Coleção pessoal de mariajoaodumas
Imagine-se em suspiro, a pele.
e num cálido halito em flor
a sustentação suspensa do sopro
onde levite ébrio, um olhar amante...
.
atente-se na estátua, em calma.
no arfar suave do peito
o angulo raro, em jeito de ave
no poiso encanto, da alma...
.
imagine-se em voo pleno, a pluma
como um susto que arde
como em suma, o desejo clama.
imagine-se, em chama, o beijo
o que importa, quantos amores tive
se a eternidade não tem fim
se é em mim que a dor vive
quando, enfim, o dia morre
o que importa ser-se livre
se amar não for sorte
Se a morte for o único destino
O que importa ao Sul, se for Norte.
O arrepio move-se por caminhos próprios e insondáveis. A única coisa certa, que se conhece sobre ele, é que é inimigo do obvio, ainda que, do surpreendentemente óbvio
vim, só para te contar de mim.
de uma vez dizer-te quem sou.
e vou agora que vim
contar-te tudo num beijo só
lento e profundo
com jeito de mundo
que não pára, despe e suspira
tua pele, de súplica vestida
que suplica no fundo
que meu beijo não pare
nem que pare tudo
nem que o mundo acabe
e eu, sigo-te neste jeito
louco e profundo
de quem só quer, no fundo
o mundo todo no teu peito
um dia, acordei esfomeado
troquei o coração por maçãs..
perdi a fome e a alegria das manhãs
e morri, tardes e noites, sem fim
há um vendaval iminente
em cada passo que te aproxima
um arrepio que a pele sublima
nessa espera por ti urgente
nesse ar teu que faz do clima
um ranger gemido e quente
suave sentir roçar do ventre
como só o mimo toca e mima
ah, o desespero de quem te sente
nesse vendaval que se aproxima
sem saber como se prende
se por entre por baixo ou por cima
este vendaval que demente me fustiga
como quem beija impunemente
Ela não se diz, Ela foi
não é alegria, que esvoaça e poisa
Ela engasga, suspende e cala
no tempo de um susto
no tempo de um espanto. e vai
não falou, não disse que ia
Felicidade, é a coisa
não se diz, sobrou
no travo a saudade
na sensação tardia.
e quando eu morrer, um dia
que se guardem, meus olhos
junto ao encontro do encanto.
Ali, antes da saudade
entre o susto e o espanto.
Como se impede uma alma de ir,
obrigando a imaginação a ficar ?
E a sempre vida curta de uma
obrigação, vale a pena obrigar?
a melhor parte de ti ausente
é poder sentir-te
é ter-te como te sinto iminente
a um passo de mim respirar-te
é como num trilho seguir-te
em suaves tons tocar-te
da boca ao ventre inventar-te
na exuberância das cores possuir-te
como lubrica a noite é de repente
a um suspiro que ai se evapora
sinto este corpo gemido e dormente
sem tempo sem culpa ou demora
ter-te assim tão iminente
nesta ausência que me devora
Se saudades muitas
De mim tiveres
Muitas, de insuportáveis mesmo
Que pelo tamanho, de tão grandes
De teu peito irrompam
Tantas
Que de brasas pareçam ser
As mãos que me toquem
Os lábios que me percorram
Os olhos que me fitem
Fogo desmesurado em mim
Se for tudo assim
Tudo tão grande
Fogo que se expande
Serei eu, enfim...
não, não há tristeza sem senão
mas há um certo ar, não resisto
um inverno arrepio de verão
que na beleza, sempre existe
não sei se olhar, se expressão
se por dentro um traço-esguio
só sei de um certo ar, perdição
um se-me-toca, estou perdido
um marejar raro e persistente
um quero fugir, mas não consigo
haja quem, ar-tão-assim, aguente
mas se, eternamente, o belo existe
que a perdição seja permanente
mas a tristeza, nem sempre triste.
há um horizonte de linhas verticais, manto
onde, no querer de quem quer tanto
mora uma pressa a que não resisto
uma pressa líquida de poder tocar-te
gasoso ser-te, ébrio vicio
num intenso verde, suave colar-te
à esperança, de num imenso abraço ter-te
sem medo, desta urgência
que me faz pressa
nesta ânsia impressa
na sede dos dias de ausência
espero beber-te, pele, desassossego
este sem medo todo e sem pressa
quem sabe num dia, que o tempo não meça
o poder olhar-te, assim para sempre
se bastar um olhar
que a outro se abrace
um sorriso
que largo, o beijo peça…
se for pressa, esse feitiço
de um certo jeito de beijar
uma certa urgência de amar
um cego vício, fragrância
desejo pele, possuir
então, paciência
eu vou ter que ir…
como um rio, que novo nasce
num jeito louco de amar
num jeito simples de ser.
e talvez porque sim
o paraíso no inferno
amar, seja assim
o amor para se viver
a dor para se chorar
e tudo o resto seja
aquilo que deus quiser.
no olhar onde fundo me perco
há um laço que abraço me lança.
indomável onda, de brasas me cerco
dessa alma, que inquieta me canta
É no verso, desse mar que avanço
que ardo, no mesmo passo que danço.
alardo chama, incêndio me faço
abraço, velejo, entre vagas balanço
é dia, é noite, nesse vira e mexe
nessa dança que o vira não cansa
nesse mexe, que sem aviso cresce
e é lá, onde mãos nem chão preciso
nesse tecido, que em mim se tece
que valso, paixão navego perdido.
No sonho que contigo sonho...?...
há no leito em que meu peito se deita
um - chega-te a mim - sem receio
uma unção, de perfumes feita
um tocar como boca, suave beijo.
nesse peito, que leito me abraça
mora um desejo fecundo de mim
que amiúde me ajeita, desvelo laça
de um jeito, que meu peito
se deita e ama, sem acordar no fim.
No hálito fremente das luzes
sei-me dançando um dia
uma melodia que não me lembre.
Sei da noite, uma chuva fria
de corpo sei, um fumo quente
sei dos olhos, nos meus
a alma nua
sei da boca, perdida
os sabores e recantos
sei das sombras e sei do espanto
e na seiva, segredo lua
onde rubra, a vontade queima
Sei de ti, que não esquecerei
sei da melodia que não me lembro
que noite dentro, um dia
dançaremos juntos, eu sei
há sempre algo, para além do ver-se
o que para além do verde, é espanto
e tanto, que só sentindo pode ter-se.
como se cada cor custasse doer-se...
de que valeria a dor, sem sentirmos
se só sentindo faz do Ser, ser-se...?!
e no entanto, sentir-te é o espanto
o acalanto que de tumulto se veste
esta esperança... este supor-te...!