Coleção pessoal de MarianaMarkes14
Carol
Escuto o teu cheiro
Andando por ai
A passos lentos
Como quem vive
Cada instante
Como quem pisa no chão
Mas não com o corpo;
Com a alma.
Guarda dentro de si
Um universo
Que a ciência não explica
mas se explicasse
e eu não a deixasse
seria egoísta proibi-la
de compartilhar?
Só porque eu adoro contemplar
sozinho esta vasta vista?
Te amo como quem respira
Eu inalo, mas não solto
[tão rapidamente
Pois quero que fique um pouco
de toda recordação
em cada canto
do meu pulmão.
Texto sem título
Eu não sou mais que eu costumava ser. Eu costumava cantar quando era mais jovem, mas agora, o meu silêncio é mais profundo do que uma música particularmente especial.
Quando envelhecemos, nós percebemos que a fonte da juventude não existe e que nenhum raio de esperança será capaz de impedir o acontecimento daquilo que quase todos nós tememos, a morte.
A morte já se hospedou vinte ou trinta vezes em minha casa, às vezes a sua chegada era tão imprevisível como um parente distante que eu nunca cogitei a possibilidade de conhecer tão cedo, mas eu nunca quis conhecê-la, por isso eu sempre a temi, na verdade, acredito que todos temam a morte por isso, porque ela é imprevisível.
Aglomerado
Meus dias encontram-se exatamente iguais, em todas as manhãs eu me perco em meio ao aglomerado de pessoas ao meu redor apenas procurando por você, mas aonde você está?
Depois que você me deixou cair, passei todos esses anos recolhendo os meus cacos e, incrivelmente, eu ainda não encontrei todos eles.
O corvo e o canário
Havia um pequeno corvo que encontrava-se - o tempo todo - solitário, sozinho e inseguro.
Ele voava sempre na mesma direção à procura de proteção ou de abrigo. Às vezes, à procura de outra ave que pudesse fazê-lo feliz novamente, embora nunca tivesse a encontrado.
Ele voava sozinho, vivia sozinho e toda vez que a sua existência era negligenciada pelos canários mais bonitos de todo nicho, um buraco enorme em seu peito abria-se e ele sangrava, mas essa dor não era física, era da alma.
Enquanto isso - no outro lado do nicho - morava o canário. Uma das mais belas aves que existiam. Toda vez que cantava era como se deuses estivessem dançando nos céus, o corvo amava vê-lo cantando, o corvo amava vê-lo voando. Era a ave mais apaixonante de todas e, assim como o corvo, também tinha muitas cicatrizes
e tais cicatrizes sagravam toda vez que arrancavam a casca de ferida.
O corvo dizia a si mesmo “tenho band-aids a oferecer” mas sabia que eles não iriam cicatrizar a alma do canário que também estava ferida.
Então, partindo de um pensamento errôneo, resolveu ajudá-lo, ele amava tanto o canário que não poderia mais encontrá-lo naquele estado. Resolveu ajudar, mas de forma errada, então tudo o que ele fez foi jogar sal na ferida.
O corvo perdeu o canário.
Breu
Enquanto a insônia me ataca, meus pensamentos transformam-se em punhais que insistem - todos os dias - em perfurar o meu crânio.
Enquanto carrego o fardo da sua ausência, lembro-me de que tudo o que tenho são só fotos e memórias, fotos daquilo que nunca fomos e memórias daquilo que nós nunca seremos. Seus olhos eram como estrelas que nunca couberam no pequeno céu que eu tinha a oferecer, por isso fiquei por tanto tempo no escuro.
Você desapareceu da minha vida sem mesmo estar nela e isso fez com que eu inventasse uma história melancólica perfeitamente elaborada para algo que nunca existiu: Você e eu.