Coleção pessoal de MiriamMorata

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⁠"Somos seres que sonham, planejam, criam metas e inventam projetos para dar significado à vida; mas quando o Alzheimer nos atropela, descobrimos que tudo isso é só uma pequena distração, enquanto a Vida traça nosso real projeto e nos lança no mundo, solitários e assustados, tentando equilibrar o medo e a ousadia, o cansaço e a coragem, o amor e o ódio, a perplexidade e o assombro... para no final ver tudo isso escorrer pelos dedos como areia."

⁠"O meu Deus não está no Templo, eu O encontro todos os dias, no assombro da Vida e na perplexidade que cala minhas palavras."

⁠"Gosto do que vaza, daquilo que não cabe e derrama pelos poros e olhos; gosto do que não tem explicação e nem cabimento.
Gosto do que não cabe na palavras e nem nos gestos, do que não se explica e nem se conforma, aquilo que só o silêncio e perplexidade conseguem alcançar.
Gosto de buraco de fechadura e lapiseira 0,9 porque ambos assanham a imaginação."

⁠... E tudo isso parece tão PEQUENO diante do “Não!” que a Senhora Morte sussurra, quando minha Alma grita “Sim!”.
É ela que há de me ensinar a diferença entre a acolhida e a despedida, entre aquilo que “possuo” e aquilo que sou - desse aprendizado, depende a felicidade ou a dor que hão de conduzir minha mão, enquanto escrevo minha história.
A Senhora Morte tudo pode sobre aquilo que “possuo”, e nada pode sobre aquilo que sou. Talvez porque só na minha imaginação, as coisas e pessoas são minhas; talvez porque minha real natureza pertença à dimensão da Vida que sussurra “Não!”, quando a Senhora Morte grita “Sim!”

⁠Haverá momentos em que você vai perceber a vida como uma Graça que lhe é oferecida, em outros, ela será um estranho jogo, cujas regras serão reveladas a cada nova jogada e você nunca saberá quem dá as cartas; isso vai te deixar um pouco inseguro a princípio, mas aos poucos você vai perceber que Aquele que dá as cartas cuida para que nunca haja perdedores.

⁠"A vida é ciranda, às vezes estamos tão distraídos que nem percebemos quem segura nossa mão.
Outras vezes estamos apressados demais para ouvir o “verso bem bonito” de alguém que acabou de entrar na roda.
E assim dançamos a dança da Vida às vezes contrariados porque não é a música que esperávamos; às vezes seguramos a mão de quem está do nosso lado tão displicentemente, que nem percebemos quando ele solta a mão.
A Vida é ciranda e cada um de nós tem um verso bem bonito para dizer e depois é só Adeus e vai embora.
Vai embora, mas fica o verso bem bonito e a suspeita de que essa ciranda só existe para nos ensinar a segurar a mão do outro com força, cantar bem alto e dançar junto... no meio de tudo isso, ficar atento para nunca oferecer pouco Amor."

⁠“Nunca saberemos quando será a última vez, que aquela pessoa vai olhar nos nossos olhos, ou quando será a última vez que ouviremos sua voz.
Se eu soubesse que seria a última vez que seus olhos penetrariam nos meus, buscando algum vestígio da minha Alma, eu teria parado o tempo só para falar de amor com você;
Se eu soubesse que seria a última vez que ouviria sua voz, teria pedido que me contasse mais uma vez aquela história engraçada, só para ouvir a sua risada que parecia iluminar o meu mundo;
Se eu soubesse que seria a última vez que sentaria no meu banco, teria contado como acho seu cabelo bonito e gosto do jeito mexe as mãos, enquanto tenta explicar o que eu nem quero entender;
Se eu soubesse que seria o último abraço, teria me demorado um pouco mais e te apertado mais forte contra meu peito;
Se eu soubesse que seria a última conversa, teria relembrado nossos melhores papos e contado como é gostosa essa nossa troca repleta de ensinamentos, aprendizado e bobagens para rir.
Se eu soubesse que seria nosso último encontro, teria pedido outra saideira e brindado pela alegria e privilégio de celebrar a vida, com alguém tão querido.
Se eu soubesse que seria nossa última briga, teria pedido perdão, mesmo que eu acreditasse estar com a razão.
Se eu soubesse que seria a última vez que pisaria no meu mundo, teria te convidado para dançar."

⁠"Nós chegamos a este planeta, sem manual, mapas, placas sinalizando perigo, ou holofotes iluminando o caminho.
Ainda bem!
Depois de alguns tombos, tropeços, ruas sem saída, sapato furado, joelho esfolado, estrada esburacada, a descoberta assustadora da Impotência e Fragilidade humanas... acho que aprendi algumas coisas. Dentre essas coisas, algumas fizeram toda a diferença na construção da mulher que eu sou.
- O Universo não faz 1 minuto de silêncio para eu chorar, a Roda da Vida não pára em respeito à minha dor. A dor é minha e só eu saberei lamber minhas feridas.
- Embora a “caixinha” ofereça uma “proteção ilusória”, o ideal é ficar fora da caixinha, de preferência em cima, para apreciar a paisagem.
- Não seja coadjuvante no espetáculo da sua vida. Seja protagonista, roteirista, diretor e cenógrafo SEMPRE! Mesmo que na plateia não tenha ninguém.
- Quando estiver em dúvida sobre qual caminho seguir, vai para onde tiver menos gente, pois o barulho abafa a voz do coração e você corre o risco de se perder de você.
- Se der medo vai com medo mesmo. O medo morre de medo de pessoas que, mesmo com medo, continuam ousadamente.
- Entre as Regras e o Justo, fique com o Justo.
- Entre a Compaixão e o Justo, fique com a Compaixão.
- Entre o Certo e o Conveniente, fique com o Certo.
- Entre os Sonhos e a Vida, fique com a Vida, esta aventura louca é maior do que qualquer Sonho.
- Sempre será preciso quebrar os ovos para fazer uma omelete, antes de quebrar os ovos certifique-se de quantas pessoas comerão dessa omelete.
- Gente foi feita para brilhar – toda gente, sem nenhuma exceção e essa é a tarefa humana.
- Se você não amou e foi amado por um bicho, ainda não sabe muito sobre o amor.
- Se a doença está na raiz, não adianta podar a árvore.
- Não adianta tentar comprar pãozinho em uma loja de calçados, eles não irão te vender, isso não significa que não gostam de você. Isso vale para sonhos, pessoas, relacionamentos...
- Algumas pessoas irão te estender a mão, algumas não terão forças para te levantar, fique atento às intenções e não aos gestos.
A vida é como uma banana, mesmo que você leia todos os tratados, pesquisas, artigos e reportagens sobre a banana... nada disso vai adiantar se você não saborear, então descasque e coma!"

"Tornar-se mulher é resultado de um projeto muito bem elaborado, que teve início quando alguém disse que Eva foi criada para fazer companhia a Adão; a expulsão do Paraíso foi culpa da mulher que desobedeceu ao Senhor e enganou seu homem.
Torne-se mulher... Só que não."

⁠"Voltar para casa e deixar alguém amado na gaveta gelada de um cemitério é a experiência mais assustadora e solitária, que a Vida nos obriga a realizar. A bebida amarga que não podemos recusar.
O luto é solitário e silencioso. Nesse universo estranho não cabem pessoas queridas, que tentam amenizar a dor; não cabem palavras que justifiquem, ou acalmem o espanto diante da Morte.
A dor é minha e em mim doeu.
Luto é sair da historia vivida e retornar à solidão do útero, para gerar a nova pessoa que há de continuar existindo sem aquela presença amada, que preenchia cada pedaço da minha história.
Preciso de tempo, de solidão e silêncio, para sentir que a Mão Sagrada que levou o meu amor, está segurando a minha, nessa tarefa quase insana de recomeçar a escrever minha história."

⁠"Desistir?
Não é a meta que me move, é a paixão.
Tenho fome de fome e não de pão."

⁠“Está morrendo a geração de ferro, para dar passagem à geração de cristal.
Quem é a geração de ferro?
- Aqueles que chamávamos de “senhor” e “senhora”, porque “você” é para “seus amiguinhos”.
- A geração que não estudou porque precisava trabalhar para ajudar os pais, depois para realizar o sonho da casa própria, sustentar a família... mas chorou de emoção e orgulho na formatura dos filhos.
- A geração que antes da 22:00h colocava todo mundo na cama, ajeitava o cobertor, dava um beijo de boa noite depois de rezar junto, porque “ninguém deve dormir sem rezar, não somos bichos.”
- Aqueles que nunca viram uma carreira de cocaína, nem precisavam de comprimidos, ou energéticos para rir e dançar a noite inteira, mas não ousavam tomar manga com leite.
- E ninguém saía, ou entrava em casa sem “a bênção”... e isso fazia toda diferença.
- A geração que nunca sonhou com a Disneylândia, porque divertido mesmo era ficar na calçada com os vizinhos, contando causos enquanto ficavam “de olho nas crianças”.
- A geração que guardava o troco de moedas no cofrinho, mas não economizava nas festas de aniversário – um bolo, sanduiche, brigadeiro e suco. Sem DJ, só o som das crianças brincando e a risada dos parentes e amigos.
- A geração que anotava as dívidas na caderneta e ansiava pelo dia do pagamento para quitar todas as dívidas, porque “esse dinheiro não é meu”.
Está morrendo a geração que pagou para ver; bancou os seus sonhos e sonhou os sonhos dos filhos; sorvete era para dias especiais e comer arroz e feijão era a regra para crescer forte, porque "saco vazio não para em pé.".
- A geração que fez do trabalho o objetivo de vida, não soube o que eram férias e passear na praça com os amigos era uma aventura deliciosa, que rendia incontáveis fofocas e segredos.
- A geração que sempre deixou o último bolinho para os filhos, mas amargou a saudade e o medo, quando esses filhos não tiveram mais tempo para eles.
Está morrendo a geração que pagou todas as contas, mas não imaginou que envelhecer seria tão caro e os filhos não estariam dispostos a dividir essa conta.
Está morrendo a geração que soube arrancar comida e esperança de pedra, para cuidar da família, mas esqueceu de cuidar de si mesmo."

⁠"Criador e Criatura, Artesão e Obra, Deus e Homem são as duas extremidades do fio que sustenta a vida; será impossível atar o laço que abraçaria o Cósmico, para sempre, sem que essas duas extremidades se toquem e juntas, realizem e consagrem o milagre de existir!"

"⁠Por que Deus precisa do homem?
Como realizar essa obra pretensiosa, sem nos ampararmos na certeza de uma cumplicidade sagrada entre Deus e a Humanidade? Como sondar as profundezas do ser e conferir um significado que justifique sua existência, se não transcender o espaço-tempo limitado, que os sentidos conseguem apreender? Por isso, o Homem precisa de Deus!
Como desfrutar da imensa riqueza que é a experiência humana; como arrancar Espirito da matéria, sem tocar no barro e descobrir as formas infinitas que ele esconde? Por isso, Deus precisa do Homem!
Onde termina o instrumento e começa o Arte? Onde termina a Arte e começa o Artista? Como separar a obra, o artista e a matéria-prima?"

⁠"E assim eu aprendi que não é só o Alzheimer que devasta a imagem bondosa que fazemos de nós mesmos. É a vida.
Não somos tão bons quanto gostaríamos; não somos tão corretos e justos como queremos que o mundo acredite; não somos tão fortes quando imaginamos.
Somos humanos -A vastidão dessa condição me causa vertigem.
É nessa humanidade que reside a incoerência, o medo de não sermos aceitos ou amados; a vontade inexplicável de agradar a todos, mesmo que não nos incluamos nesse público ambicionado.
Descobri que compaixão não é pena, mas responsabilidade profunda e respeito pelo outro, ainda que ele não saiba quem eu sou, ou não tenha nenhum gesto de gratidão ou amor por mim."

⁠"Olho ao redor e sinto espanto e perplexidade, diante da assustadora impotência humana.
Quantas vezes, as rédeas da Vida foram arrancadas das minhas mãos, deixei de ser protagonista, para me transformar em mero espectador, da minha própria história?
Onde está a mão de Deus?
Até onde ela me permite traçar meus próprios caminhos?
Haverá algum momento, em que a vontade humana sobrepujou os desígnios de Deus?
Somos meros fantoches, representando um drama que está pronto, desde o início dos tempos?
Para quê?"