Coleção pessoal de michelemachado
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois de se passar a noite inteira a dormir cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de largar. Sempre fui solitário. Desculpe-me, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma ou outra fodidela, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. Eu sei que não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram as pessoas que me tornaram infeliz.
Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.
Sentia-me contente por não estar apaixonado, por não estar contente com o mundo. Gosto de estar em desacordo com tudo. As pessoas apaixonadas tornam-se muitas vezes susceptíveis, perigosas. Perdem o sentido da realidade. Perdem o sentido de humor. Tornam-se nervosas, psicóticas, chatas. Tornam-se, mesmo, assassinas.
É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom,bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa.
O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.
O destino decide quem vamos encontrar na vida, o coração escolhe quem queremos em nossa vida, mas as nossas escolhas decidem quem fica.
Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.