Coleção pessoal de Nanevs
Deixa
Então deixa doer
Essa droga de dor
Que parece se divertir
Deixa aflorar toda a mágoa
De uma estória mal contada
Criada...imaginada
Deixa guardar na memória
O que nunca foi pra ser
Ou tão pouco pra se viver
Deixa que o tempo cure
Essa loucura dilacerante
Que retalha a alma errante
Deixa que a vida atual
Cobre cada loucura
De outras passadas
Deixa doer sem culpas
A dor de quem perdeu
O tempo de te amar
(Nane-25/11/2014)
Fila indiana
Segue a vida sem contestação
Aceitando de cabeça baixa
Do "destino," a decisão
Que melhor (?) foi tomada
Pouco importa as consequências
A vida segue em frente
E o azar é só de quem ficou
E não de quem se foi
Se acabou ou começou
Incógnita sem um x da questão
Tênue filete de dimensão
Feito o crepúsculo entre o dia e a noite
A brisa que sopra a calmaria
Deixa para trás a ventania
Da tempestade atravessada
No cume da alma
Segue a vida sem contestação
Por pura e simples constatação
De que é preciso seguir de mãos dadas
Sem perguntar pra onde ir
(Nane-25/11/2014)
Palavras que jorram
Enche teu peito desse vazio
Que pesa e exacerba
Sem nenhum motivo
Aparente...
Sopra esse ar pesado e quente
Que te sufoca o peito dolorido
Faz de tuas palavras o desabafo
Escrito e silenciado
Jorra tuas lágrimas escondidas
Nas linhas pautadas pela vida
Transforma tuas dores em poesias
E sorria na tua incontida melancolia
Deixa o senhor de todos os destinos
Sanar estragos e desilusões
Guarda teus instantes no coração
Viva sem expectativas
Hoje mais que ontem
O amanhã é efêmero
O ontem é (ou não) presente
E a vida (por enquanto) continua
(Nane-23/11/2014)
Ausência
Escuto em silêncio
A música que toca
E viajo em suas notas
Nas lembranças ficadas
De um tempo...ido
Já não enxergo teus contornos
Tão pouco escuto a tua voz
Teus planos escoando na chuva
Que melancólicamente cai
Refrescando minha mente
E tudo o que dissemos
Ficou naqueles tempos
Em que só nós vivemos
Sem nenhuma testemunha
Só nós...sabemos
Ver teus sonhos desfeitos
Tuas coisas espalhadas
Teu sorriso despido
Tua casa abandonando (os teus sinais)
Te faz ainda mais próxima (de mim)
A música cessou
A luz se apagou
É tarde...o presente se impôs
Você se foi e eu...
Fiquei
(Nane-23/11/2014)
Luzes da ribalta
Sonhos sonhados de olho abertos
Por notívagos olhos
Que teimam em não se fecharem
Por momento algum
Maltratam suas sinapses
Confundem pensamentos
Se perdem na realidade
Vagam pela insanidade
A pergunta que não quer calar
Grita e destrói neurônios
Na tempestade já enfraquecida
Pelo vento cerebral
No oceano revolto
Do côncavo ocular
A tsunami teima em desaguar
Na face encarnecida
O alento sopra feito brisa encarnada
Nos despautérios de um menino
Que teima em fazer sorrir
Quem nada mais pode esperar
Fatal pra morte é a vida
Que insiste em ser vivida
Quando as luzes da ribalta
Já se apagaram...
(Nane-22/11/2014)
Enigma
Não queira decifrar meus rabiscos
Sinta-os apenas
E ele se tornará seu
Não queira sentir em minhas palavras
O que eu senti quando as escrevi
Sinta o que quiser quando as ler
Não queira viver meus escritos
Viva o que eles te transmitem
Sem querer adivinhar
Não queira ser mais do que leitor
Se deixe viajar em meus devaneios
E crie neles os próprios seus
Não tente sentir as minhas dores
E tão pouco viver os meus amores
Juntos, somos um só na poesia
Um poeta só diz ao que veio
Quando seu leitor se identifica
E divide a autoria consigo
Mas toda a magia da sua poesia
Está em não deixar identificar
Se verdade...ou fantasia
(Nane-19\11\2014)
Choro
Choro por mim
E por ti também
Não pelo que fizemos
Mas pelo que não fomos
Choro pelo tempo
Que se não perdemos
Também não ganhamos
Mas deixamos passar
Choro sem lágrimas
No sorriso forçado
Da face maltratada
Por esse mesmo tempo
Choro os desencontros
De um encontro frustrado
Que deixou marcas profundas
No fundo da alma
Choro escondido
Enquanto sorrio
Fingindo ter forças
Pra continuar a viver
Choro pelo que se foi
E não vai mais voltar
Choro sentida
Por não saber chorar
(Nane-17/11/2014)
Os sábios
Sábios os animais
Que nascem e crescem
Grudados em suas mães
O tempo todo que lhes é permitido
Sábias elas (mães)
Que os manda embora
No tempo que a natureza
Sabiamente determina
Sábios os animais
Que pressentem o luto
Choram por seus companheiros
E exaltam a vida (que segue)
Sábios eles
Que procuram a solidão
Quando a hora fatal se aproxima
E não compartilham o sofrimento
Muito sábios eles
Que rendem homenagens
Aos que os precederam
E afagam os que ficaram
Sábios os animais
Que sabem e sentem
Serem seres de passagem
Por esta vida efêmera
Sábios
Sempre sábios
Sem saberem
Os animais
(Nane-15/11/2014)
Agonia
E foi assim
Que chegou ao fim
A agonia do corpo cansado
Tal qual o poeta do pantanal
Minha "Baixinha" criou asas
E foi voar rumo ao horizonte
Livre de todas as dores
De todos os dogmas
Agora é pássaro lírico
Voando entre as estrelas
Observando atenta
E sentindo o frescor
De não mais ser prisioneira
Da tristeza e da dor
Chorar e lamentar faz parte
Do egoísmo que nos invade
Da saudade que aperta o peito
Do vazio que sua presença ainda impõe
Da nossa ignorância por não festejar
Seu retorno a vida real
Ela, sempre tão crente
Se atirou sem nenhum receio
Nos braços do seu criador
E com ele alçou seu voo solo
Deixando a gente órfãos
Do seu carinho costumeiro
Voa Corujinha (apelido de infância)
Vá em busca da liberdade
Mais do que ninguém, você merece
Guerreira eterna em nossos corações
Que embora entristecidos (por hora)
Baterão para sempre numa mesma (sua) sintonia
(Nane- 14/11/2014)
A moça da janela
A moça na janela
De longe observa
Sente saudades
Revê em pensamentos
A sua gente distante
Seu tempo de menina
Vestindo suas bonecas
Infernizando a tia
E se sentindo princesa
Da avó embevecida
A moça na janela
Sorri pra não chorar
Toda vez que ver no mar
A distância que a mantém
Dos entes do outro lado
A menina do Brasil
Daqui um dia partiu
E agora olha pela janela
Da sua própria alma
Seu corpo de mulher
Lá longe ela espera
A hora do reencontro
E deixa escapar uma lágrima
Por quem não vai rever
Mas por certo há de sentir
É o preço a pagar
A moça na janela
Que em outro lugar foi morar
Mas deixou aqui ficar
A menina do Brasil
(Nane-13/11/2014)
O inferno é aqui
O inferno me aguarda
Sou filha de Lucifer
Escuto seu chamado
Enquanto espero a minha hora
Faço das palavras meu destino
E vou arcar com elas
Nas rimas de meus anseios
Me perco em devaneios
Exaltar o criador
Deveria ser meu tema
Mas quando ele me ceifa vidas
Exalo minhas mágoas
Se vai me fazer pagar
Que o faça comigo
Deixa em paz os que me cercam
E o idealizam
A paciência me falta
A sanidade foi embora
Me resta a revolta
E as lamúrias em meus ouvidos
O céu é só figurado
Azul e sem limites
O inferno é aqui
E para onde um dia eu vou
(Nane-13/11/23014)
Me dá a tua mão
E se tua falta eu sinto
Finjo não perceber
O frio na alma congela
A dor que teima em doer
Chorar não me leva a nada
Lamentar tua ausência, tão pouco
Meu amanhã está nublado
Seu brilho escondido sob as nuvens
Estou e sou só
E é melhor que seja assim
Você se foi numa poesia
Que eu não soube escrever
Embora tenha te escrito o tempo inteiro
Você não me soube ler
Ou talvêz tenha preferido
Fingir para não ter que entender
Precisei mais do que nunca de você
Mas não consegui te encontrar
Onde quer que você esteja
Esta poesia foi feita pra você
(Nane-13/11/2014)
Encontro com Deus
Gritei teu nome aos quatros ventos
Se me ouviu...fez ouvido de mercador
Pedi a tua interferência
Mas o silêncio está absoluto
Talvêz eu não saiba pedir
É o meu jeito de falar (contigo)
Olha a sua volta
É justo esses caminhos
Pelos quais passamos
Sem conseguir caminhar
O nexo em tuas leis
Me inebria os pensamentos
Entontece meus sentidos
E neles não consigo ver sentido
E se te faz feliz e adianta
Me ajoelho e imploro
É uma vida bem mais preciosa
Que te rende louvores
Deixa ela ficar
Percebe a sua luta
Pra que ceifar a semente boa
E deixar crescer a erva daninha
A noite está tensa, vou deitar
O amanhã à ti pertence
Um dia a gente vai se encontrar
E vou te perguntar: pra que serve as muriçocas
(Nane-12/11/2014)
Incertas certezas
Quisera eu ser leiga
Na fé que me foge
E por isso, não me conforta
Quisera poder crer cegamente
E ter uma mão forte a segurar a minha
Nos momentos de aflição
Quisera mandar às favas minhas certezas
E me embalar nas promessas vindouras
Do todo poderoso
Quisera enfim, piamente acreditar
Nos milagres sacrossantos
E minhas lágrimas secar
Ceticismo não mora em mim
Mas a fé cega também não
E pago caro por isso
Refugio minhas dores
Nos braços do Altíssimo
Sem contar com os milagres
Espero além daqui
As respostas desencontradas
Dessa vida embaralhada
Que seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu
E dai-nos a sapiência de aceitá-la
(Nane-11/11/2014)
Berlinda
Se é Deus o criador
Não cabe à mim (criatura)
Questionar decisões
Por ele tomadas
Resta-me aceitar
E por vezes até chorar
Quando meu coração não entender
O que ele vai fazer
Blasfemo intimamente
Gritando em meu silêncio
Que além de mim, só ele escuta
A miséria em que me sinto
Mas ele, Deus onipotente
Tudo vê e tudo sabe
Também a tudo perdoa
E há de me entender
Sou polêmica por natureza
Filha do pai que me criou
E se é assim que eu sou
Foi Deus quem deixou
Hoje, na berlinda
Essa vida, dita tão linda
Perturba minha inteligência
E acirra minha arrogância
Te louvam e idolatram
E por prêmio...ajoelham
Questiono e te desafio
E sigo ilesa
Se por mim ou por mais alguém
Não sei...
O fato é que te pergunto
Até quando...Deus
(Nane-10/11/2014)
Sulcos
Por entre as sementes que planto e cuido
Procuro raízes que penso fincar
Mas vem a seca e teima em matar
O fruto que pensei colher
Em meio à plantação
O mato cresce sem distinção
Abafando meus sonhos semeados
Na terra que arei com tanto cuidado
Os sulcos do solo
Se confundem com minhas rugas
Ambos criados sob o sol escaldante
E de péssimas aparências
Sou princípio do mesmo chão
Que aguarda mansamente por mim
E cava sulcos sem distinção
Em mim e no chão
Chão esse que há de me engolir
E para sempre me silenciar
E quem sabe, com sorte, fazer de mim
Adubo de minhas próprias sementes
(Nane-10/11/2014)
O uivo do lobo
Para quem piscam as estrelas
Nas noites enluaradas
Senão para mim
Que vagueio noite adentro
E se tento dormir
O brilho delas, atrapalha
Insistem em ofuscar
Meus sonhos em devaneios
Piscam para quem como eu
Espera nesse lume misterioso
Com um quê de melancolia
Um pouco de poesia
Dizem que esse brilho
Nada mais é
Do que o olhar lacrimejante
De um amor não correspondido
Por isso o lobo solitário
Uiva nas noites enluaradas
Chamando sua amada
Sabendo que ela não responderá
Para quem piscam as estrelas
Senão para mim
Que me deixei seduzir
E me tornei loba....assim
(Nane-08/11/2014)
O autista
Meu olhar vagueia
E incomoda
Me julgam alheio
Não sabem do meu mundo
Onde sou rei
Me acham diferente
E não percebem
O quanto diferem de mim
E são estranhos (pra mim)
Preocupam-se com outras vidas
Falam de outras pessoas
Escondem sentimentos
Ensinam o que não fazem
E mesmo assim...me julgam diferente
Ser normal para eles
É fazer o que fazem
E ordena a sociedade
Ser normal para mim
É fazer o que eu quero
E quando eu quero
Sentem pena de mim
Por me acharem diferente
Mas o que não sabem
É que eu, na minha indiferença
Sinto pena deles todos
(Nane-06/11/2014)
Psiu
Entre bem devagarinho
Não faça barulho
A minha dor adormeceu
Não quero despertá-la
A saudade foi na esquina
Enquanto a alma repousa
O coração serenou
E ouço a chuva que cai
Pise bem de mansinho
Minha noite está tranquila
O amanhã...não sei
Faça silêncio, por favor
Minha dor adormeceu...
(Nane-06/11/2014)
I want to go back there (Eu quero voltar pra lá)
Aqui não é o meu lugar
Deslocada e sem rumo
Tento me encontrar
Mas não consigo me achar
E quem é que pensa em mim
Se eu não penso em ninguém
Quem é que espera por mim
Se de mais ninguém estou a fim
Quem um dia pensou
Já não tem mais tempo
Pensa agora em outro alguém
E de mim, não se lembra mais
Vou em busca do amanhã
Que meu hoje virou ontem
Se aqui não dá pra ser feliz
Vou tentar ser lá
(Nane-06/11/2014)