Coleção pessoal de mimimabelle
Antigos governantes se dividiam em dois grupos. Ou eram os que atribuíam toda a violência a questões sociais, e aí citavam Marx e as lutas de classe para dizer que o bandido não passava de uma vítima da exploração capitalista. Ou eram os governantes que achavam que com o fuzil na mão e a disposição de luta, na base da guerra e da morte, matariam os bandidos e resolveriam a segurança. Nem lá nem cá. Conflito não se resolve assim.
Se a gente quer construir um serviço público melhor, um país melhor, a palavra que não pode nos abandonar, seja o servidor de que nível for, de que poder for, é responsabilidade.
Se eu sou favorável à criação de uma legislação para reintegrar traficantes arrependidos à sociedade, por que não fazer o mesmo com a corporação, em vez de tratar um oficial que já cometeu abusos como um leproso institucional? Se a política do confronto pelo confronto empurrou tanta gente para seus estereótipos, é hora de atrair quem quer trabalhar para o bem comum.
Todos podemos dividir os louros dos acertos. Mas os erros são de quem comanda. O brasileiro está meio cansado de a responsabilidade ser sempre jogada no outro, em quem está abaixo. Quem está em cima nunca sabe de nada, não viu, desconhece tudo. Quem tem poder de decisão não pode se omitir. No meu cargo, eu escolhia os comandantes. A responsabilidade era minha, o comando era meu.
É uma anomalia o fato de um sujeito flagrado portando um fuzil receber a mesma pena de um bandido qualquer. Ninguém sensato vai discordar de que ele precisa ter uma punição mais severa. Não dá para aceitar que traficantes que incendeiam ônibus e atiram em helicópteros sejam beneficiados pela progressão de regime e venham a cumprir uma parte da pena longe da prisão. Isso é um absurdo!
Enquanto há ONGs que desempenham função de algum relevo na área social, outras estão mais preocupadas com a pura demagogia. Elas criticam a atuação da polícia, alegando que a corporação é preconceituosa, que trata todos os pobres como criminosos, indiscriminadamente. É um discurso ideológico e falacioso, que acaba, no final, beneficiando os traficantes, pois as ONGs colocam os bandidos no papel de vítimas, e não no de algozes. Sem dúvida nenhuma, uma completa inversão de valores.
A complacência com os criminosos sempre foi motivada pelos interesses eleitorais. Mas, é preciso que se diga, ela não vem só dos políticos. Passou a ser propagada também por certos movimentos sociais atuantes nas favelas. Eles acabam sendo um obstáculo ao trabalho dos policiais.
Foram décadas de erros grosseiros por parte dos políticos, que acabaram dando sinal verde aos bandidos. Nas décadas de 80 e 90, disseminou-se no Rio a ideia de que bastava resolver o problema social nas favelas que o tráfico sumiria como consequência da diminuição da pobreza. O pensamento então dominante era que a polícia trazia mais problemas do que solução. E os PMs simplesmente deixaram de subir os morros cariocas. Veja o absurdo!
A única maneira de combater os traficantes é indo à raiz do problema: antes de qualquer coisa, eles precisam ser desarmados. É condição básica reaver aqueles territórios dos quais os criminosos foram se apoderando, sob os olhos complacentes das autoridades que se revezaram no comando do estado.