Coleção pessoal de MiriamMorata

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⁠Todos nós guardamos cuidadosamente um mundo estranho, à espera do nosso desespero ou desistência, um lugar que está sempre pronto a nos acolher ou esconder.
Quando acessamos esse mundo?
Sei lá, talvez nos sonhos que inventamos para não desesperar ou desistir, talvez nas mentiras a que nos agarramos para suportar o fardo da existência ou, quem sabe, esse mundo esteja escondido na cápsula dos remédios que tomamos para escapar do mundo.

⁠"Agradeço ao "Grande Croupier do Universo" pelas cartas que me deu e me ensinaram a blefar, calar, perder mas, nunca sair da mesa.
Agradeço a todos os invejosos e maus-caracteres que passaram pela minha e me ensinaram como eu não deveria ser.
Agradeço a mim porque aprendi a nadar entre tubarões e não sangrar."

⁠Quando a vida se tornou um monstro gigante, que temos que alimentar constantemente?

⁠Será que eu percebo a sutil linha divisória, entre a cortesia e a covardia?
Será que eu percebo o momento em que o Amor, se transforma em instrumento de manipulação ou desespero?
Será que eu percebo qual a hora exata, de fechar a porta e não abrir nunca mais... ou abrir a porta e permitir que alguém entre no meu mundo?
Somos distraídos, ou medrosos demais para experimentar a vertigem, diante da imensidão do agora?

⁠Eu não sigo meu sonho, é meu sonho que me segue, como visgo grudado não minha Alma, como música que não sai da cabeça, ou como o cheiro de esperança e paixão que desassossegam o coração.

⁠Tudo é tão bizarro e sublime.
De repente eu vislumbro uma resposta absurda e radical, para explicar o sentido da experiência de existir. E antes que consiga elaborar essa ideia preciso parar tudo, por causa de uma diarreia, ou câimbra.
Esse é o segredo do jogo da vida - o sublime e o ordinário caminham de mãos dadas, ou melhor abraçados, no deserto da compreensão humana, e ambos são reféns de um corpo limitado e cheio de vontades.
E tanto as perguntas, quanto o deslumbramento diante da possível resposta, não fazem a menor diferença, no movimento dos astros e da Roda da Vida...

⁠Quando eu me obrigo a calar, fingir que não ouvi, concordar com opiniões e escolhas que eu não aceito... para demonstrar gratidão, lealdade e impedir que esse alguém saia de minha vida, só porque um dia me amou, ou estendeu a mão nos momentos mais difíceis da minha vida, estou me desrespeitando.
Aprendi que quando me desrespeito enveneno minha Alma e meu corpo, quebro a minha força e aos poucos vou me perdendo de mim.
Serei sempre grata a todos que me ajudaram, estenderam a mão, me fizeram feliz e compartilharam um pedaço da minha história.
Gratidão é lealdade, mas não é Submissão.
Quem não respeita minha fé, minha ideologia política; minhas certezas – toda guerra é criminosa e não existe livro sagrado neste mundo, que justifique o assassinato de inocentes; ou a ganância de minoria produzindo miséria, fome, destruição com as bênçãos dos poderosos ou o argumento do Versículo...; então, antes que alguém faça discurso sobre o Perdão e a Importância do Diálogo, esta é a minha primeira meta - nunca mais me sentarei na mesma mesa que um racista, homofóbico, fanático, fascista, alguém que maltrata animais, ou qualquer um que use a religião como instrumento para alimentar o preconceito, a intolerância e a crueldade.
Se você não me respeita como sou, você não é bem-vindo no meu mundo e na minha vida. Isso não significa ódio, mágoa, decepção... apenas a vida seguindo e eu refazendo minha lista de convidados para seguir comigo.
Bem-Vindo quem chega e Boa viagem para quem sai.

⁠Rever as feridas e enfiar o dedo no meio delas, para tirar toda sujeira acumulada.
Hoje revi todos os papéis, agendas, anotações, recibos... que guardei desde 2022.
Achei documentos de processos e o B.O. que fizeram contra mim, me acusando de roubar meus pais; negligenciar e ser responsável pela piora e desnutrição da minha mãe (ela não dá comida e a d. Nena está com anemia); encontrei também os recibos de cobrança de inquilinos que me deram um golpe e sumiram sem pagar aluguel e as contas de água, luz e IPTU.
Sei que não vou receber, ganhei todos os processos que fizeram contra mim, e guardava todos esses documentos para provar nem sei o que; como se pudessem testemunhar todo mal que me causaram e assim, remediar ou acalmar meu coração cheio de raiva e revolta.
Então percebi que não posso carregar o Velho para usar como matéria prima da fundação do Novo; não dá para fingir que nada aconteceu, eu precisava parar nesse degrau, sentar e enfiar o dedo no meio da ferida, para tirar aquela farpa de raiva e desejo de vingança, que nunca permitiu que essa ferida cicatrizasse.
Não posso continuar me enganando que tudo será como antes – Não será! Mas pode ser muito melhor!

⁠Perdoar é Esquecer?
Não sei quantas vezes ouvi durante este ano, a frase rasa e sem sentido – “Deixa pra lá!”
"Deixa pra lá"... como se "lá" fosse uma lixeira da calçada do vizinho, fora dos domínios seguros e limpos do “Eu iluminado”.
O que ninguém me explicou é “Onde é lá?”
Lá é embaixo do tapete? É aquele lugar no nosso porão, onde depositamos nossas mágoas, revolta, medos, vergonha, tristeza, raiva... bem distante do meu mundinho perfeito e adequado.
Não!
"Lá" está dentro, na sala, no quarto, na cozinha, no coração, na memória, no estômago, no útero... "Lá" é a incubadora onde meu monstros estão sendo gerados e alimentados com o medo, ódio reprimido, vergonha, ira, lembranças doloridas, humilhação...
"Lá" é onde são fecundadas as minhas doenças, fracassos, culpa, raiva, frustração...
"Lá" é o fundo da gaveta; é dentro da mala esquecida em cima do guarda-roupa; o meio da agenda antiga que caiu por detrás da estante; o bilhete guardado no bolso da calça que nunca mais serviu... "Lá" existe e mantém registrado tudo aquilo que imaginei apagar, com minha compreensão e sabedoria mentirosas, é o lugar perigoso onde escondi o meu pior e coloquei a etiqueta – PERDOEI!
Perdoar não é esquecer, aliás é impossível esquecer algumas coisas, mas é possível se libertar da emoção que envenena e alimenta os monstros que guardam as portas do “lá”.
Escancara essas portas, olha nos olhos desse monstro, não com raiva, mas com respeito, pois esse é meu filho. Deixa o sol entrar e iluminar cada canto, cada lembrança amarga que a memória tentou apagar e eu fingi que acreditei.
Ninguém consegue apagar a emoções e histórias que escreveu, mas reinterpretar essa história, para amenizar a dor e a revolta, é talvez, nosso ofício mais difícil.
Perdoar não é sobre quem me feriu, é sobre o que eu me permito fazer, com o que a vida fez de mim.
Perdoar não é abrir as portas para quem me feriu, essas portas estarão fechadas para sempre, mas é minha responsabilidade deixar do lado de fora, a mágoa, a raiva e a revolta e fechar tudo isso para sempre."

⁠Não é o corpo que possui consciência, mas a consciência que possui um corpo para se manifestar e criar a realidade.
A realidade é a manifestação da comunhão entre a consciência e tudo que nos cerca, por isso, cada um de nós é criador de uma pequena obra e cocriador da Grande Obra.
Nunca somos apenas espectadores, nem mesmo quando silenciamos e nos omitimos, nem mesmo quando nos escondemos atrás de verdades inventadas, ou mentiras disfarçadas de verdades.
Por isso a Morte não me assusta, o que me dá muito medo é a imensidão da vida que gastamos com coisas pequenas e mesquinhas, só para justificar nossos vazios e medos.

⁠E se algum dia no tempo fora do tempo, Deus ou sei lá quem administre essa coisa, me perguntar:
- E aí Miriam, encontrou o que procurava?
Eu responderei sem hesitar:
- Não. Encontrei o que nunca procurei e foi bem interessante. Se me permite uma sugestão, na próxima Grande Obra, evite as palavras pecado e Inferno (alguns utilizam erro e castigo), prefira "reinterpretar e recalcular a rota."
De resto, Obrigada Senhor, pela oportunidade de participar dessa aventura incrível.

⁠O meu Deus
O meu Deus não escolhe um povo e manda eliminar outro;
O meu Deus não fica irado e não se decepciona com os humanos;
O meu Deus não castiga e não recompensa os erros e acertos;
O meu Deus não escreve livros – ele Pulsa e Canta em tudo que vive;
O meu Deus não constrói reinos para alguns filhos privilegiados,
enquanto prepara um inferno para os rebeldes;
O meu Deus não olha com mais carinho para a orquídea, do que para a haste de grama, pois cada uma cumpre seu papel na Grande Obra.
A vida não é Tempo de provações para saber quem merece o “prêmio do amor de Deus”, mas escola e festa e o meu Deus não é o vigia, mas aquele que me convida para dançar.

⁠Porque quando me vi no meio do mar bravo e meu barco ameaçava afundar, consegui compreender o que eu precisava aprender com tudo isso.
Não era aplacar a fúria do mar, não foi para isso que fomos feitos, mas cuidar do barco e chegar à outra margem.
Fomos feitos para a travessia e não para controlar o mar.

⁠Tudo é tão bizarro. De repente você vislumbra uma resposta absurda e radical sobre o sentido da experiência de existir. E antes que consiga elaborar essa ideia precisa parar tudo, por causa de uma diarreia, ou câimbra.
Essa é a graça - o sublime e o ordinário caminham de mãos dadas, no deserto da compreensão humana.
É isso não faz a menor diferença no movimento dos astros, das estações e da Vida.

⁠"Talvez a Iluminação, a Bem-Aventurança ou a Felicidade Plena não sejam nada daquilo que imaginamos.
Talvez nem seja um presente, ou o prêmio no final do caminho.
Às vezes eu acho que essa Bem-Aventurança será apenas o instante sagrado em que soltamos todas as amarras, abandonamos todas as mágoas, esquecemos tudo que doeu... sem culpa, sem expectativas, sem metas e ofício a nos definir.
Só a liberdade de existir, sem nenhuma razão além de experimentar essa ventura e depois ir embora, não importa para onde."

⁠"Quando a vida se torna um fardo pesado e insuportável?
Todos os dias eu ouvia pessoas me dizendo – “Tenha fé, Deus está no comando.”
Mentira! Eu estava no comando... Não, não existe comandante e o barco fica à deriva quando o Alzheimer entra nele. Esse passageiro indesejável destrói qualquer mapa, bússola, apaga as rotas e deixa todos assustados e sem nenhuma esperança na terra firme ou na calmaria.
Ninguém estava no comando, cada dia alguma coisa empurrava minha mão para dar mais um ponto, nesse bordado louco em que se transformaram nossas vidas; cada dia um ponto, só isso, sem nenhuma ideia de como seria esse imenso bordado que estávamos criando.
Talvez exista uma tela imensa com um desenho traçado por esse Deus comandante, e nosso papel nessa grande Obra seja apenas colocar a linha na agulha e dar cada ponto, confiando que o resultado final será Bom.
O cruel disso tudo é que não temos acesso a esse desenho, não sabemos o que estamos bordando e estamos cansados e assustados demais para confiar nesse Artesão silencioso.
Recomeçar é para os mortais que se agarram à Esperança, nós renascemos como Fênix e nos agarramos às nossas cinzas."

⁠"Olho para os olhos vazios da minha mãe, as mãos trêmulas do meu pai e não consigo encontrar nada que responda, ou acalme o meu solitário espanto.
Olho para frente e... tudo é possível.
Olho para frente e... nada é possível.
Talvez a Esperança seja a nossa única resposta a esse assustador paradoxo.
Tenho em minhas mãos, todos os próximos instantes e, ironicamente, minhas mãos estão sempre vazias.
Preciso cuidar dessa mágica e mentirosa semente, para continuar respirando. Mas, como impedir que essa semente seque, se nos momentos em que mais preciso dela, não tenho forças para acreditar em mim?
O cansaço e o desespero parecem se alimentar da dor, do medo, do abandono... enquanto a Esperança se alimenta de Luz, mesmo que seja apenas uma fresta de Luz em um quarto escuro.
Então hoje, só por hoje vou procurar frestas por onde a Luz possa entrar e alimentar minha Esperança. Essa fresta pode ser uma prece, um sorriso amigo, uma palavra, uma música, uma risada inesperada, uma lembrança gostosa... Não importa, hoje e só por hoje, vou me agarrar à Esperança; amanhã haverá outra fresta, outro facho de Luz e assim, não permitirei que o cansaço e o medo apaguem minha Luz.
Continuarei esburacando a parede para iluminar o quarto."

⁠“Tanto faz o dia em que estamos, mamãe me pergunta o tempo todo que dia é esse. Ela está vivendo em um tempo fora do tempo, em um espaço quase sem lembranças.
Por mais que procure algo familiar aqui na minha casa, ela não o encontra, quer as amigas, o cheiro de fumaça de caminhão, o barulho do escapamento, este lugar não cabe no coração dela.
É como se flutuasse acima do mundo real e se protegesse de tudo com esse manto de insanidade.
Ela tenta se agarrar às lembranças das avós, dos irmãos quando eram crianças, na tentativa de resgatar a mulher que ela está perdendo.”

Meus pais pediam insistentemente, para eu leva-los de volta para casa.
Papai nunca saiu de sua casa, mas a casa saiu dele; mamãe morava comigo, mas nunca saiu daquela casa, que ela sonhava retornar.
Aos poucos eu fui entendendo o que significava “voltar para casa”. Eles querem resgatar a casa que um dia abrigou Felicidade, na verdade eles queriam voltar para aquela Felicidade.
Não era a casa de tijolos e portas, janelas e piso rangendo.
Era a casa que abrigava o barulho das crianças brincando; o cheiro de café e o gosto de bolo de fubá; o perfume do travesseiro, que guardava seus segredos; o cheiro do bife que só mamãe sabia preparar; o perfume do dia de limpeza e o cheiro da pipoca.
A casa era a maçaneta da porta rangendo, quando papai voltava do trabalho; ou o pano de chão sobre o tapete, que mamãe insistia em colocar para manter o tapete limpo.
A casa para onde eles querem voltar é feita dos detalhes da torneira pingando, que papai adorava consertar; do batente arranhado pelas escaladas das crianças inquietas; é a casa que abrigou o sonho de família, de felicidade, de prosperidade; a casa paga em muitas prestações, e cada uma delas tinha um gosto de vitória…
Eles querem morar naquela felicidade, e eu também”

⁠Ainda sobre o "Jogo da Vida", alguém que perguntou:
- O jogo só acaba quando o jogador ganha?
Eu acho que esse jogo sagrado e um pouco absurdo, não é sobre ganhar ou perder, mas sobre qualificar o jogador...
- para que compreenda suas limitações e potencialidades;
- para que aprenda a olhar com atenção e compaixão, para todos os jogadores e não apenas os parceiros;
- para que exercite a arte de fazer combinações, apostar, perder ou ganhar, mas aprender com isso e continuar jogando;
- para que descubra quais são as regras do jogo, enquanto se diverte um pouco;
- para exercitar esperança e resiliência, sempre que as cartas ruins chegarem as suas mãos;
- para tentar compreender a intenção e os blefes dos parceiros da mesa;
- para aprender a fazer a melhor combinação com as cartas que receber, sem amaldiçoar e nem adorar o Croupier;
- para ser a melhor versão que puder.
E para quê se tornar a melhor versão depois que o jogo acabar?
O que o Grande Arquiteto do Universo vai fazer, com uma mão de obra tão qualificada eu não sei, afinal Ele nunca explicou esta primeira etapa do Projeto da Grande Obra da Vida, acho muito difícil tentarmos compreender a segunda etapa... por enquanto.

⁠"Quando o cansaço e o desespero brigam dentro de mim, não consigo abrir uma fresta no coração, para que o amor abençoe tudo e me convença de que a vida é linda e eu amo todo mundo.
Quando a fome rasga o estômago, eu troco a minha biblioteca por um sanduíche de mortadela.
O medo de perder aquele que amo cega minha fé, e eu não consigo enxergar generosidade nessa mão, que quer levar um pedaço de mim.
Faz parte da minha humanidade assistir esse luta constante entre o Sublime e o Denso; entre a realidade que me cobra pão e água e a “realidade” que me cobra oração e poesia.
E o amor transita nesses dois mundos, em cada um com suas cobranças e presentes. Ainda não consigo amalgamar tudo isso e transformar em Míriam.
Sou humana e amor é colcha bordada, cada dia um ponto, um olhar para ver se ficou bom e no coração, o modelo pronto me esperando e inspirando. Não sei tirar amor da cartola, ou amar por ordem expressa de não sei quem."