Coleção pessoal de MatheusHoracio
Não é sobre como começamos, mas sobre como encerramos. Quando paramos com o "tudo bem" e entendemos que o "basta!", é sim uma necessidade que impede a loucura.
É um erro pensar que só porque algo nos agrada, esse algo não desagrada o senso comum. Nossa mente está habituada a tomar coisas que consideramos boas como uma verdade, simplesmente para satisfazer nossa carne e pensamentos.
E agora, entre pessoas aparentemente bem, e totalmente normais aos olhos, deixamos de enxergar o quanto estão sentimentalmente traumatizadas e fragilizadas. Elas temem que os piores filmes se repitam, evitando o início por medo do fim.
A melhor parte do meu dia é quando eu não preciso lidar com as pessoas. Quando não preciso responder perguntas, nem encarar os olhos piedosos. Esse momento que eu passo pela porta, sento na cadeira e sou só eu. Apenas eu, e nada mais.
O ser humano é mutável,
Por que não seria?
Por que ser a mesma casca impenetrável,
A cortina fina entre o que devemos e o que podemos ser.
Por que não seria amável?
Por que não seria gentil?
O que vivemos, o que passamos, enfim...
Levamos conosco, enrolamos numa mochila, escrevemos no teto, nas paredes.
Mas isso não nos define.
Por que definiria?
Por que não ser algo melhor do que fui ontem?
Mesmo se chover, mesmo se nevar, mesmo se o café não estiver acompanhado de nada pelos próximos 10 anos. Por que lamentar?
Por que o lamento?
É mais fácil entender, compreender que tudo é posse do tempo, mas quem dirige, escreve e corrige o momento, é você.
É preciso resolver as ausências, porque a vida se resume em ausências. O frio é ausência de calor, a morte é ausência de vida. Mas antes de mais nada, o ódio é ausência de amor. Temos que lidar com as coisas importantes que nos faltam, para não vivermos dos restos.
"Na juventude eu vivenciei todas as coisas que eram possíveis. Tive uma uma vida plenamente incomum. Não me apeguei a pessoas, e conheci muitas delas. Meu envolvimento era superficial, como o de muitos homens. O desejo era carne, de satisfazer o momento. Evitando o compromisso, vi minhas paixões conhecerem outros homens e até casarem com eles, terem filhos, netos e serem felizes. Aqueles eram os filhos que nunca faria, e as famílias que não construiria, e os netos que não buscaria nunca na escola. E hoje é tarde demais para lamentar. Uma pena, uma pena."
E tenho me preocupado com aqueles sorrisos. Sorrisos que dizem "eu não tô bem", mas abrem mão do diálogo, do questionamento. Pelo cansaço de responder as mesmas perguntas, ou por não ter tantas respostas. Por trás de cada um desses sorrisos vazios tem um pouco menos de cor, de vida, ou desejo de buscar coisas melhores. Estão simplesmente abrindo mão de tudo.
Na verdade, esse nunca foi um mundo de reciprocidade. É algo muito mais próximo de uma grata surpresa do que de um acontecimento normal.
O pensamento de que ninguém é totalmente bom nesse mundo vem da premissa de que o mundo já não é bom.
A palavra de ordem sempre foi a "parcimônia". A medida certa de tudo que tá disposto a dar e fazer por alguém. Sempre amar na mesma medida, e responder o carinho na mesma quantidade. É impossível ser feliz quando é o único que se doa ao máximo.
E tudo era como as páginas de um livro escrito a lápis. Um livro imóvel, parado, recebendo chuva de poeira. Suas letras se apagando aos poucos, lentamente, até que ele não tenha significado nenhum, nem mesmo saibam que aquilo um dia foi um livro.
Aceitei que é melhor colecionar dores e não amores. As muitas dores ensinam, mas amor eu só espero viver um.
Esses dias, me vi imaginando infinitas possibilidades. Vi mais possibilidades do que achei que podia. E em todas elas, era colorido. Eu que sempre enxerguei tudo em preto e branco, vagando mais do que vivendo, me senti renovado ao ver aquele sol descendo no final do mundo, nos aplaudindo sentados na areia e descobrindo a sorte de esbarrar um no outro por essa vida tão tortuosa.
Tenho mil coisas no coração que provavelmente apodrecerão com ele no final. Tudo que senti, foi unicamente e exclusivamente meu.