Coleção pessoal de Moapoesias

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⁠O poeta e o poema
são confidentes.
Cada um sabe
o que o outro sente.
Estando próximos
ou ausentes.
São discretos.
Comunicam-se,
sabiamente.
Elo poético lindo de ver:
- Os dois sabem como ser
e se entenderem.

⁠O poema fez brotar
lindas flores,
em essências especiais.
cada verso, uma fragrância.
Cada estrofe, um acorde
com notas olfativas
e concentradas.
Um poema meigo
e perfumado
para ser sentido,
para ser abrigado.
E, pela alma,
acalentado.

⁠O perfume exala,
inspirando o rimador.
Quente é a poesia.
Seu rosto é retrato
de vapor abstrato,
desenhado no espelho.
O verso cafeinado
ascende os sonhos
dá asas aos pensamentos
enobrece a criação
e
a
ternura
poética
voa.

⁠Canções intensas sem notas,
versos sem métrica,
amor sem medida.
Nem todas as belezas
as mãos alcançam.
- Há flores mortas –
E há também
obstáculos imperceptíveis.
Quando o amor toca a alma
nem o silêncio
(dos passarinhos)
cessa o voo.
Ele é música,
é poesia,
desconhece fronteiras,
alimenta o espírito
e aniquila barreiras.

⁠Às vezes,
nada digo.
Aposso-me de alguma solidão
para acompanhar a minha.
Perco-me
em labirintos.
Sinto.
Gosto de absinto.
E espalho versos,
pintados de ilusão.

⁠Só sonha liberdade
quem preso está
e brada por socorro
na incerteza das caminhadas.
Os versos pulsam,
sacodem, dançam
e explodem de alegria.
Comemoram, aplaudem,
elogiam, criticam.
Lamentam,
afugentam angústias
e se calam.
Falam, escutam,
declamam, rimam.
Versos têm alma.
Verso é vida!

⁠A química é que faz
o vaga-lume brilhar
e a noite destaca a luz
no horizonte de trevas.
Vaga o luzente
inocente em seu voo,
num lume poético,
luzindo no infinito.
Iluminado, o mundo
é bem mais bonito.
Luz é poesia.

⁠Não dá para ver a poesia como estática,
pacífica e calada.
Ela tem que derramar, tem que escorrer,
tem que ter versos que se entortem
para passar entre pedras, em fendas minúsculas.
Tem que ter a rebeldia objetiva de quem luta,
de quem protesta e sai à rua.
Poesia tem que ser expelida pela pele, em gotas suadas de inspiração,
tem que causar reações calorosas na mente.
Tem que limpar o corpo e a alma
e ,ainda assim, ser combativa.
Tem que nascer tomada de insatisfação.
Não será pacificadora se vier em paz.

⁠A lua, até que enfim,
(- Quem diria!)
vai pousar no meu jardim,
deslizando
em meu rosto
e abraçando meu
corpo.
Tão docemente
e amável!
Nenhuma outra intenção,
(lua que venero
e que me enche de paixão),
deitada comigo,
aqui no chão.

A noite despertará monstros adormecidos
O implacável ruído das carpideiras velará sonhos
Acordará morcegos para o banquete de sangue.
O escuro azul do véu que cobrirá a urna
Esconderá as marcas da dor.

O dia ameaçará adentrar as janelas
Cálido em amarelos claros
Com a força que desbota as aquarelas
Fazendo sombras e refletindo nelas
O tormento do sino sem badalos.

Abrira-se morada do sepulcrário
Furdunçará desautorizado o silvestre
Da forma que fizeram os plantonistas de janela
Na vigência ilibada de vida tida como equestre,
Licença concedida pelos céus ao dito salafrário.

Não. Sem bajulações de arautos
Nem piedade de falastrões
Bastará que conste nos autos
Que pela vida abominou as falações.

⁠O sol se pôs,
neste dia interminável,
de ruas infindáveis
e pessoas apressadas...
Escureceu.
Estrelas, lua e a
calmaria...
Me verei
no sono cansado
após
mais um dia superado.

⁠Rédeas
Seguro
as rédeas da vida
na penumbra
natural do anoitecer.
Amanheci faz tanto tempo…!
Léguas percorridas
marcaram o caminho.
inúteis mares navegados,
agora percebo:
- Nem toda onda é mar.

⁠Eternidades
Quase toda noite é escura,
mas há exceções.
nenhuma certeza é absoluta,
há variantes na imaginação.
Nem todo breu é sem brilho,
são diferentes as visões.
Quase todas as sentenças são definitivas,
mas há exceções:
­ Nada prende a inspiração
e, se há liberdade,
não existem, nem mesmo, prisões.
Almas não ficam sozinhas.
Existe a leveza do voo
e, se não bastasse,
são tantas as eternidades!

⁠Plurais
O tempo nublou
e a chuva virá
ao anoitecer.
Falta humanidade
e botes Salva-vidas.
Discursos plurais,
razões singulares.
Pobre gente!
Em mãos que metem a mão
o poder apodrece.
E o mal floresce.

⁠Lua
A lua se deita
na minha cama feita
e some, antes que amanheça.
Procuro-a na pureza dos bosques,
em réstias de luzes
e em folhas e selvas.
Avisto alguns bichos,
beirando as águas correntes,
em sonhos que a mata esconde.
Fixo o olhar sobre o rio
e a vejo ao fundo
toda nua,
toda lua.

⁠E partem
A senhora consciência noturna
se torna longa
no horizonte reflexivo.
Monossílabos sussurrados
de outra boca,
instintivamente,
convence as estrelas
A noite segue fria,
lenta
e muda.

⁠Sentença
Sentenciei a noite,
apaguei as estrelas,
escureci a lua
e proibi lembranças.
O mundo virou trevas.
Dizer é mais forte,
sentir é menos,
muito menos.
Dizer enfurece alheios,
desperta dormidos
e azeda.
Sentir é solitário.
Silêncio não dá eco
e assim, calado,
quase dormente,
meu eu me invade,
docemente
adormeço
- Há tanta suavidade em não ser!

⁠Pranto oculto
Por suas estrelas,
a noite é linda,
e a escuridão que
não se vê
é pranto oculto,
latejante,
vulto
que dói profundo.
Escala o mundo
… em vão.
É a estrela mais distante,
entalada na memória
e no semblante.
É como verso acabado
de amor sem amantes.
E a que brilha
é como a velha música
em notas da trilha,
algo grande que antes havia
e não há mais.
Por todas elas
a noite…
Às vezes escura,
às vezes bela.
É como a vida:
- Eterna espera.

⁠Temporal
O horizonte escureceu,
o vento rapidamente se levantou,
o sol partiu fugitivo.
A abelha abandou a flor.
Quase em desespero,
o pássaro iniciou
um voo longínquo.
E o vento
parece começar a despir tudo.
O tempo…
O temporal
tem força
e nunca é igual.
Tão bruto,
descomunal,
arranca placas,
espalha latas,
arremessa papéis.
Galopa medos,
anseios,
olhos cheios.
E, quando passa,
ainda fica para trás.

Sobre mim
Pingos de chuva
Guarda-chuvas.

Réstias de sol
Guarda-sóis.

Rosas dos ventos
Pétalas se abrindo
De um girassol.