Coleção pessoal de Nanevs

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⁠PRAGMATISMO

Talvez meu tempo não seja esse
Talvez minha vida não seja aqui
Talvez, nem mesmo eu saiba de mim
Talvez não seja eu, eu mesma
E por isso me perco de mim
Sem saber onde e como chegar
Ou a quem procurar
Ou mesmo onde repousar
Talvez seja esse o meu destino
De andarilho sem estrada
Caminhante de uma mente
Deturpada e aflita
A vida, na verdade pouco importa
Posto que é infinita
Uma vez concedida
Eternamente será mantida
A forma é o que conta
No peso da sua cruz
É o que te fará renunciar
Ou ser forte e continuar
Deus, esse cara pragmático
Cumpre com louvor suas promessas
De ser o pai eterno
Pronto à ensinar
Talvez, só o que valha à pena
São as escrituras
Que se ditadas por ele
Estão tão deturpadas
Talvez meus valores sejam natos
E Deus, um ser em mim caricato
Digno de todas as minhas dúvidas
Diluído em meu...talvez
(Nane - 14/07/20)

⁠SÓ UMA SAUDADE
Choram meus olhos
Vertendo lágrimas compulsivas
Disfarçadas pelas lentes
Embaçadas...
A rotina intensa
Me cobra agilidade e decisão
Enquanto as lembranças
Teimam em voltar
O som da sua voz
Ecoa dentro de mim
Feito uma brisa que sopra
Indo embora...
Tropeço em meus apetrechos
Me dando conta
Do foco exigido à total precisão
Sossega coração
Verbera meu verbo
Silenciado e dolorido
Por lembranças saudosas
De um tempo ido
Guardado em estrofes
Para mais tarde dançarem
Feito bailarinos
Ao som de uma sinfonia/poesia
Agora não é a hora
De lágrimas nem saudades
O foco se faz presente
Retomando a minha mente

(Nane - 26/05/2020)

⁠QUANTAS SAUDADES
E lá se vão três anos
Da sua ausência física
As lembranças que ficaram
Doem, mas também confortam
A sagacidade nas palavras
O seu humor requintado
A ironia nos comentários
A sabedoria no viver
Hilária nas suas cantorias
Dos hinos da sua igreja
Que eu escutava embevecida
Por te saber tão lúcida
Saudades eu tenho das flores
Que sempre enfeitavam os seus jardins
Desde os meus tempos de criança
Que plantavas, mas não colhias
Saudades eu tenho das balas
Que fazias para vender
Quando quase nada havia para comer
Mas você, fazia aparecer
Saudades eu sinto do seu cheiro
Quando me aninhava no teu colo
Num cafuné até o adormecer
Coberta e protegida
Saudades eu sinto do café
Com aroma das manhãs
Em que eu tinha que sair
De encontro ao aprender
Saudades eu sinto de tudo isso
Que deixastes por legado
E hoje, tento repetir
Tudo o que me ensinastes
De você Mãe
Não sinto saudades
Guardo comigo todas as lembranças
E essas sim, fazem doer
(Nane - 28/05/2020)

⁠O INFINITO CONFUSO

Nada do que escrevo
É o bastante para dizer
O que está em mim
Quando se refere à você
Até tento me expressar
Mas palavra alguma
Alcançará a imensidão
Do sentimento em mim contido
De tão contido e imerso
Ele grita e me implode
Devastando por inteiro
Qualquer outro querer
É um infinito confuso
Onde me perco e me acho
Mas que decididamente
Não abro mão
É só meu e de mais ninguém
Nem mesmo seu
Então escrevo
No desejo insano de te ter
É feito um orgasmo
Que explode em delírios
Quando essa imensidão
Aflora em palavras
Vou tentando todo dia
Sabendo não conseguir
Fazendo de um poema a poesia
Que é eternamente te amar...
( 29/05/2020)

⁠ESTRANHO SENTIMENTO
Estranho sentimento
De um vazio tão completo
Invadindo a essência
Destilado no ar
Uma vontade de saber
O que não me é permitido
E no entanto instiga
Mesmo sem poder, o meu querer
Esvazia todas as minhas certezas
Entranhadas e evasivas
Mutilando o objetivo
Ao qual me dispus
Salada revirada
Sem sal ou sem açúcar
Embolorando os neurônios
Desconectados das sinapses
Me pergunto até quando
Vou me deixar levar
Nessa pororoca desgovernada
Que afoga minhas pretensões
Vontade de cuspir todo o ácido
Que vocifera na garganta
Feito plasta que corrói
No deságue do sangue
Mas não resolveria
O estranho sentimento
Nem preencheria o vazio
Destilado no ar
Nada mais resta
Além do aceitar
Que a vida à ser vivida
Tem que continuar
(Nane - 30/05/2020)

DÁ-ME UMA CERVEJA

Dá-me uma cerveja
Que o engasgo na garganta
Desce gelando minhas vísceras
Aplacando meus desencantos

Acenda-me um cigarro
Que a fumaça nebulosa
Disfarça a vermelhidão
Dos olhos embargados

Dá-me teu abraço
E aqueça-me com teus braços
Do frio que corrói mi'alma
Inquilina da solidão

Aperte a minha mão
Já trêmula e sem força
Dedilhando lamentações
Pensando ser poesias

Se nada disso for possível
Deixa que eu persista em devaneios
Da tua presença ao meu lado
Do teu amor, do teu regaço

Dá-me uma cerveja
Acenda-me um cigarro...

DÁ-ME UMA CERVEJA

Dá-me uma cerveja
Que o engasgo na garganta
Desce gelando minhas vísceras
Aplacando meus desencantos

Acenda-me um cigarro
Que a fumaça nebulosa
Disfarça a vermelhidão
Dos olhos embargados

Dá-me teu abraço
E aqueça-me com teus braços
Do frio que corrói mi'alma
Inquilina da solidão

Aperte a minha mão
Já trêmula e sem força
Dedilhando lamentações
Pensando ser poesias

Se nada disso for possível
Deixa que eu persista em devaneios
Da tua presença ao meu lado
Do teu amor, do teu regaço

Dá-me uma cerveja
Acenda-me um cigarro...

RAZÃO DO MEU VIVER

Onde anda você
Razão maior do meu viver
Agora sem mais motivos para continuar
Na caminhada retirante
Feito alma penada e perdida

Ainda sinto o tato de sua mão
Que um dia segurou na minha
E agora, em passos rotos
Sinto o frio do vazio da mão a esmo

Num caminhar perdido, eu sigo
Sem compreender tantos porquês
Frutos de minha imaginação febril
Em doses de uma loucura senil

Onde anda você
Que se fez porto seguro para mim
E no entanto me deixou assim
Sem norte, sem sul, sem rota nenhuma a seguir

Nas noites escuras e frias
Tento me orientar pelas estrelas
Que teimam em se esconder de mim
Deixando explícita minha solidão

Onde anda você
Que já não se lembra de mim
E sequer se preocupa com o meu fim
E sequer se interessa em saber de mim

Razão maior do meu viver
Me apagou do seu viver
Deixou vazia a minha mão
De nada mais faço...questão

SENTIMENTOS DISTORCIDOS



Vim de tão longe
Sem saber o que me esperava
Além do amor
Ao qual me dediquei

Da janela olho
Meu olhar vazio
Onde anda a prole
Que tanta rugas me custou

São tantos contratempos
Minha mãe se despediu
Mas eu não ouvi
E agora tento gritar adeus

Deus
Minha prole não escuta
E eu preciso ir
Antes do amanhecer

Meu olhar turvo não permite
Que eu veja essas coisas
E a cabeça gira sem rotação
Apenas por girar

Um leito feito prisão
Um pássaro ferido
E o longe tão perto
E o perto tão distante

Quem é quem nessa cidade
Mãe e filho, filho e mãe
Distorcidas imagens refletidas
No espelho da dignidade

Lá fora faz frio
É o que eu sinto aqui
Nem sei se estou dentro
Mas calor, só de vergonha

Dia e noite misturados
E eu nunca acerto a hora certa
Lágrimas e soro se misturam
É sal, é sol, é sul, sem norte

A janela é inalcançável
Talvez tenha uma lua lá fora
Ou quem sabe o sol brilhe
Mas não volto de onde vim

Lá longe minha mãe se foi
E eu nem a ouvi
Vou de encontro a ela
Bem mais velha do que era (ela)

A prole se cala
Talvez me abrace na despedida
O soro e a lágrima secaram
E sorrio livre

(Nane-22/08/2015)

POESIA SENTIDA



Adormece em mim
A poesia
Latente e em ebulição
Falando somente à mim

Palavras não ditas
Mas sentidas
Só minhas
E de mais ninguém

Prefácio de vida
Num sono entediante
De uma vida sem graça
A espera da vida além da vida

Ah poeta
Dê asas ao teu dom
E (d)escreva o amor
Sem jamais o viver

Sois feito Moisés
Eleito por Deus
Conduzas teus leitores ao amor
Mas na terra prometida, não entres

Deixa que teus sonhos se refaçam
Em cada nova poesia
E entenda que o azul da cor do mar
Não passa de mera razão para sonhar

(Nane-18/08/2015)

POETA DE LATRINA



Maldita a hora em que me fiz poeta
De esquina
Nas saídas dos bares
Nas madrugadas
Agasalhando no peito
As dores do mundo
Apiedando nas palavras
Da própria insignificância
Por não conseguir sorrir
Das desgraças embriagantes
Num copo interminável de cerveja

Escrevo aos amantes
Palavras adocicadas
Zombando da imbecilidade
De quem nelas acreditam
Sem perceberem que se esvaem
Na mais branda das brisas
Que sopra ao luar
Cúmplice nas enganações
Que todo poeta rabisca
Mais por ego que por convicção
À quem se presta à lê-lo

Então equilibro meus escritos
Entre dores e amores
Sem deixar vazar a verdade
Contida nas entrelinhas
Lidas e não entendidas
Pelos amantes da poesia
Induzidos pelo proxeta
Que lhes escreve sem pudor
Feito um famigerado gigolô
Prostituindo sua vítima
Em troca de seu ego

(Nane-03/07/2015)

TURBILHÃO DE PENSAMENTOS



Zumbidos na cabeça
Turbilhão de pensamentos
Olhos marejados
Coração pulsando forte
Mãos trêmulas e frias...

A sensação do vazio
O nada preenchido
O importante perdido
O sentimento petrificado
A lágrima derramada pela vida

A paz já não faz falta
Os sonhos são pesadelos
A loucura feito um verme
Mantem vivo o corpo
Cuja alma já partiu

Nada faz sentido
Ninguém é importante
O amanhecer é suplício
O anoitecer traz a certeza
De que um dia tudo se acabará

Suicidas vozes clamam
Mas nem isso importa
Azar de quem foi fraco
E agora queima no inferno
Não sou ave. Não tenho pena

A noite está fria
Eu também...
No corpo e na alma
Quando amanhecer
Será só mais (ou menos) um dia

(Nane-002/07/2015)

INTERCESSÃO DE MARIA



Tão lentamente
Devagar...é verdade
Mas saindo
Indo embora

Verdade seja dita
Eu nunca estive em ti
E você tão forte em mim
Agora, lentamente se vai

Uma perda
E toda perda dói
Mas você, enfim se vai
Saindo, devagar, de mim

Aplacou a ansiedade
Só por, enfim eu aceitar
Que você está indo embora
E isso é preciso

Já não te procuro mais
E mesmo ainda tendo a primazia
Do primeiro e o último dos meus pensamentos
Já não o domina o tempo inteiro

Nas contas contadas nos dedos
Insisto no pedido da reza
E ela, cansada de tanto me escutar
Parece, resolveu me atender

Não é ladainha
É teimosia
E o melhor pra mim
É te deixar sair de mim

Bem devagar
Mas firme em meu propósito
Vou me despedindo de você
Transformando em carinho o que ficou

(Nane-29/26/2015)

*Arte de: Cimara Cláudia

CORAÇÃO PENSANTE



Dê ao seu coração
Para que ele tenha sobrevida
Um cérebro
Deixe que ele pense
E não haja por impulso
Feito menino mimado
Querendo o que não pode

Dê ao seu coração
A real dimensão
Do que lhe é permitido
E não o deixe decidir
Sem que esteja atrelado
À quem de fato sabe
O que é o certo e errado

Dê ao seu coração
A medida exata da sua liberdade
De escolher a quem amar
Pesando os prós e os contras
Das consequências vindouras
Por decisões tomadas
Sem o equilíbrio necessário

Dê ao seu coração
Se preciso for
A ordem de só amar
Quem também te ama
Para que ele não pereça
E tão pouco refugue
Num pulsar arrítmico

Dê ao seu coração
O diploma de formando
Na faculdade da vida
Que ensina que o amor
Nada mais é do que o costume
De ter alguém ao lado seu

Dê ao seu coração
A verdade, ainda que dolorida
De que o amor é uma ilusão
Momentos de paixão
E só o que conta é a verdade
Da paz criada na sinceridade
De um amor totalmente programado

(Nane-18/06/2015)

AMOR PERFEITO



Quero nosso amor assim
Exposto e esparramado
Gritado livremente
Aos quatro ventos

Quero mostrar ao mundo
O maior dos meus sentimentos
Sem ter que esconder
Teu nome de ninguém

Ah...e me pedes segredo
Não permites fotos
Torna-te invisível
Quimera minha

Foi só brincadeira
Da tua parte
Amor escondido
Desejos incontidos

Num mundo só nosso
Sem nenhum vestígio
Que por causa do meu querer
Desmoronou, acabou

Inventamos demais
Amamos demais
Cobrei demais
E você brincou demais

Não quero mais nada
Que não seja concreto
Firmado e cimentado
Na calmaria segura

(Nane - 17/06/20145)

MUMIFICAÇÃO



Cerraram-se os olhos
Que outrora fascinaram-me
Calou-se a voz
Que palavras de amor
Um dia me falou

Então te olho
Sem conseguir ver
Nenhuma expressão
Frieza total
Sentimentos mumificados

Setenta eram os dias
Que os egípcios levavam
Setenta vezes sete
Vidas encarnadas
Talvez leve eu

A amargura tirânica
Em doses balanceadas
Consumindo e transformando
A alegria de viver
Numa tsuname do Nilo

Mumifiquei meus sentimentos
E desenhei seu rosto
No sarcófago faraônico
Largado e esquecido
Numa pirâmide perdida

Já não há mais sofrimento
Nem mesmo há curiosidade
Só a frieza no semblante eternizado
E a amargura nas palavras ditadas
Pela múmia da desventura

(Nane - 17/06/2015)

*Arte: Lucia Momia Lucia

SEGREDO SEPULTADO






Quem é você
Que arrebata meus sonhos
Ditando meus desejos
Jogando fora a adrenalina
Sangrando as glândulas surreais

Quem é você
Aflorando meu drama
Tragicômico e desmedido
Num palco sem plateia
De uma peça shakespeariana

Quem é você
Que num silêncio devastador
Estoura meus tímpanos sem pudor
Com palavras em flechas certeiras
No mortal ato do desengano

Quem é você
Que exerce esse poder maligno
Mesmo sem saber
Enterrando fantasias e aspirações
Sem ao menos sentir culpa

Quem é você
Que insiste em não perceber
O vazio do meu mundo
Sem cores nem anseios
Pela falta de você

Quem é você
Que escarna meu cadáver
Sob os devidos sete palmos
Num sorriso de alívio
Pelo segredo sepultado


(Nane-16/06/205)

APENAS UM LEGADO



Queria te deixar
De legado o meu amor
Que se mal me fez
Me mostrou o paraíso

Tal qual o príncipe hebreu
Não me foi dado o direito
Da terra que emana mel
Por todos os meus defeitos

Mas ainda assim
Queria te deixar
De legado o meu amor
Que é eterno e sem fim

Só uma coisa, mais que o meu amor
Eu queria te deixar
A certeza do desejo
Da felicidade plena

Meus olhos já não veem
Mas o coração ainda sente
E se eu soubesse rezar
Pediria para Deus te abençoar

Queria te deixar
De legado o meu amor
E agradecer o infinito
Nos momentos em que tive
Um pouquinho do teu amor

(Nane-08/06/2015)

EFÊMERA EXISTÊNCIA



E essa estranha sensação
De que você é só uma lembrança
Uma miragem, imaginação
E na realidade, nunca existiu

É tão grande a saudade
Que parece mais o oásis
Em meio ao deserto escaldante
Intocável, impossível

O som da tua voz
Ainda tão intacta em meus ouvidos
Talvez nada mais seja
Do que o vento sibilando

E toda a nossa história
Gravada no passado
Já parece o conto de um livro
Fechado e terminado

O toque das tuas mãos
Já não sentidas pelas minhas
Restando só um calor perdido
E tão pouco aproveitado

A vida é tão sem sentido
Que só o que conta é o próprio sentido
Que a gente quase nunca percebe
O tempo certo de sentir

Então chega o grand finale
E o concreto se desfaz
Subjetivamente fazendo desabrochar
O efêmero (in)existente

(Nane-03/06/2015)

ONDE ESTÃO OS MEUS FANTASMAS



Onde estão as vozes
Que se calaram
E já não me questionam
Nos meus lapsos de memória
Dos devaneios que me faziam
Escrever poesias

E as sombras que dançavam
Alheias as minhas vontades
Pelas madrugadas frias
E que de alguma forma
Me faziam companhia

E os delírios nos desejos
Que eu gostava de cultivar
Para que me sentisse ainda viva
Mesmo que fossem só quimeras
Impossíveis de se realizarem

E a capacidade de a tudo isso transformar
Em palavras rimadas
Dando a falsa impressão
De que eu era poeta
No vale da minha imaginação

Por onde ando eu
Que vago entre a ilusão
E a dura realidade
De um despertar sem expectativas
De nada ver mudar

E essas linhas que se embaraçam
Formando teias que enclausuram
E sufocam minha mente
Num emaranhado latente
Sem palavras vigentes

Os meus fantasmas se foram
Me deixando sozinha
Na realidade fria e sem opção
De sonhos ou medos
Ou nenhuma outra sensação

Calaram-se as vozes
Sumiram as miragens
Foram-se as vontades
Restou um branco na escuridão
Do meu caminhar

(Nane - 01/06/2015)