Coleção pessoal de naenorocha
ZELO
Tenho tanto zelo pelo amor
Que não o recomendo a qualquer um.
Só aos íntimos puros, aqueles
Cujos corações não só cabem mais amor.
Tenho a vida toda para negar-te
A superfície de salvamento,
Tu que impassível
Valorizas não o amor a ninguém
Porque gritas por um nome
Que não é dos teus referidos?
O amor adoça a boca antes de tocá-la
Porque negar esta cobiça que possuis
Á boca de todos o rigoroso gosto
Suas lembranças detendo a contar-te.
Porque esse riso de incredulidade
Se todos somos algo achado desse amor
Desprezando por ti, por saber amá-lo.
Nada é tão diferente e bom,
Do que provarmos os beijos do amor
Quando este nos quer.
Eu tenho amor pelo meu amor
Eu não o separo assim
Fora ou distante em mim.
A MOÇA E A RELVA
A moça canta e sua tristeza enfeia
Preenche o momento e os arrabaldes
De sua candura inebriada
E ausenta-se da forma como estava
Apanhando uma cesta de rosas
E o tempo de sua alegria
É o mesmo tempo das rosas.
Um andamento que não se prepara
E anda sequentemente por todas as estações.
Sabe a linda moça que do seu retorno
Das nuvens onde se alojou.
Lá reconheceram a sua voz
E as músicas que cantava.
Por ser repetitivo o tempo
Contado à maneira como se quer
A moça linda dá-lhe o andamento
De quando volta para a casa
Atestada de flores, no movimento
Diferente quando emergiu a altura de cima
O céu e cada estrela que lhe saudaram.
Névoa rara, rogação de paz
Concórdia no seu amor andarilho
Que todos os dias vai às campinas
Nos tarjes quase sempre iguais
Que não é porque é pobre, não tem
É que lhe caem muito bem
Lhe embelezando mais
Os seus vestidos dos varais.
CONFESSO
Tornar-me-ei em outra pessoa
Em tudo igual a quem já sou
Mas é por apego a isto que não tive,
E aversão que sei é de mim que sou, vou
Experimentar os mesmos frios
De todas as madrugadas passadas
E os meus sóis me solidificarão nas estradas
Por onde já passei disperso
No mesmo passo sem um amor.
E se acaso algo eu queira mudar
Só acertarei fazer-me, ser como agora
A epiderme indolente, e pelos meus olhos
Destilarei espirros e chamas de nuvens
Mirando o mais distante horizonte.
São vermelhos os meus indutores
E a minha saudade vinculada a ti
Foi chapiscada de um verde, engano
Uma cor que não olhei e não sei o nome.
Quando Deus dá, dá o começo
Como uma aranha que ata o ponto
Inicial de sua teia tenebrosa
Da forma dita, existe esse ponto
Pelo qual nos adolescemos, nós.
E seus começos, no nosso choro inicial
E aí já paramos a ver o lenço
E contar amarguras e dores, como foi.
Este não é o amor que penso
Talvez me agradem os audaciosos, sinceros
Coisas novas começadas comigo, em mim.
VISÃO
Não passa um dia a cantilena dos versos.
E todas as flores do mundo passam de mãos
O valor do amor e do seu verso
Acompanham-nos até o declive da finura clara.
Embriagados de amor lá do futuro, o medo
Que aplaca as estruturas
Dos coliseus, acaso de outrora.
Como é suscetível o amor
Se há a timidez por anseio de agora
As estações da escada até o nevoento
Vão mudando de tamanho e cores.
Quando se faz do coração um lindo invento
Com a demonstração de sentimentos bons.
A matinal procura, escurece e finda.
E o prazer pelo amor retoma o seu brilho
Conluiado com o que não se tinha falado
Mas que aparece como uma paz
E tudo fixo no movimento das retinas.
CANTIGA DE GALO
Ê, vida, eu ainda gosto muito de ti.
Tanto e mais que de mim, que sou
Remendos sem necessidades
Porque com a mesma roupa
Que me destes eu vou.
Não minto a ti quando digo: amo
Mas não quero repetir eternizado
E passar o tempo pensando em ti.
Estes pensamentos em, só, em mim
Por que a qualquer direção
Eu me ocupo de ti, roçando
As tuas mãos, esclarecidas
Esquecido de ti nos afazeres.
Eu sou eu porque és vida.
Por ti caminho e corto desvios
Nas estradas de ainda
Das quais nada conheço
Que penso carregado
Como estará a vinda
Se algum passo parti
Ou se outros deixei plainados.
Vida, vida, me prendestes um dia
Por um cordão de em mim
Atado, tive dias assim
Conduzido, puxado por ti
E nos meus movimentos
Nos que penso verdadeiro
E nos que bobeei quando podia te alcançar.
Fostes tu vida, com tua didática
E ainda não queres ser
Uma chispa maravilhosa.
SUBIDA
Acumulado o bem da terra
Onde fics o depósito
Que me arranjáo
Os admirados por ti.
Separado o bom do triste
Quais as posições que que devo orientar
A frente do sol
Um bom lugar para os primeiros
Ou para os derradeiros?
Ouvi de minha mãs
E do sofrimento do Próprio Cristo
que os últimos seriam
Um dia os primeiros.
Mas qual a frente que dá para a frente.
E qual os enfileirados
Que devem esparar o suspenso caminho
Acalmar-se no chão
E as plantas furarem seus lugares
Como se o mundo todo naascesse de novo
São esses os que estão guardando
Os limites do meio.
Os mistérios dos homens
Quando nos se põe a realidade de fazer?
Que subida sinuosa e longe
Havemos de subir nos ombros, nos galhos
Que só pelos pés, porque não temos
As azas dos anjos
Com nosso adereço pesado demais.
Não trago mágoas e não levarei restos de nada.
UM BEIJO
Amor, quanto de todas as estradas
Eu terei de estender-me
Por meu amor, pelo teu beijo?
Sou capaz dos sofrimentos
Pela quentura dos teus lábios
Talvez já não contarei como um beijo
E sinda podes dizer, não terás o meu
E não dividirás o lugar comigo
Quanto eu teria de mostrar
Que inocentemente não te dei
E o que acertamos
Era que percorria um caminho
Dentro do quintal
As se pareciam todas com todo galho
Mas mesmo ouvindo a minha presença
Chamar por teu nome
Na umidade do matagal de rosas.
Amor, descobre-te de mim
Esconde-me de ti.
Alguma coisa, qualquer sinal
É talvez, o aceitável para eu te achar
Seja o tanto que tenho
Para sorver um beijo teu.
TE AGUARDO NO LIMITE
Quando tuas mãos cingirem as minhas
Assim tão densamente
Há a penúria de um beijo entre nós
Da alma de anjos por nossas frentes.
Enquanto os meus jeitos
Circundarem os teus dedos
Fazemos o aceno de um arrebatado com o mundo
Alguém que não vê distorções em tudo o que faz
Alguém que se banha de suas próprias lágriamas
E que refreia os seus soluços, e por começo
Acaba por enxergar o perigo que provém do mundo.
Tido o experimento de algo igualmente
Do amor que se exila
Da cominação do mundo
E impõe-se ao infortúnio
De nunca mais chorar, nunca culpar o mundo
O mundo que dirão, foram eles que fizeram.
Mas o momento não é de se discorrer isso
Algo que seria pra nós uma contravenção
Nos desobrigar-se e meus dedos permanecerem acesos
Na falta de tua mão que me guia.
Quando estou nesta timidez
A vida ou o abraço, do, amor um traço
Eu serei recaído e fingido, amor
Que não me amas, com planos para outras ceifas boas
Que o amor deve regressar
Se revelar diante de nós
Num repentino chamejar das centelha fogo
Saindo de dentro de nós.
SONHOS
Sonhos matinais sonhos de cristais
Límpidas águas, sugerem contornar seus rios
E nesta inclusão até o azul se traz
Projetado em nossos olhos fitos
E metemos a cara em suas janelas,vistas
Para o vento que lança essas visões do céu
O amor do significado aberto, distas
E não comoves as nuvens que vão ao léu.
Sonhos de amores revestidos, flores
Dizem pra si mesmo quando quieta
E todo o jardim que semeia amores
Deixando um caminho de pesar a regra
Sonhos de amores, completa saudade
Acolchoada bruma de manhãs agora
Já o tempo traz nova, a claridade
Só o inconsciente num surto, canora
O mesmo efeito das tintas do céu
A lavoura verde filha da luz da aurora
Que o oculto lado não te dá brandura, os ramos de véu
VIDA
Vida, é um risco contempla-la
Quando se mostra boa e harmoniosa
Não é bom achegar-se dela e tocá-la
Nos seus trages de furta cor e curiosa
E eu falo assim por um desmando
Não me permitiram citá-la
Mas apenas por eu ter uma já distando
Nem por isso é bom beijá-la
E ela em tudo me atrai como sinais
Tão próprios dela chegando na dispersão
Ausência ruim e nos abala muito mais
Saber que somos nós que temos coração.
Ah, como me inebria e me cativa
E é, por sua graça muito mais caprichada
Quando ela passa bonita, altiva
E já não temos mais como chegá-la.
Ela é minha parece tão desordeira
Indiferente, incomunicável, nata
Que é desgosto afirma-la passageira
Por ser um grande mistério camuflada.
Guarda-te porque num dia
Em que passes no caminho lentamente
Já estais velha e a tua beleza que ardia
Sejas no fim de passos tão lentamente.
EM TUDO ÉS
É necessário que a saudade sobreviva por muito tempo
Porque assim eu te projeto em qualquer branco
Que a me inventar redobro os cuidados do meu amor.
Qualifica-me a ausência a te pensar pelo tempo
Dá-me honra e alegria o teu amor sucumbido em mim
E não me resta outro pensamento que não seja saudade.
Já falei de saudade, com esta, três vezes
E em todas ponho-te dentro
Te imagino na figura que na lonjura dos meus olhos
Construo as tuas diferenças e valorizo
E por elas me arrebatei primeiro
Visões que tenho pensado como os dias de manhãs
No tanto que amo as tuas partes comuns
Como os teus olhos, que são os mais bonitos
Teus cabelos, que são mais macios e cheirosos
Tuas pernas, mais lisas de uma única cor
Tua boca, mais generosa e mais gostosa.
SONHO
Não, nem dormindo, quando abro as pernas
Sinto a liberdade que cubram meus dias
De amar a quem colherá os meus prantos
... A dedicada que prefere a mim à vida.
Nem sonhando tenho as carícias do sol.
E o sonho é tempo calculado como vida
Porque neles nos aventuramos e somos
Débeis, cobardes, ardilosos e clarividentes.
Não, nem dormindo eu sonho mais
Tudo fica tal e qual o real como um pesadelo.
A ausência fortifica o sonho
E o sonho debilita-se, e não há remédios
Que diretamente, toque no sistema nervoso central
A atacar a dor nociva canibalesca.
Sonhando estamos dormindo sem cuidados
E nos tornamos fáceis como a presa solta.
E quando sonhamos, somos nós
A presa, o predador, e nós por piedade.
Nem num sonho extenso a vida é compassiva
E avisa: Já que veio, tome arreio
E se constrange além de nós o sono de liberdade.
E se completa de medo. E abrimos os olhos.
VULTO
Eu queria ser alguém da história
Um vulto entre tantos outros destruídos
Com os meus sinais de glórias e onipresenças.
Captar todo momento num tempo exíguo
Queria minha vida escrita nos livros
Queria ser falado, discutido e diminuido dos meus feitos
Despertar em cada leitor a me imporem novos combates
Tendo já conquistado praças, albergues, cidades, continentes.
Disso tudo poderiam esquecerem-se os críticos de minha vida
Queria ser da multidão que glorificou Jesus Cristo
E ser cético, quanto a contar as verdades mais fincadas.
Me disporia da vida vivida em tempo real
Pra ser esse menestrel que carrega o seu piano
Que de mim e de todos, a minha vida não duraria
Um capítulo dedicado aos fanfarrões e lunáticos.
Que tudo se leria a caminho do ônibus
E que, por sua dureza apenas um traço me justificava
E entederia o leitor algo que poderia ser, ou não.
Um personagem menos importante
E seria assim por minha vida toda.
Destilada nos corredores das escolas
Ante o olhar piedoso ou indignado
Do faltoso aluno e do professor apressado
E minha vida era vivida assim, rápida como um cometa
Sem durar o tempo cruel de se viver cada dia
Cada mês e cada ano
Eu não me sentiria um malogrado
Se me assentassem um ítem de um formulário
A ser corrigido, vivido e passado a limpo.
DILIGÊNCIA
Vou sair, não diga a hora gritantemente
Que a hora já passa do tempo.
Que me preparo sem litígio e penses
O que faço não é fuga nem tormento.
Quero sonhar a trégua que minha alma urgente
Sem que a mim se refugiem sentimentos de alegria
Das estradas e sombras que me sentem
No comboio ardil e minha alma diria
Não andarei nem falso nem quem
Que todo, sou um mártir de tuas escrituras
Ante o fim do tempo da ida risonho
Procurarei ainda o fim do futuro
Para alguma coisa dizer-te imponho
O tempo meu que manhosamente aturo.
Vens amor querido nesta viagem impotente
Onde poderás ser guia e em mim não se desfaça
A obediência dos teus instantes
E qualquer uma coisa, o meu olhar disfarça.
Vamos amor contar nossos pés acima
Do meu controle fugirei que passa
Por tua diligência tudo o que sou e passo ainda.
CARTAS À MIM
A tarde da tarde se põe num céu quieto
E a noite já está chegando, eu não sei desse segredo.
Quero que me reconheçam por meu deserto
Distante e longe do lugar do meu degredo.
Marco o meu passado em um extenso mapa
Lugares onde fui e ultrapassei
O tempo com sua contagem, um desagrado
As balizas nos caminhos de mim herdei.
Não busco estrelas para saltar o pedágio
Os meu desígnio é de saber quem sou
E de num instante remoto, tempo ágil
Vejo os alaridos no tempo que vou.
Como tantos que se perdem na viagem
Jurei outros caminhos mais verdadeiros
E me retive na bifurcação que fazem
Alma perdida, coração aflito, de mim mensageiro.
Carrego o intrépido volume de cartas
E escritos ilegíveis mandados à mim
Num desaforo que vou desarmar
Meu espírito santo e louco assim.
PLANO DE VOO
No plano alucinado
Já no degrau maior
Estrelas se enroscam em mim
E eu tomo conta delas.
São jorge é uma ilusão.
Não acreditem que São Jorge
É um guardião da lua
Quem poderia fazer mal a lua
Uma mulher solitária que só vê seus filhos
Não acreditem em São Jorge.
O homem por sua conta
Criou os dogmas, as ilusões, os mistérios
E por todas as naus
Que singram o luar disperso
Não nos trazem informações sobre
O que se preferimos ver com nossos próprios olhos
Porque o encanto se demudaria um quebranto
E as infinitas entradas trancadas
Por rendas de sedas e ornados
Se concretizariam tais as madeiras
Das portas de nossas casas.
No plano dos sonhos tudo acontece
Da forma que ninguém fale
Aqui os mistérios são tratados como mistérios
E não nos entrançamos com estrelas
Nem damos de comer à lua
E a chamamos bonitas
Porque não vive entre nós
E a distância de nós a ela
É motivo de pesquisa da NASA.
O ÚLTIMO ENDEREÇO
Outros beberão os nossos sonhos
E farão isso ainda quando sonhamos
Os devaneadores do mundo
Deixarão papéis com algoritmos
De mapas de tesouros fincados aonde?
Os outros de depois
E escavarão o mundo todo
Colhendo o que não amanham
Distante se chamarão do nosso nome
Legados para parentes, principalmente
E isto não nos perpetua
Porque o mundo e o tempo
Coligados desde o começo
Tratarão de derrubar
O entusiasmo dos outros
E lembrarão do esquecimento de nós
E não terá mais sentido
Nem pela noite nem pelo dia
Lembrar-nos pelo que deixamos
Nem como eram nosso nome
Não erguerão, os outros, os olhos
Pra nos lembrarem mesmo
Se deixamos nossa assinatura
No vão da parede que sustentam a casa
E a casa, pelas pequenas intervenções de agora
Já será deles, como invadiram
Os filhos dos meus filhos
Nos terão esquecido
Mesmo que utilizem nossos nomes
Repetidas vezes, a cada geração.
Nem os nossos retratos amarelos
Farão com que alguém nos lembre.
Mas haverá, menos de um dia
Em que lembrarão de nós encobertos
Por várias cortinas, totalmente esquecidos
E este pedaço de dia será
Do dia que em que precisem urgentemente
Da casa que fizeram para nós.
O único, o último endereço
E nós os acolheremos por ser mistério
Estas fazes de Deus.
PÁSSARO
Existe dentro de mim um pássaro
De caráter improvisado
De cor esverdeado, e outra tonalidade alheia
Quando emudece a precaver minhas fronteiras
Neste tempo de voz calada
Não tem canto, nem tem encanto.
Eu já gosto do caráter repentino
Porque quando quer me agradar
Ele canta as minhas infâncias
E me leva a ver outro mundo que já tive.
Do qual eu era donatário, de papel passado.
Quando eu era criança o mundo
Era do tamanho do meu quintal
E tinha quatro fronteiras
Dos limites ardilosos que me espremiam.
O pássaro cantava e me agradava
Já fui protegido por pessoas sensatas e alegres
Risonhos e de conversa boa.
Hoje se avisto um pássaro
Num oitão de uma casa velha
Cantando na minha espera
Eu fico a vislumbrar o seu canto
Observando se ele tem as penas esverdeadas.
O pássaro porém, não lembra
Que já morou no meu coração
De que já foi meu um dia
Que por ser o meu, por meu desatino
Ele pegava vôo mais alto
Que tudo, adiante, mais que as nuvens
Aquele pássaro já foi meu
Hoje adulto é das alturas.
A MINHA HERANÇA
Acabado aqui o protocolo de saber a vida
Já serei outro
Mais astuto, mais bem humorado
E guardando sonhos para o presente.
Despachado a última assinatura
Vou ter o consentimento
De chamar o mundo “meu”.
E me porei de pé e proclamarei
A minha posse sobre os alqueires
Que me tocaram das heranças minhas.
Não tendo nada de urgente pra fazer
Indagarei algo que eu possa destruir
Com a minha artilharia
Num compulsivo choro de júbilo.
Terei o que fazer e não me farei de obsecrado.
Erguerei a enxada como uma espada
Acompanhada para a rumo aos artilheiros
E aí cercarei, e ararei o meu rancho.
E depois plantarei sementes prenhes
Que repousam deste o ano passado.
Se ocupadas todas as cadeiras da vista boa
Eu ocuparei o lugar atrás da coluna
E se acaso o relato da sentença for anunciado,
Já estarei preparado para trabalhar em silêncio.
O RIO
O rio corre calmamente
Sobre o seu leito quente e macio
Cada conversão é um dia contado
Outros dias serão de folhas mortas
E escoras de cercas antigas.
Que o rio toma como alimento.
Teme o seu mergulho no mar
Mas pondera que ele não há.
E vai levando horas no seu leito
Dias boiando rumo à distância.
Compartilhadas com o sol
Que dele se nutre e o acompanha
A qualquer recanto, sob qualquer tempestade
A noite, o rio corre sozinho
E se esparge em leques na tolerância do mar
Que definitivo será sua ida, sem fim
Ora doce, ora salgado.
Ora fumante, ora tragado.
O rio conta a nossa existência
Pelos marcos nas encosta
Que se somem quando se enche
E aparece, se vai secando.
E o rio não tem fim
Caminha empurrado por ele
Pelas ribeiras tocada a remo
Assim é que o mundo vai passado
Assim se faz o extremo da minha saudade.