Coleção pessoal de MarcioAAC
Mas, o trabalho e a paixão fazem com que surja a intuição, especialmente quando ambas atuam ao mesmo tempo. Apesar disso, a intuição não se manifesta quando nós queremos mas quando ela quer. Certo é que as melhores ideias nos ocorrem (...) quando nos encontramos sentados em uma poltrona e fumando um charuto ou (...) quando passamos por uma estrada que apresente ligeiro adive ou quando ocorram circunstâncias semelhantes. Seja como for, as ideias nos acordam quando não as esperamos e não estamos sentados à nossa mesa de trabalho, fatigando o cérebro a procurá-las. É verdade, entretanto, que elas não nos ocorram se, anteriormente, não houvéssemos refletido longamente em nossa mesa de estudos e não houvéssemos, com devoção apaixonado, buscado uma resposta.
As pessoas raramente reconhecem as oportunidades da vida, porque muitas vezes elas estão disfarçadas de trabalho.
A idade não é decisiva; o que é decisivo é a inflexibilidade em ver as realidades da vida, e a capacidade de enfrentar essas realidades e corresponder a elas interiormente.
Poder é toda a chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros.
Os dominantes. os possuidores, os vencedores, os sãos, em síntese, o "homem feliz" raramente se contenta pelo simples fato de possuir a própria felicidade. Ele necessita também ter direito a tal felicidade. Quer ser convencido de "merecê-la" e sobretudo de merecê-la frente aos outros. E quer portanto ser também autorizado a crer que os de menos sorte receberam equitativamente apenas aquilo que lhes cabe. A felicidade quer ser legítima.
Às vezes, nossa vida é colocada de cabeça para baixo, para que possamos aprender a viver de cabeça para cima.
Não se deve esquecer que a recuperação não é realizada pelo médico, mas pelo próprio doente. Ele cura a si mesmo, por seu próprio poder, exatamente como ele anda por meio de seu próprio poder, ou come, ou pensa, respira ou dorme.
Em um tratamento onde transferência e resistência constituem os eixos, tudo o que sobrevém como tentativa de ruptura da relação analítica, como um agravamento brusco da doença ou gesto suicida, é resultado de um ocultamento - da parte do médico e do doente - dos símbolos que operam neste momento.
Se o médico representa a vontade de cura, aparece para o doente - que recorreu à doença para resolver um conflito - como o inimigo a combater. Ambivalente em relação à sua enfermidade, ele pode encontrar em seu médico motivos de resistência à cura e também de agravamento da doença.
Porque é um erro crer que o doente vai ao médico para sarar. Ele tem apenas uma parte do seu ´id´ disposto a isto, a outra teima na doença e espreita sinistramente a oportunidade de obrigar o médico a prejudicá-lo.
(Livre du ça, Gallimard, Paris, 1973, p. 308)
De fato, só se pode aplicar a análise quando o doente permite e reconhece a indicação do tratamento pelo abandono da resistência. Um doente que resiste até a inconsciência não pode ser analisado, pois o objeto do tratamento é o consciente e o recalcado, o que pode aceder ao consciente. Um doente que manifesta sua resistência sob a forma de uma doença rápida não pode ser analisado.
(in La maladie, l´art et le symbole, p. 137-138)
O acaso não existe: toda doença, acidental ou não, tem um significado.
O id utiliza a doença para alcançar certos objetivos.
A linguagem, enquanto dupla articulação, é não somente constituída de signos, mas veículo dos símbolos e, também, portadora de sentido, muito frequentemente desconhecido para aquele que fala.