Coleção pessoal de marcelovmb
Acho ainda que não deves me questionar nada, pois o que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Até porque o que é dito cria-se um sentido, está morto.
Até ontem pensei que estávamos conversando, mas não, eram apenas falas. Hoje você ouve os meus passos e assustada olha para trás, apesar disso não há o que temer, só foi o eco que ficou desde da última vez que passei por ti.
Algum livro estranho me espera
Mas devo tê-lo perdido
Com caneta de tinta branca e papel azul
Não foi por mim reconhecido
Provocado por essa ausência
Passaram-se muitas horas
E o livro estranho a minha espera
Com tinta branca chora
Persisto em procurá-lo
Sendo autor de diversas obras
Entre desalentos e desencontros
Sempre um escrito me consola
Essa é a sina de todo escritor
Procurar o seu livro estranho
E entre pensamentos e dor
Uma história de amor com final tristonho
Quem sou eu para ficar triste?
Não tenho essa honra
Quando a amargura tenta invadir
A poesia segura a porta
Esquecera do mundo lá fora e nem se deu conta que era velada, enterrada, abandonada e também esquecida.
Não esperem que os meus sentimentos sejam lógicos, pois não são: o que posso dizer é que ela é a anomalia, é a irregularidade, é a teratologia, é o monstro mais lindo que eu conheci!
Já estou a me deitar com uma angústia monstruosa que se esconde de baixo da cama, tentando puxar os meus pés. Deito-me agora para amanhã estar de volta a velha realidade mundana. Posso até pegar um papel e tentar escrever algo tão falho quanto a tinta da caneta com que tento escrevê-la.
Vai terminando o verão em mim e você deveria vim, para sorrir dos meus olhos frios, cinzentos, da cor do inverno, que fora da estação, está por surgir.
Quase estou te convidando para passar a noite em claro comigo, sofrer comigo, escrever comigo e quebrar essa tradição filosófica de que não se espera nada de ninguém.
Já perdi muitas namoradas por causa da chuva, pois é impossível me controlar. Então, quando o temporal vem, corro para janela e começo a admirá-lo. Largo a mão da amada e me seguro na primeira nuvem em que eu alcançar.
Num desânimo, eu me confundo com a tempestade que está por chegar e portanto a sinto se expandir, percorrendo os lugares mais distantes e melhor: podendo ser vista por todos, sem que possam tocá-la. Esse é o meu vazio, é o hiato que cobre toda a cidade.
Isso é a maior estranheza que temos, expressar o inexpressível: o Eu... Como também é estranho a própria frase "expressar o inexpressível". Mas, é disso que surge a arte.