Coleção pessoal de MatheusKaue
Tem determinada conexão que é tão carnal mesmo não sendo sexual. Ontem dormimos juntos, fazia tempo que ninguém cuidava de mim. Meu instinto abraçou ela durante a noite, foi contagiante para minha alma que estava quase sempre sozinha.
Uma das coisas mais importantes que aprendi olhando para dentro é que não foi problema errar em ver, projetar ou inventar beleza na tua maldade. Meu principal erro sempre foi o julgamento severo por algo meu pelo fascínio do belo, pois ao tentar ver beleza ou profundidade no raso vislumbrei mais sobre mim e muito menos sobre meu crime.
Durante dois meses te vi dedicada. Dedicada em me deixar, nunca tinha te visto tão segura e determinada, confesso que admirei, mesmo com gosto amargo do teu objetivo. Eu não te odeio, odeio o fato de ter me deixado, lembrei até de quando brigávamos no telefone sobre quem amava mais. Bom, temos um vencedor.
Servi dois copos de margarita, era um brinde com a tristeza. Fizemos um trato, nunca mais que iria doar meu coração. Me arrependi depois do ato de apertar as mãos. Ela me disse: - Eu até cuspi para selar o acordo! Dei de costas. Seria injusto deixar de pregar amor por apenas nove disparo de uma arma, ou melhor, alma vazia.
Te matei da minha história pra preservar o incrível, pois teu novo não é crível. Fostes o ser mais incrível que conheci, contigo aprendi e me arrependi, fui amado e esfaqueado com tom de surpresa por ambos os lados.
Me lembro daquele colar azul celeste preso nove vezes nas preces de minha mãe, ela não admirava, mas o nome que eu clamava dizia: - Pula aqui em baixo, eu tiro um sarro. Quem queria o pulo não merecia beijo, mas quem ficava em baixo merecia amparo, não merecia descaso. Eu simplesmente não enxergava, mas minha prioridade por mim não lutava, não guardava vaga, mas para artista da globo tinha vaga, aceitava estada.
O potencial de uma criança tem uma beleza de caráter divino, do enxergar flor e espinho, enxergar beleza na chuva escorrendo em sujeira de basculante, seu admirar impressionante. A repetição de cada nova palavra a indagação da dúvida socrática e, quando incentivada faz maravilhas, tais como comer de talher na mão sem precisar de supervisão.
Tem dias que eu queria estar em ser criança. Cair de bicicleta e não ter ressentimento, chorar por brinquedo quebrado, me encantar com velho sábio a cada resposta dada a um pimpolho socrático.
Estou cansado das dores que fazem morada, das brigas não resolvidas e da resposta ser falta. Estou farto do crescer e ver cada resposta pequena que eu tinha ir pelo ralo raso dos sonhos nunca alcançados.
Quando o amor deixou de ser antônimo de ódio? Para meu companheiro de quarto foram nove invernos e já era sinônimo o nosso caso.
São três horas da manhã e eu já me julguei três vezes, já discuti três vezes e já gritei três vezes. Por coincidência três era o número de balas do revólver a três taças de calar minha fala.
Tem tanto toque insensível que despercebido passa por alma sofrida. Tem beijo que precisa de palavra proferida pra saber o quão sua boca é dolorida, reprimida. Tem pessoas que nós nos surpreendemos, nos dão ouvido mesmo sofrendo e pouco nos conhecendo.
Um dia um velho amigo me disse no reflexo de um vidro sujo, cuidado com quem amas. Fiquei perplexo, mas em alerta. Nove horas mais tarde eu havia levado nove facadas da visita que chamei de morada.
Com ela eu queria estar, mas ela estava com outro, em pleno amor envolto e eu só fico a dissertar, imaginar e dirigir essa cena. Que problema!
Fui diretor de uma cena na qual queria ser protagonista. Estava em um plano astral, telespectador, sei lá. Eu imaginava coisas, dissertava roteiros, dirigia a cena. Menos estava com ela.
A solidão já não me persegue, não me aborrece ela transparece. Já é de cintura justa, amiga e das puras.
Tem tanta confusão em coração partido que as vezes por nós mesmo somos iludidos, ou pior, outros são iludidos.
A expressão poética nem sempre vem apenas de teus próprios sentimentos, às vezes vem doada de terceiros, como em uma conversa de cuecas na cabeceira da cama de um hospício.
-Socorro! Te gritei sem estender a mão. Eu não queria, queria alguém pra conversar. Eu sempre me entendi melhor no fundo do poço.
Hoje vi um coração partido em vão, fui telespectador de um pobre apaixonado por um coração complicado.