Coleção pessoal de Mindi
Um dos benefícios de ter filhos é saber que a juventude não morre ou desaparece, ela só é passada para uma nova geração.
Dizem que quando um pai morre, o filho sente sua própria mortalidade, mas quando um filho morre é a imortalidade que os pais perdem.
É difícil me iludir, porque não costumo esperar muito de ninguém. Odeio dois beijinhos, aperto de mão, tumulto, calor, gente burra e quem não sabe mentir direito. Não puxo saco de ninguém, detesto que puxem meu saco também. Não faço amizades por conveniência, não sei rir se não estou achando graça, não atendo o telefone se não estou com vontade de conversar.
Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo.
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.
Desaparecimentos acontecem. Dores dissipam. Sangramentos param de escorrer e pessoas, pessoas somem. Tem mais coisas que eu gostaria de dizer, tanta coisa, mas… eu desapareci...
Você fez uma carnificina no meu interior. Matou meu coração, perfurou meus pulmões, cortou meu fígado, rasgou minha alma. Você me destroçou.
Raramente eu choro, sempre vou aguentando com um sorriso no rosto, então já sabe se eu chorar é por que não aguento mais segurar.
Dói perceber que eu posso lhe fazer mais mal do que bem. Querida, acredite, nunca foi minha intenção. Sempre quis lhe proporcionar o mesmo carinho, proteção e amor que me destes, mas não somos os mesmos, por mais que tenhamos cicatrizes da mesma guerra temos maneiras diferentes de lidar com cada situação. Eu não lhe deixei como pensa, apenas sou um barco em alto mar derivando. E sabe disso, porque fostes minha âncora por um período. Mas então, as tempestades quebraram as correntes que nos mantinha ligados um ao outro, e agora observo você afundar enquanto flutuo para longe, sem direção e sem previsão de volta.
Mas meu melhor amigo é meu único amor. O único que consegui. Porque ele sempre volta pra mim. E meu coração fica calmo. E eu amo ele. E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora: o que é verdadeiro volta e quem tem que ficar, fica.