Coleção pessoal de metralhadorademagoas
E finalmente descobrimos que desperdiçamos uma parte importante de nossas vidas nos preocupando com pessoas que depois, sem dó nem piedade, nos extirpariam para sempre do seu convívio; sem a menor consideração pelo que fizemos por elas — em situações em que nos esquecemos até mesmo de nós —, jogando por terra tudo aquilo que sonhamos e construímos juntos.
Quando você ama desesperadamente alguém, e diz e demonstra isso todos os dias, você cai na ingenuidade de achar que é plenamente correspondido. Você esquece que o outro não é você — embora a tradição tenha incutido na mente da sociedade a ideia de que o matrimônio torna dois em um só.
Às vezes nos doamos demais a quem não nos tem o menor apreço. Tratamos como inestimável quem, na verdade, tinha um preço.
Eu perdi o sentido do meu existir. A bem da verdade, jamais encontrei sentido algum. Só fantasiei que pessoas pudessem sê-lo — e fiz disso o meu falso milagre.
Você decidiu confiar em alguém mais que em si mesmo, e agora terá que conviver com o fato de que só você se restou.
Ao dar-lhe um último presente, falei: "Para você não se esquecer de mim". Ao que ela respondeu: "Como se fosse preciso".
Um mês e alguns dias depois, por telefone, ela terminaria o nosso relacionamento de quase três anos, sem apresentar nenhuma razão objetiva.
Até hoje não sei direito como processar ou reagir.
No fundo, eu só gostaria de encontrar uma explicação, ainda que eu saiba que isso já não mudará o curso dessa história.
E se ainda me resta alguma coisa a dizer, é que invejo o seu poder de esquecer, e mais ainda o seu dom de iludir.
Ela quis tanto ser meu único pensamento que resolveu me deixar. Para que eu sofresse por ela, e não pelos mortos que eu estava a enterrar.
Fui morto na noite de janeiro, asfixiado por um travesseiro ligeiramente em mãos vulgares. Fui sacrifício em vis altares, mas sabia não ser o primeiro.