Coleção pessoal de Moapoesias
A janela apoia meu peito
Vejo a multidão aglomerada
pelas calçadas
na rua Solidão
Em mim a comoção
Desejos de abraçar
Enviar-lhes missivas de amor
A ternura enche-me o peito
faz brilhar meus pensamentos
Partículas doces de um sentimento
Jogo ao vento…
Não há culpa
O tempo erra
e a vida segue
O que choramos
não é a morte,
talvez a dor
Jeito de não ser;
Águas
sem rio,
Humanos sem brios.
Do que vivi na casa antiga
restou distância
e o tempo escondido
em momentos infantis
Daqueles amigos
dormem no peito
saudades e peraltices
Outros sonhos,
embarques sem fronteiras
tomados de esperanças
e desejos a realizar
A vida é um caminho
Alguns decolam fácil,
criando futuros novos,
oportunidades a mais
Foi ontem que nos despedimos
Em cada rosto vi saudade,
angústias de afastamentos,
certezas de esquecimentos
Cada um levou uma alma minha
A vida vai me dando outras
Mas as almas daquela época
foram-se todas (as que eu tinha).
A crença é o ofício do pecador
repetida ecoa a prece
como se a salvação
estivesse ancorada na vida
e viver fosse razão...
A santidade é involuntária
bondade é obrigação
se acontece o milagre
ilumina-se o coração.
A estrela que não brilhou
A semente que não germinou
A flor que o veneno queimou
O ponto cego
O atoleiro inesperado
O vento frio da madrugada
A parte íngreme da estrada
O lixo que o cachorro virou
A carta que voltou
A luz que se apagou
O nada
A vaga negada
O intruso da fruta estragada
Nota destoada
O dente que dói
A mosca da feijoada
Ausência não sentida
Nascer nasceu,
mas nunca teve vida.
A imaginação atemática:
razão em equações enigmáticas,
versos perdem a rima,
grafias fonêmicas anímicas
sem acentuar nada da alma.
Sensibilidade dorme esquecida
Sem sonhos
Sem poesia
Sem vida
Caminhando desatento
sem hora, sem rumo
lentamente;
O que importa?
Coração aquietado,
bolsos cheios de mãos,
preso ao desejo de assim não ser:
Silencioso
Ausente
Invisível
Incrédulo
Não há vida
nas ruas...
Nem no íntimo
do andarilho.
Para eu ser feliz
bastam-me bons amigos,
uma morada de versos
rodeada de inspirações...
Uma corda no violão,
canções de fé e otimismo,
uma vertente de benquerença
e apreços no coração...
O barulho da natureza,
o som da poesia em meus ouvidos
e a certeza de que as amizades
são abraços de gratidão.
Lembranças enfileiradas,
balançadas
na cadeira de palha
de pernas quadradas.
O olhar fixo na estrada
Algum movimento...
- Vento – e mais nada!
O tempo não avança
nesta distância
- Isolamento
Espera demorada.
O azul do céu
- Nos olhos -
aguardando...
A vida traz o inesperado
- Gol olímpico –
Luas aluadas
Sombras que amanhecem
O rio sobe a montanha
em andaimes a espiá-la
e desliza em lágrimas
Vive e cultiva a flor
- Da pele -
Espinha e sente
o odor
da dor que dói
silenciosa
Acena ao divino
num flash de fé
Adormece leve
escutando o coração
Em paz…
Sobre o amanhã:
- Tudo é igual, nada vejo;
Pouco sinto,
nada sei
Talvez meus olhos amanheçam cheios
e meu sorriso venha a óbito
ao escutar
o grito sofrido dos homens
em brados por justiça.
Mundo ingrato!
As reticências ainda dormem
nas ruínas das destruições
do tempo estupido e visceral
Antenas anônimas captam
ruídos ruidosos da rua e as
câmaras indolentes
filmam a metrópole aflita
Respingos de caos e sombras
no muro baleado – imóvel -
grafitado de aflições efêmeras
ante os trilhos do destino
Só os egos não veem os fósseis
- Não só Judas, nem só Gení –
Empáfia máfia repugnante:
quem manda pode?
A minha mãe rezava,
malemal me lembro
O vento forte
Temporal
Frio
Chuva
Folhas perdidas...
A madeira da casa gemia
tremia em nós o anseio,
mamãe rezava;
Tenho certeza!
Raios luminosos
Insegurança escura
Mamãe tinha fé:
- Santidade,
no altar da minha saudade!
Se for caminho
ei de enfrentá-lo
pois a fé dá força
para a paz reinar
Se o que eu desejo
for inalcançável
a minha crença
manter-se-á inabalável
Se faltar brilho
um céu de estrela
pintarei ligeiro
para me iluminar.
Ao final da tarde penso em um poema,
mas me lembro de que não comprei leite
e corro até a padaria
Amanhã a conta da água
e depois a da energia
e sábado tem o aluguel
E domingo tem a fome
e segunda tem a fome
e sempre tem a fome
Em um dia o dinheiro some,
o poema falece,
os olhos tristes
veem outro dia amanhecer.
O homem mata
tempera,
prepara e
come
E quer matar o bicho
que quer se
alimentar do homem
Quem é o bicho?
Quem é o homem?
O homem-bicho ou
o bicho-homem?
Pés calmos não avançam
e a estrada os vence.
Que caminhos percorrem?
Cansados levam os olhos
a ver misérias humanas
criadas pelo homem.
Um olho olha,
o outro cala.
A lágrima ...
Tão duro construir
a paz!
Repetem-se os passos
- O anexo não salvou Anne -
Nada se salva
O mundo acaba
A humanidade é a mesma.
Não sei divisar
alma e carne
É tênue é
Abissal
Às vezes sou
e deixo de ser
Desconfio que o futuro
seja pingos de passados
Me calo
Esqueço
para não ser
lembrado.