Coleção pessoal de MatheusHoracio
É preciso ser leve, ser natural. Se para as coisas mais simples você tem que implorar, se ajoelhar, pedir, gritar, exigir, então não queira mais.
Eu nunca soube o que as pessoas queriam realmente, nem o que precisavam para se sentirem bem ou feliz. Eu sabia que as queria bem, e simplesmente achava que sabia como fazê-lo. Embora pudesse errar nas decisões, nunca tive más intenções.
É extremamente cansativo e prejudicial, essa coisa de se diminuir para caber em espaços que não são nossos.
Em toda vida eu tive a oportunidade de proporcionar e render grandes momentos, e até felizes, para as pessoas mais importantes pra mim. São coisas as quais eu nunca me arrependo. Mas existe sempre uma falha na equação, e depois de juntar, unir, apoiar tanta gente, no fim de um dia é estranho saber que vai ser sempre eu por eu mesmo.
Existe uma lenda que diz que quando não conseguimos dormir a noite, é porque estamos acordados no sonho de outra pessoa.
Me perguntava se todas essas noites mal dormidas eram você sonhando, se seria apenas a insônia, um dos muitos problemas que já tinha. Me perguntava se seria sempre tudo desse jeito. Mas sempre tirava o melhor proveito das pernoites, imaginando se você não dormia quando a situação era contrária.
Faltava alguma coisa, algum detalhe inacabado, isso me saltava o coração, arranhava as paredes da mente. Talvez a madrugada seja pra pensar, e não para dormir.
Não era o mais comum dos cenários. Eu estive sozinho a maior parte do tempo, e quando não estava sozinho, estava repleto de companhias. Embora as vezes fosse extremamente interessante para outros, nem sempre era para mim. Mas eu era muito bem acostumado a monotonia. Porém, você não ligava para isso. Você queria mexer em tudo! Revirando do avesso todas as certezas, me fazendo querer ver todos os dias o mesmo rosto ao meu lado quando abrisse os olhos, e o mesmo sorriso depois das minhas piadas. E enquanto o tempo passava eu percebia que não era sobre os dias de liberdade que eu tinha vivido até então, mas era sobre os dias com a pessoa certa que faziam com que eu me sentisse realmente livre. Não havia dor, nem nervosismo ou impulso. Só havia o momento.
A minha definição de beleza sempre foi outra. É verdade que um rosto bonito cativa, um sorriso gentil também. Mas isso não é tudo. A beleza verdadeira é uma alma bonita, uma pessoa que mude nossa vida só por estar nela. Dentes caem, peles enrugam, mas alma bela é pra sempre.
As 19:00 eu não era ninguém. Talvez nem tivesse essa pretensão. Até ali eu sempre estive sozinho, meus livros, bebidas e pensamentos. Quando bateu 20:00 eu ouvi uma voz, como quem chama em sussurros, e convida através de um buraco na fechadura da porta. Curioso e sozinho eu atendi. As 21:00 eu te vi pela primeira vez. Mas apesar de muito explícito o que você pensava, talvez o comodismo de estar sempre só não me permitia sair naquela noite. O relógio soou às 22:00 e eu resolvi apostar. Estava tão linda, e sua gentileza e bondade enrolados num sorriso mexeram com algo que eu não sabia que tinha, ou que era capaz de sentir. 23:00 e a noite era nossa! A música, a dança, fitei a felicidade como nunca antes na minha vida. 00:00! "Faça um pedido", nos beijamos. Talvez ele tenha se concretizado rápido. As vezes essa é a sorte de uma vida. Como uma moeda da sorte. Não mais contei as horas, só queria estar ali pra sempre.
Eu nunca tinha as respostas na hora exata, a menos que estivesse preparado para a pergunta, nunca respondia no mesmo dia. No dia seguinte minha mente descansada sabia tudo que deveria dizer. Então se eu vier a te confundir, se tiver uma dúvida, se isso te incomodar...
Me pergunte amanhã.
Parede
Era minha grande oportunidade. Acho que os pintores ao verem uma tela vazia e sem forma devem pensar assim. Existem mil possibilidades numa folha em branco. Um coração limpo é um coração esperando para ganhar forma. Foi o que eu pensei. Passei a vida inteira em casas sem quadros, paredes brancas, disformes e sem vida. Nunca pensava em como poderia dar um pouco mais de brilhantismo para aqueles cômodos. Nunca sabia como dar esse mesmo brilhantismo para minha própria vida. Tinha o pincel, a tinta, e nenhuma habilidade. Mas quem diria que minha notável habilidade de ser inapto a quase tudo teria um sentido. Naquela noite eu já esperava por outra fatia de sono, outro pedaço de vida que ia embora sem ninguém evitar.
E então você me ligou.
Era noite de domingo, e normalmente, como todas as noites do fim de uma semana, eu costumava ligar. Mas em certo momento parei. Parei de fazer o que quase sempre fazia, e de ser quem era. Sabia que para ser novo, tinha que me renovar, e pra isso, mudar as aberrações que haviam entre nós. Era aberrante ser teu, e ainda sim ser só. Era anômalo só o respirar da minha própria insignificância. E eu sabia a todo momento que havia trilhado o caminho que sempre me recusei, e desviei. O sentimento era uma fobia do escuro, e de estar sempre sozinho nele. Das muitas formas de tornar-se um escravo, escolhi a mais brutal, aquela que maltrata a mente como uma corrente de elos invisíveis. Mas a ira de um bom homem pode ter um uso melhor, e resolvi escrever a próprio punho minha carta de alforria. Agora você é alguém no mundo. Nada de especial, ou diferente. Era só mais um rosto entre os milhares que vi e ainda veria, até o derradeiro fim, quando justamente me torna-se pó dessa terra como todos os outros que viriam.
É completamente possível que você morra de saudades de alguém, mas não queira proximidade. Isso significa que apesar de ser importante e fazer falta, a distância faz de você uma pessoa mentalmente mais saudável.
As vezes me sinto como um pássaro, dotado da habilidade de voar livremente, mas que foi engaiolado só para que trouxesse prazer aos ouvidos de outros enquanto canta a mesma sonata triste em todas as manhãs.
Não é sobre o que pensamos às 2:00h da manhã em meio a solidão, e sim o que vem a mente numa tarde de domingo leve e tranquila. Ninguém precisa de ninguém. Todos precisam de si apenas, e quando aprendem, aí estão prontos para pensar mais além.
Aquela figura de bastante idade, virou para mim e disse:
-A dor é inevitável na vida, assim como todos os sentimentos mais complexos e até os mais simples. O ser humano nasceu com o dom de viver e superar. Somos horríveis em evitar, mas bons em superar. E mesmo que a dor venha ao seu encontro, e não saiba como superar, aprenda com ela. Torne-a uma companheira, mas nunca uma amiga. Deixe ela ali, tornando-o mais forte, mas sem permitir que ela tome o controle. Que ela seja o espinho no dedo quando o excesso de coragem tirar sua inteligência, mas que ela nunca seja a rédea que limita seu progresso. Entenda a dor, aceite que ela é sua, e viva em paz consigo.
Lamento morena, desculpa dizer. Não fomos longe como achávamos possível. Planejamos a longo prazo sem resolver as pendências do agora. Lamentamos os lamentos de dois jovens que acreditavam serem vividos ou sábios o bastante para reconhecer e perseverar na verdadeira natureza do amor. Agora somos assim. Indiferentes, frios, distantes como uma estrela que viaja só no espaço gelado. Faltou diálogo, meu bem. Mais do que isso, faltou conexão. Daquelas que a gente olha no olho e sabe que não tá bem, e que reconhece no tom das brincadeiras que o riso é agora frouxo e sem viço. Nessa dor sem fim, o fim veio a galope. Devorou os planos como a personificação da fome, bebeu da nossa pureza como a encarnação da sede, deixando no nosso oásis particular esse Saara de agonia, árido, seco, vazio...
O amor é um deus. Não sinta nenhum tremor religioso com a frase, mas é a verdade. Ele só existe à partir de uma crença inquebrável, uma fé inabalável, e à partir dele se constroem coisas e se destroem também. Ele tem sua contra parte (ódio) como todo deus que se preze. Sua ausência mostra o que há de pior nas pessoas. O amor é uma divindade própria, com suas próprias leis, que nos elevam, e ao não ser presente, revela nossas maiores mazelas.
Chegar a ter como primeiro pensamento do dia esse "O que mais agora?", revela muito sobre os pensamentos cansados que se arrastam em suas fantasias de sorrisos frouxos e olhos sem brilho.