Coleção pessoal de mariofrs
Se ela existe eu mal sei,
certo é que não a vi.
Se for sabor não provei,
se cheiro não cheirei,
se ela existir, não senti.
Nada jamais aconteceu no passado, aconteceu no Agora. Nada jamais irá acontecer no futuro, acontecerá no Agora. Enquanto não percebermos esta prisão no hoje da qual somos escravos eternizados, não conseguiremos ser felizes. Culpar um ontem ou empurrar os desejos para um amanhã é tão inútil quanto vago. O que vale, de fato, é este instante, e se pararmos pra pensar, mais fazemos nada do que qualquer outra coisa.
"Eu me chamo Antônio."
Eu me chamo Antônio e vivo pelas beiras das calçadas. Tenho olhares tristes de alguém que perdeu um futuro e mal sabe se acorda amanhã. Eu me chamo Antônio e mendigo centavos quaisquer, roubo restos de comida que distraiam minha fome e à tardinha procuro um papelão que me cubra ao frio nesta cidade escura e silenciada pelas noites longas. Me chamo Antônio e maquio minhas dores, maquinando roubar sorrisos de pessoas que são felizes e não sabem disso. Me chamo Antônio e sou um velho palhaço triste em busca do sonho bobo de viver, porque até hoje apenas existi. Me chamo Antônio e sou apenas mais um neste mundo de hipócritas, sou só mais uma realidade desprezada pela sociedade e contada nos índices tristes das enquetes dos jornais deste país de Antônios. De antônimos. Me chamo Antônio e sou fome, pobreza e solidão... sou só mais um pidão de esquina. Peço moedas, peço sorrisos ou alguém que me estenda as mãos. Peço abraços, olhares ou atenção. Moço, eu me chamo Antônio e já levei muitos nãos! Já supliquei subempregos e já pulei os muros da escola só pra saber como era estar lá dentro e o que era “ter educação”. Eu já chorei por dentro rindo pra fora e já me dei conta do que viver é. Me chamo Antônio e vivo assim, vestido em trapos e maquiado de palhaço, causando risadas largas nem que pra isso tenha de rir da minha própria desgraça. Pois é, pois bem... Muito prazer, eu me chamo Antônio e sou mais um avesso que a vida fez. Eu me chamo Antônio e sou o antônimo dos sonhos que o mundo tem.
A Pedra
Ofereço esta pedra a todas as pessoas que escrevem suas histórias n'areia, para que escrevendo nela, nem o vento, nem a chuva, nem a mais turbulenta onda do mar possam apagá-las. Ofereço também aos que têm sede de julgamento para que atirem-na contra a própria testa tendo consciência que nem mesmo o mais sensato juiz é isento de erros. Ofereço-a ao fraco, para que a exemplo dela, tenha força, firmeza e solidificação. Ofereço-a também ao forte, para que lembre que fora com esta, quem um dia, Davi matara Golias. Ofereço-a, ao caminho, para que não haja a facilidade de se chegar sem antes vencerem os obstáculos. Ofereço esta pedra ao pobre, para que veja que tem a primeira peça para construiu um castelo. Ofereço-a ao apressado, para que nela tropece e saiba entender que devagar se vai mais longe. Ofereço-a aos que têm coração rochoso, para que veja que dali não sai, não entra, não cresce, não muda e não floresce nada, nem ninguém. Por fim, ofereço esta pedra a todos os homens e mulheres, para que entendam que somos tal qual, podendo edificar um castelo ou desmoronar um homem. Ofereço-a, assim, pra que compreendam que como ela, viemos do pó, e ainda como ela, a ele retornaremos.