebulição, aí senti um desejo doce, não era de vinho, nem de pão, mas a alegria obtida de me sentir de novo eu, do véu que envolve a memória trazendo-me o sonho, e de novo os dias da flor, eis-me viva com o peito a arfar, neste encontro com a que de mim se perdeu, e a manhã fica mais rosada e fresca a terra e o céu...é a recordação que sempre me acode. restitui-me um pouco de alegria enquanto a vida é neve ao sol
a lucidez sempre nos interroga... porquê esse vôo até ao obscuro, porquê esse abismo inesperado, essa inquietude que é fogo, esse contar de rugas novas... deixa que te acompanhe a formosura do vento, o correr das fontes azuis, a verdade dos sonhos, despoja tudo o que é dor e deixa-te levar num passo doce, com os olhos duma criança...
sem cura...
por entre a intermitência do caminho,
sento-me a pensar em ti
com carinho,
o vento bate na janela da insónia
a única coisa que não entendo
é este silencioso grito que me vai na alma
esta loucura, este amor frenético
sem cura...
(rabiscos)
há sempre em mim uma terrível interrogação, se o tempo voltasse atrás, como seria a vida que sonhei e não vivi?
parto, como partem as sombras, devagar, o coração levo rasgado pela violência da vida, e os olhos fechados quando por fim a luz se apagar...
Minhas filhas, elas, as flores das minhas janelas, o Sol que me adentra o coração e são da vida a razão.
nasci no seio da natureza e ainda é minha ventura andar dela saudosa, é meu livro de encantamento, minha fonte de inspiração na doçura que exala...