Coleção pessoal de nanacae
Oração I
.
Que cada pensamento seja
Passado
Não presente
Transcrito
Para papel
Que a lentidão abandone
E a velocidade me acompanhe
Ajudando essas mãos
A dominar minha mente
Antes que as palavras me confundam
Ou eu
Tente enganá-las
Criando fáceis rimas
Fracos provérbios
Amém.
.
Você tenta, vai, força, mancha, de tinta tudo que aparece pela frente, mas aquilo sai ilegível, pouco decifrável e tanto esforço, mão pintada, roupa suja, nunca lavada, sempre marcada pelos tons do preto? Azul? Para no fim, ninguém entender, compreender como se deve realmente te ler.
E são também os ódios, fracassos, seqüelas, não invisíveis, mas transparentes, não entendemos como se dá a sua forma, não a vemos, mas sentimos seus traços que gritam, nos traçam por inteiro, com sua presença, e confissões.
Dos dentes, sem mordaças, firmes, fortes, retilíneos, não deixando sair nada, fazendo da boca prisão.
Ah, mas não me venhas com idéias minimalistas de paisagismos, ou jardins. Não serei colocada em canteiros, transportada de cidades em cidades, em caminhões abafados, presa em um falso pote que na verdade não passa de embalagem velha, de sorvete napolitano, que por muitos meses abrigava eram fedidos feijões, esquecidos, no fundo do seu congelador. Menos garota, não force a situação tanto assim.
Agora me parecem tão cômicas suas mentiras sobre uma tal fertilidade precisa, oferecida claro por você, lógico só para mim, eu uma planta pequenina que sem auxílio morreria á míngua , aprenderia a ser grande apenas sendo sua aprendiz.
Mesmo no escuro
De olhos fechados
Consegue-se enxergar
Vê amor
Já não é necessário
Como antigamente
Esfregar as mãos contra o rosto
Tentar nitidez
Forçar a visão
Tudo se apresenta bem claro agora
Entre espectros
Respirações lentas
Luzes baixas
Paredes beges
Desfoques
Entre sonhos
Lençóis
Mordidas fracas
Beijos
Mesmo que modernos
Coesão
Muito contato
Não longínquo
Mas próximo
Intra
De sentimentos
Palavras
Sensações
Sei que quando se afasta
Troca as roupas
Sobe degraus
Pula
De olhos abertos
Sem rede
Finge voar
Enquanto na verdade corre
No ar
O risco do trapezista
Não me venha com falsa metassíncrise cerebral
Equilibrar agora rapaz?
Justo a mente?
As idéias?
Pegue o guarda chuva
Que segura na mão direita
E o faça de estranho-chapéu
Da corda onde finge pisar
Não se desatine
A enrole logo no pescoço
Faça dela teu punhal
Assim talvez exista um maior sentido
Menos palco
Picadeiro
Palhaços consternados
Observando sua queda
Transbordando sorrisos de gratidão
Ponha-se em teu lugar!
Seu falso equilibrista...
Nuvens Me Frustram
.
Hoje a observei se afastar
Lentamente
De mim
Parecia maior
Melhor
Do que eu
Não fez questão de correr
Ou se esconder
Foi devagar
Sem pressa
Branda
E a cada movimento
Percebia suas mudanças
Quando a vi de longe
Já não era a mesma
Quase não a reconheci
Planejo displicentemente
Em breve
A mudança
Para o cômodo
Cinza afável
De paredes aguadas
Bem calmas
Trancafiadas por uma porta
De ferro
Frio
Onde vejo colado o seguinte adesivo:
Sorria. você não está fumando.
Poderia ser uma questão de estilo
Necessidade para atingir o ápice da escrita
Entender a atmosfera intelectual
Entretanto cigarros e sorrisos
Não parecem se equilibrar na mesma boca
Pelo menos não na minha
Ser fumante deve-se a uma questão de humor
Você sabe que todas as pessoas possuem defeitos, ou pelo menos as que você se envolveu sempre tinham algum pra te aporrinhar.
Era o jeito ridículo de pentear o cabelo, os excessos de gírias, ou a total falta delas deixando o ambiente com um grande peso formal. Era o perfume muito doce ou a personalidade amarga demais. Os pais que te odiavam, ou aqueles que não calavam a boca um minuto sequer.
Então você para, olha, analisa, por que sim você ainda não perdeu essa mania horrorosa de analisar. E pela única vez, em uma única pessoa, você não vê nada.