Coleção pessoal de Morrot
Quem dera pudesse nesse meu cantar,
Reviver o canto alegre dos pássaros.
Adormecer entre sonhos de criança
E num leve sopro de mãe despertar.
Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Sorrio mesmo quando estou triste
E a minha alegria é a dor que sinto,
Mas o pranto que no meu peito existe
É a verdade que eu escondo e minto.
Não sou de direita e nem de esquerda, tão pouco do centro, nem ocupo a posição de cima ou de baixo, se é que existem como definição politica...
Ocupo a posição vertical na Terra, ando, sorrio, choro, leio, odeio como qualquer vil Humano.
Ocupo também, às vezes, uma posição horizontal quando durmo ou amo, embora essa posição será para sempre no final.
Morrot
O Retrato
As lágrimas que na face rolaram
Cicatrizes no retrato deixaram
O riso puro que na foto existe
Fica sendo mais tarde o toque triste.
A cor que era viva o tempo apagou
Triste olhar na foto foi o que restou
O sonho da vida torna-se passado
Só lembranças no peito já cansado.
Na imagem da criança agora eu noto
Já desejava a vida além da foto
E o adulto cansado de não viver
Consegue escutar na foto sem cor
O coração da criança sem dor
Bater forte querendo apenas ser.
Devemos combater o vício da certeza.
Torna-se urgente aprender a olhar não somente o novo, mas aprender a olhar de novo.
Se amor um dia existiu no caminhar,
Não percebemos as flores morrendo.
O caminho alegre se entristeceu
E no horizonte ficou apenas o olhar.
Dos jovens que um dia nós fomos,
Ficou a presença nas tristes rugas.
Dos sonhos irrealizáveis sonhados,
Ficou a realidade do que somos.
Quando o amor bater na sua porta esteja preparado:
Seja um Homem livre para recebê-lo;
Seja um Homem amoroso para guardá-lo;
Seja um Homem sonhador para vivê-lo.
A dor de quem parte é menor do que a dor de quem fica, pois quem não parte, fica com o peso da vida que não mudou.”