Coleção pessoal de marcio_barros
Eles se amavam por poesia
e com poesia
não eram poesias do mundo ...
essas de versos ordinários
que nascem de noites entorpecidas ou , quem sabe, da lúcida luz
a poesia deles vinha da alma ...
de dentro ...
mas era tão pura e verdadeira
que escapava dos olhos e dos lábios
era tanta poesia ...
tanta ...
que se calaram
mas amor em silêncio, quando é verdadeiro, é capaz de deixar o mundo surdo
o sono não veio como de costume
talvez por que deixei a porta aberta ou por que estava cansado demais para o regalo
quem sabe ...
com lesividade os ponteiros mudandam de posição
e esse silêncio noturno me incomoda
já não há pessoas na rua
algumas nuvens no céu
a brasa do cigarro parece um sol
solitariamente, um gato busca no lixo um motivo
todos reviram lixo.
uns na rua outros na cabeça ...
tenho tantos pensamentos dos outros em mim que nem lembro quem sou
também não faz diferença
queria tanto um veneno diferente
uma dose lunar
ou um solidário sol na noite ...
acho que já falei de sol...
falei, entretanto o cigarro apagou
estou sem fósforos
acendo outro na minha cabeça
antes tivesse fogo no coração
não tenho mais ... choveu muito no meu peito
o gato foi embora ...
eu fiquei
podia chover lá fora
em vez de veraniar nesse outono
estou com fome
nesse mundo sem repasto
caia bem alguma poesia
e um cobertor
paúra demais
saúde de menos
talvez uns passos ou um banco na Praça
espero que a cama me receba como amante
pois os olhos estão pesados de tanto pensar
esperto foi gato que deixou seu lixo na rua
o lixo da minha cabeça eu continuo a levar
Ando nesta noite sem lua numa cidade sem muros
sem casas ou pessoas
há grutas, há deuses e um pouco de silêncio
a rua de pedra conta a lenda do sangue que pensava ser revolucionário mas era também nada...
era jovem e sonhava como jovem...
não pode sonhar mais
mortos e pedras só vivem em túmulos
onde mães desejosa negam à Deus
e lembram de pés pequenos e sujos que beijaram
essa cidade me assusta...
não que tenha feito mal aos jovens
porém esse silêncio toca nosso coração
como missa
como elegia
como o último gole daquela garrafa que jogamos no lago
nunca houve violência nem homens aqui
homens são criados por Deus
e nada que Deus criou faria o quê foi feito
não lave a rua , chuva
deixe assim ...
leio no vento uma súplica coloquial e e pesarosa
de um rosa nascida com espinhos por afrota
continuo a andar
agora como sempre sem passos ou destino
queria que meus olhos fossem teus
para ver se encontro em mim o homem que diz que sou
levo muitas almas comigo e nenhum amigo
muita estrada e pouco pouso
na certeza que paz existe no mundo que criou para nós dois no dia em que morremos adultos
nas ruas de pedra da cidade sem homens...