Coleção pessoal de meiremoreira
Se ao menos eu bebesse
Se me drogasse
Se rolasse com os dados
Talvez eu pudesse deixar de sentir
Esse peso
Essa falta
Esse vazio
Quando tudo se perde
Ninguém parece ter vencido
Um adeus é mais triste
Se não for dito.
Quando for tempo,
traz teu abraço,
junta-o todo calor
ao meu peito frio,
aquece-o em brasa,
toma dele o coração
que agora revive
para viver no teu.
Quero trazer você para o meu mundo
Ou entrar no seu
O que for mais difícil
E complicado
Quero domar a fera que existe
Nessa quimera
Vou traçar meu plano de conquistas
Invadir seu reino
No meu cavalo alado
Quando eu chegar se apresse
Toque o sino da campana
Mande cobrir o caminho de flores
E recite um madrigal
Não tema parecer bobo
Na minha corte
Mas fuja se acaso
A realidade nos acordar
No dia seguinte.
Separação
A despeito do desfecho
Uma separação é sempre triste
Um anúncio na entrada
Vende-se esta casa
E vários cartazes de imobiliárias
O casamento até pode esperar
A separação não.
"Vem por aqui" - diz alguém.
E emenda: "é seguro e tranquilo"
Aí você vai por lá.
E descobre que lá mora o espanto, a novidade, a beleza.
Eu não quero saber se você é ateu.
Quando eu te falar "dorme com Deus", não estou pedindo que você aceite Deus na sua cama. Estou afirmando que Ele está aí.
Cada vez que você vai
Abre um buraco em mim
Mas não um buraquinho qualquer
Abre logo uma cratera
Que engole tudo:
O sorriso, a fome, a vontade, o ar
Porque se tornou tão imprescindível assim?
Porque fez ninho na minha pobre cabeça?
Veja esse pensamento desalinhado que sai de mim
Nada faz sentido
Nada obedece à regra nenhuma
Esse emaranhado de sentimentos
Começa e termina em você
Então, deixe eu morar aí no seu peito
Deixa eu ficar de qualquer jeito
E fica, meu amor,
Em mim.
Não pise em mim como se eu fosse uma barata.
Pise como se eu fosse uma pedra.
É, uma pedra está bom.
Quero tanta coisa
Tanta coisa boba e banal
Tanta coisa fácil de ter
Quero destravar os sonhos
Deslimitar as fronteiras
Derrubar as cercas as travas as amarras
Quero buscar o limite do horizonte
E plantar nele o meu arcoíris
Quero olhar de frente o sol
Até queimar
Minha retina.
Quero a embriaguez da chuva
O calor dos vulcões
A sensação de acordar ma roça
Quero tanta bobagem que tenho vergonha de dizer
Fazer uma escultura de pedra
Usando seixos do riacho
Quero deitar no meio da rua
Quando for já tarde e seguro
Quero tomar banho na fonte
Usando máscara e snorkel
Quero um sem fim de coisas bobas
Que é para esquecer que eu não tenho
Você.
Obrigada por tudo
Pelo incerto
Pelo absurdo
Em uma curva qualquer
eu devolvo dobrado
Seus sonhos sombrios
Infinitos
vazios
calados.
O deserto
Cansada de depositar amor
Onde não nasce nada
Terrenos inóspitos não merecem atenção
Não geram frutos
Não se sentem cuidados
Cansada de arar uma terra fria
Um lugar seco sem vontades
Não aceita a água
Não bebe sentimentos
Não floresce auroras
Cansada de trazer sonhos embrulhados para presente
Quando quem recebe joga fora
E fica olhando para o papel
Desprezando o conteúdo
Cansada de ser luz
Onde só existe sombra.
Onde foi que a sanidade
Se perdeu de mim?