Coleção pessoal de naenorocha
POR INSTINTO
Meu coração vai vertendo sangue
Se desmanchando aos farelos
E assim mesmo ainda leva
Uma artilharia de pedras
Que insistem no instinto
Jeito de continuar doendo
Sua munição resiste ao tempo
De plena seca, que se ultrapassa,
Passa rolando, de tocaia
Dos ermos lastros das carcaças
O vento se me insinua em vez:
“Prossegue firme sempre à frente”.
Abandone à claridade da direita
Tome o rumo de Che Guevara
Se embriague com essa marcha
Que parte aguerrida da mecânica dura
Alveje os dizeres: assim seja.
Mas com quem me confundem neste mundo
Para neutralizar a tradição?
Acheguem crias da esperança
Conduzam-me na padiola
Para o recanto da paz que busco
Revelem-me a luz do amor
Desfaçam seus cabelos amarrados
Sobre mim, caso contrário
Não verão em mim nenhuma culpa
Se derem cabo de mim mais cedo.
SONHEI
Te puxo pelo coração
E encosto a tua boca
No meu regaço, beijo
Os teus cabelos de gosto
Da pessoa que eu amo inteira.
Apago da tua visão
O teu batom carmim
E te verei campina
Verde em toda direção
Entre os montes cimo
Dos teus seios.
Eu sorvo a tua pele inteira
Toda, tudo tão inteiro
E tudo será como eu quero
Como um beijar primeiro.
E onde eu te tocacar
Será como Midas
Mas não será o duro ouro
Te tornarás minha comida
Te elevarei ao poço
Da minha vida
Rainha por um tempo bom
E eu terei caído.
Amor, amor, amor
Te chamarei, querida
Me sugarás teu beija-flor
Todo equilíbrio
Uma canção dos ditos
De Moraes Vinícius
E musicarei os versos
De Neruda, em vida.
O TEMPO DE AMAR
O tempo é próprio dos que amam profundamente,
Olhos e nós são espalhados pelo vento.
Chove muito e o tempo é bom para os que plantam.
O tempo assim, arremete o amor a outros tempos
Em que as tardes eram de gemidos e caras sorridentes.
Vai o dia e fica o tempo propício
Para os que têm no amor um vício.
Para os que vêem nos leitos precipícios.
E cai à toa, a loa é boa, sulcaram a terra
Erraram o ventre, a força da mente materializou
O amor que se quer, o amor que vier.
O tempo de hoje é propício à jogatina
Alguém olha nos olhos e se declina,
Até à boca, que se molha nas verdades.
Que amar é bom, que todo mundo sabe,
Que amar é tom de céu todo azulado;
COMO EU TE AMO
De todas as maneiras eu te amo,
Te amo com os meus olhos
Com o meu olfato,
Te amo com os meus dedos
Quando te toco, te amo tocando,
Te amo distante ensaiando um gesto,
Um beijo bom.
Te amor por tua boca e pela minha,
Te amo pelo teu encanto, quando
Sempre me encantas, e não me canso
Te amo de olhar, e fico horas te olhando,
Quando és distante, recorro às tantas imagens tuas
Que ficaram presas pelo meu pensamento,
Te amo pensando, e em ti penso sempre.
Te amo sempre e sempre, é fatal,
Te amarei.
Te amo fraseando ao teu ouvido
Confissões, promessas que nunca vou viver
Sem ti. Morrer é mais provável,
E é esperado que eu nem te fale,
Se falares um dia que nada mais sentes,
Nem por mim, nem por meu amor.
Aí estarás pecando, pecadora,
Que nega o que viu, e sabe ser verdade.
Mas que Deus nos livre, mais a mim,
De tal passagem. A vida é uma passagem
E contigo ela toda eu quero passar.
A ALTURA DO MEU AMOR
Não diga do meu amor uma possessão
Nem o mito que eu mesmo não amo
Que de respeito e temores vãos
Não existe em mim essa comoção.
Há o respeito, o medo ao mito
Há a chegada à errada conclusão
Mas se não for amor, não sei porque me explico
Porque este mimo, esta imensidão.
Linda verdade que pode ser dita
E prazeroso assim o meu amor todo é
Não invisível, não anda escondida.
Ele é o mimo, um vagalume no escuro
Depois da chuva do que era duro
Depois da reza do terço o Bendito.
NADA
O nada é a visão da vista oculta
É segredo que não quer emitir a boca
Se curvam diante à altura
Que não se vê mais que se escuta.
É o preso do começo a que não vá
Às estações distantes antes e depois do nó
A que se ata e já a vida está
Por desespero querendo o melhor.
Não há quem nada ver e se põe a falar
Nem tem boca audaciosa que se puna
Por não saber do se trata
Os dilemas que a si propunha.
Do nada se edifica o tudo
E o tudo nada por orifícios fundos
Que por nada começa ainda mudo
Que quando fala já se está no mundo.
ODIGETORP
Não falo do meu amor a ninguém
Existe em mim o medo
Que alguém o reconheça
E desenhe
Seu retrato falado
E aí passe a incomodá-lo.
Mas não o enxergam
Os que o buscam
Trancafiado vive o meu amor
Numa cela semi-aberta
E quando se chega
À hora boa e certa
O meu amor
Permanece só comigo.
Pela melodia, pelo cantar
Eu reconheço o meu amor
Por que é assim que ele me fala.
Quero sem que ninguém saiba
A ser desconhecido, eu
Passar imperceptível
Completar minha vida
De não buscar mais nada.
A ambição faz dos homens
Papéis alçados, pelo vento.
A todos aqueles que ter
É não conseguir conjugar
O que tinha minutos atraz
Aqueles que a felicidade
É a paralização dos movimentos da terra
E estão sempre a espera
E tudo o que vier é dote.
PARA O BEM DOS OUTROS
Eu gosto de brincar
Com os corações das pessoas
Inclusive com o meu.
Penso que assim
Os animam para o resto da vida.
Gosto de me desencontrar
Das pessoas
Que marcaram compromisso comigo
Penso que assim
Eles possam
Tirar conclusões sobre a vida
Penando a sós.
Gosto de ser débil
Diante das pessoas
Penso que agindo assim
Elas se achem mais interessantes que eu
E não furtem seus tempos
Querendo montarem
Nas costas dos outros.
"Quando somos crianças vemos as coisas, os espeços por onde pisamos imensos lugares. Quando adultos a gente vê cada vez menos e as coisas vão ficando menores e ruins".
SIMPLES
Deus não é egoísta
Este sentimento é visto
Ele fez quase tudo bonito
Algumas coisas esquisitas
E para tudo Ele legou um sítio
Lembrou a todos os esquecidos
Depois que já havia partido
E ordenou que as vistas
Fossem todas frontais as divisas
Para que não se sentisse
Sem a nossa dispensada companhia.
De tudo Deus nos serviu
De corpo caminho e vida
De amor que se comprimiu
De suas expostas feridas.
Deus não quer para Si
O que criou para os filhos
E nestes olhares aflitos
Nessas promessas benditas
Deus foi morar no infinito.
COM RAZÃO
Tem uma razão para esta minha tristeza.
O meu amor não tem cumprido com sua palavra
De todas as manhãs me acordar
Dando-me beijos
Dizendo que me ama
Abrindo as cortinas
Falando de um dia lindo lá fora.
Tem coerência esta minha saudade
O meu amor anda viajando
Pelo mundo andando
Não sei o que, procurando
Algo que a deixe entretida
E eu esqueça o olhar severo da vida
O meu amor sabe de mim, tanto
Que não lhe causa espanto
Antes causa ciúme
Porque é pela vida
Que derramo meu pranto.
Tem cabimento
Toda esta ausência
Eu sou um que está longe de casa
Fora do ninho
Sem ver meu amor
Sem carícias do abandono
Sem o meu amor amar.
CHORO DA ESTRELA
A primeira estrela que eu vi esta manhã
Estava chorando.
E por sua dor impregnada em mim
Declinei o meu rosto e chorei também
E eu só vim perceber
Porque pensei, chover
E dissimulei: chover do nada
Nenhuma nuvem
Foi quando a vi soluçando.
Os pingos de suas lágrimas
Faziam esta chuva
De gotas contadas
Mas que o chão todo molhava.
Os olhos de uma estrela
Não são como os nossos
Que sequer dão para lavar o rosto
Elas lavam a vida inteira
Elas comovem o mundo inteiro
E assim todos choram.
Tomara seja a solidão do tempo
Porque todas as outras estão imersas
No escuro, um domínio protetor.
-Não chore estrela
Não chore
A companhia dos homens não te basta.
Não te redime com a comoção
Pelo teu infortúnio?
Abre a tuas visão
Numa manhã venturosa
Acompanhada de todas as noites
O lindo estrelar.
DECLARO AMAR-TE
Por mim tudo permanecerá assim
Até que se torne alguma coisa
Que ninguém reconheça
O meu amor sentido por ti.
Porque tudo o que te dou é sempre isto
Incansáveis e abusivas declarações de amor.
Vejo na tua ausência
A distância do sol
Te amo porque tu em mim
Responde por ti.
Na minha calada tortura
Que a ti provoco
Torno-me incansável
Feito um cantador.
Feito o mundo
Que não mais nos surpreende
Qua traz o vento cheio de orações
De arrependimento,
De necessidade, prantos
Das calamidades do amor assim.
Porque encostei minha boca na boca da noite
Horas em que estais esquecida
E assim meu amor inoportuno
Silente, só o coração a ouvir
E minhas entranhas a se contraírem
Quando não sou misterioso.
E termino por falar que mais te amo
Repetidas vezes ao dia.
ROMÂNTICOS
Houve um tempo em que os poetas,
Ardiam de amor.
Catavam silenciosos, rimas,
Deliravam em febre e iam solitários,
Tudo em nome de qualquer amor.
Alguns escreviam deitados, e tomavam chá
De hora em hora, enquanto a amada chora,
Por desespero, por não amar,
Por não deixar-se amar.
A repulsiva sorte do pobre, a morte,
Ironicamente os inspiravam a falar de sorte.
Houve um tempo, tempo de delírios,
Dos moços, das tabernas infiltradas,
Das chuvas em mormaços,
De uma dor devastadora, que doía,
Uma dor que não suplantava
As mágoas do poeta em não ser amado.
Será que estar por vir esse mandamento,
Em que a poesia pede esse andamento,
Em vez de externar sua beleza, pureza,
Fica nas tranqueiras, no mal pensamento,
Viver só com a morte ao lado,
Morrer com a amada distante
Com a cama repleta de papéis cruzados,
De obras rimadas, de um corpo finado.
naenorocha
" Estou com saudade e toda tarde choro lembrando rio, o por do sol. Minha verdade é a que tu sabes, eu não consigo viver só".
" Amor quando eu saí o cais deu prum deserto, aí eu fiquei tão triste e certo: Que o amor é coisa dolorosa, qua a lágrima fria é saborosa"
NAENO E O VENTO
Pelo mundo inteiro acho que andei.
Aos anjos tristonhos perguntei
A todos arrenegados indaguei
Queria saber o que é o amor.
E ninguém soube me falar
Aí pensei desistir.....
Tamanho e cor eu preteri.
Concluí da dor que se faz sentir
Do amor não se fala
Vestígios de sua essência além
E assim como se já consciente
Do amor não sabe,
Além de misteriosos sinais.
O amor é o zelo,
É a proteção dos espinhos
É o vento quando chega
Abrindo as vagens
Tempo das sementes cairem
E se dispersam para qualquer lugar.