Coleção pessoal de Mg10

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⁠Certas reações a este livro, ultrapassando a taxa de imbecilidade média prevista, tiraram do autor qualquer dúvida que ele porventura ainda tivesse quanto à credibilidade da tese aqui defendida, segundo a qual alguma coisa nos cérebros dos nossos intelectuais não vai bem.

Primeiro foi o Paulo Roberto Pires que, não gostando deste livro, inventou outro e escreveu sobre ele em O Globo, jurando que era este. Depois vieram André Luiz Barros, Gerd A. Bornheim, Muniz Sodré, Emir Sader e Leandro Konder, que, reunidos numa página do JB de 4 de setembro, nada dizendo do livro, emitiram estes pareceres a respeito da pessoa do autor: Não é de nem homem. É um bestalhão. Não vou servir degrau para uma pessoa dessas. Ė covarde. Se apoia no poder econômico. É direitista. Não tem nem diploma.

Diante de tais perdigotos, só resta ao acusado acrescentar à sua tese as letrinhas fatidicas:

C.Q.D

Detalhes da demonstração o leitor poderá obter no suplemento que reúne nas páginas finais do presente volume as respostas do autor a essas e outras criaturas inquietas que, à simples audição da palavra "imbecil", logo sairam gritando: "É comigo!" E manifestando o desejo incontido de dar com a cara na mão do autor. O suplemento destina-se a pedir a essa parcela do público que se acalme e aguarde na fila, pois, não havendo escassez de carapuças na praça, não há também motivo de afobamento.

⁠Mas Reich parece acreditar que uma nova geração de jovens excepcionalmente brilhantes pode fazer pela trôpega economia americana o que a geração de Robert McNamara não conseguiu fazer pela diplomacia americana. Ou seja, restaurar, por meio da simples capacidade intelectual, a liderança mundial que os Estados Unidos des- frutou por um período tão curto após a Segunda Guerra Mun- dial, perdendo-a em seguida não tanto, é claro, por estupidez quanto por arrogância — a "arrogância do poder", como o senador William Fulbright costumava chamar na qual os "melhores e mais inteligentes" são congenitamente viciados.

⁠A CLASSE MÉDIA ALTA, o coração das novas elites profissionais e empresariais, é definida, além da sua renda em rápida as- censão, não tanto por sua ideologia quanto por um estilo de vida que a distingue, mais ou menos inequivocamente, do resto da população. Mesmo o seu feminismo isto é, o compromisso com uma família em que pai e mãe têm cada um a sua carreira é uma questão mais de necessidade prática do que de convicção política.
Christopher Lasch

⁠A riqueza, hoje em dia ou, para muitos americanos, a simples sobrevivência - requer a renda adicional representada. pela participação da mulher na força de trabalho. A prosperidade desfrutada pelas classes empresariais e profissionais, que compõem a maior parte dos 20% do topo da pirâmide de renda, deriva em grande parte do modelo conjugal emergente, grosseiramente conhecido como "contrato de acasalamento" ou seja, a tendência dos homens de se casarem com mulheres que possam contribuir com uma renda mais ou menos equivalente à sua. Os médicos costumavam se casar com enfermeiras, advogados e executivos com suas secretárias. Hoje, os homens da classe média alta preferem se casar com mulheres da sua própria classe, colegas de profissão ou de negócios com suas próprias carreiras lucrativas.

⁠Pode-se esperar um declínio nos padrões de vida das classes médias em todos os países a que denominamos, cor tanta esperança, de mundo em desenvolvimento. Em um país como o Peru, que já foi uma nação próspera com perspectivas razoáveis de melhoria das instituições parlamentares, a classe média praticamente deixou de existir. A classe média, como lembra Walter Russell Mead no seu estudo sobre o declínio do império americano, Mortal Splendor, "não surge do nada". Seu poder e número "dependem da riqueza geral da economia doméstica", e, conseqüentemente, nos países em que "a ri- queza está concentrada nas mãos de uma pequena oligarquia e o resto da população é desesperadoramente pobre, a classe média pode crescer somente até um certo ponto. (...) [Ela] não escapa ao seu papel básico de classe que serve à oligarquia".
Christopher Lasch

⁠Quando José Ortega y Gasset publicou A Rebelião das Massas, traduzida para a língua inglesa em 1932, ele não poderia ter previsto um momento em que seria mais apropriado falar de uma rebelião de elites. Escrevendo na era da revolução bolchevique e da ascensão do fascismo, em meio ao que restara de uma guerra cataclísmica que arrasou a Europa, Ortega atribuiu a crise da cultura ocidental ao "domínio político das massas". Hoje, entretanto, são as elites que controlam o fluxo internacional de dinheiro e as informações, presidem fundações filantrópicas e instituições de ensino superior, administram os instrumentos de produção cultural e, portanto, estabelecem os termos do debate público, que perderam a fé nos valores do Ocidente, ou no que resta deles. Para muitos, o próprio termo "civilização ocidental" lembra agora um sistema organizado de dominação que se destina a reforçar a conformidade com os valores burgueses e a manter as vítimas da opressão patriarcal mulheres, crianças, homossexuais, pessoas de cor permanentemente submissas.

⁠Uma vez foi a "rebelião das massas" que se considerava ameaçando a ordem social e as tradições civilizadoras da cultura ocidental. Atualmente, a principal ameaça vem daqueles que estão no topo da hierarquia social. Esta notável mudança nos acontecimentos confunde nossas expectativas quanto ao curso da história e coloca em questão antigas hipóteses.

⁠Estas revelações esclarecem ainda mais o declínio do debate democrático. "Diversidade" - slogan atraente à primeira vista - acabou significando o oposto do que parece. Na prática, diversidade resulta na legitimação de um novo dogmatismo, em que as minorias rivais entrincheiram-se por trás de um conjunto de crenças impermeáveis à discussão racional.

⁠O argumento de Lippmann baseava-se em uma nítida distinção entre opinião e ciência. Apenas a última, pensava ele, poderia alegar objetividade. A opinião, por outro lado, baseava-se em impressões vagas, preconceitos e racionalizações de desejos. Esse culto ao profissionalismo teve uma influência decisiva no desenvolvimento do jornalismo moderno. Os jornais poderiam ter servido como extensões dos comícios municipais. Em vez disso, eles abraçaram um ideal de objetividade mal orientado e definiram sua meta como a de circulação de informações confiáveis - isto é, o tipo de informações que tende não a promover o debate, mas a frustrá-lo.

⁠Pensa na tua vida como uma startup. A própria Uber abriu o capital na bolsa valendo centenas de bilhões de reais sem nunca ter dado lucro. Por quê? Porque os investidores focaram na capacidade que a empresa tem para gerar caixa no futuro. Foi exatamente isso que o Mario queria instalar no meu hard drive. De um lado, 20 reais era pouco para um cara que tinha 10 mil na conta. Do outro lado, 10 mil reais eram absurdamente pouco para um cara que tinha capacidade de gerar bilhões e bilhões.