Coleção pessoal de marianastofel
Por saber dominar aquilo que conhecemos por palavras,
só me cabe invejar cada vão silêncio que me abriga.
E mais vale o tempo que dorme, que paira no vento feito borboleta, que aquele que é escrito antecipadamente, com a mais fiel das canetas. Porque, se há na vida uma certeza, é de que nada se apaga.
Se há algo do qual temo, aprendi que, aos poucos, o temor vira marca, e que somos todos um conjunto de marcas, todas intactamente preenchidas, escuras, que nos tornam exatamente o que somos. E mais vale o que se é em segredo, que aquilo que se mostra, sem medo, aos olhos alheios.
Caminhar é sempre deixar para trás.
E deixar é sempre perda.
A vida que parece não se importar
Torna-se a mais perigosa passagem
Para aquele que nunca chega.
Porque caminhar é sempre deixar para trás.
E deixar é sempre um conquista.
Há de se convir que, com as mãos vazias,
haverá sempre um novo passo, um novo dia,
Um novo destino em vista.
Você nasce, floresce, evapora. Menina, flor, chuva. E você cresce, desabrocha, armazena-se em camadas. Menina, flor, chuva. Enfim, você morre, murcha e chove, menina, você sempre chove. Eu sentia isso, aos poucos, mas sentia. E não havia estágio intermediário, era algo bem mais complexo pensar em ciclos, pois era impossível prever aonde eles terminariam e qual seria a última gota de toda essa chuva. Vai dizer que isso também não o assusta?
Tenho medo de gostar demais do frio. Sabe quando se sabe que no fundo, bem no fundo, há um vácuo de razões, tão vasto, que a gente mal consegue olhar? No fundo de nós há sempre um precipício, e talvez eu esteja lá, deitada, olhando estrelas como sempre faço.
Acho intrigante toda essa comida na mesa ainda, estas moscas por cima. Irrita-me tudo que me cerca, que me prende, que me vigia. Mas saiba, Deus, não espero que me nasçam asas porque, de qualquer forma, eu jamais conseguiria voar.
Você sabe... Meus sonhos ainda me pesam.
E se não me faltasse paciência pra ver tudo se enquadrar? E se eu não mais tivesse vontade de pintar esse auto-retrato todo cheio de rasuras? E se eu ainda fosse tua? E se o céu, encoberto de estrelas, viesse ao chão pra deixar tudo mais belo? E se os abraços que eu recebo fossem todos sinceros? E se os segundos resolvessem gravar as mentiras que eu ouço? E se tudo que há de concreto virasse as paredes do meu calabouço? E se nem os anjos souberem de mim? E se eu for apenas uma vírgula pro fim? E se o sol tivesse acordado mais tarde e eu dormido mais cedo?
- Não há do que se envergonhar. Mostrou tua face, e por vezes, minha vontade era te esbofetear. Agora não mais, não há dor, apenas tédio do que seríamos.