Coleção pessoal de marcellaprado

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Fiquem tranquilos, ainda não estou com a corda enrolada no pescoço.

Talvez eu ainda escreva pra ver se te faço lembrar o quanto era bom estarmos juntos. Nunca quero quebrar esse elo invisível e utópico entre nós. Entre eu - meus textos - você.

Encher o teu ego enquanto esvazio o meu está me matando.

Preciso arrumar outra dor pra me ocupar, e dessa vez tem que valer a pena.

Alimentei e cuidei do meu amor com tanto carinho, durante tanto tempo e não quero nunca deixar que ele vá embora.

Me deseja coisas boas. Te vejo em um minuto nos meus sonhos. Sinto saudades. Ainda aguardo a calmaria de junho, pelo menos maio se foi.

Ás vezes chamo a Amy Winehouse pra tomar um drinque. Minha boca virou bico, sempre pra frente, sempre fazendo cara de raivinha. Chocolate me traz euforia e culpa. Vodka sempre alivia. Dormir é cura pra todos os meus males. Vinicius de Moraes gosta de me dar uns tapas na cara de vez em quando. Caio Fernando Abreu insiste em me mandar ver o por do sol. Cecília Meireles, essa é uma graça! Ela tanta me clarear a escuridão e sempre diz que a vida dói, mas é tão bela! Eu digo que não acredito mais nisso, mas ela insiste. Fernando Pessoa é bem como eu, perturbadinho, incompreendido e tão intenso. De todos que leio concordo com a Clarice, ela sim está certa: Viver dói – atrevo-me a acrescentar: viver dói Dona Clarice, dói e cansa.

Caso não queira pensar, reze por mim. Estou aceitando oração, magia branca, pensamento positivo, evocação de santo - não me importo. Lutar por nós é lutar contra o inexorável. Já sei amado, a vida continua. Conheço bem os conselhos clichês, me poupe dessas frases à la Ana Maria. Te cuida.

Sem cobranças e nem muitas esperanças, é pura empatia.

Ando desmemoriada. Vejo-te agora como quem vê um fantasma. Sua figura é clarinha, quase transparente. Quase posse te sentir. Faço força – luto – reluto e não sinto nada. Tua imagem está apagadinha, pontilhada, desintonizada

Automaticamente fechei os olhos, já úmidos, vermelhos e latentes. Colei as pálpebras por vergonha. Senti repulsa de mim e do que um dia fomos. Imaginei a cena do crime. Juntar todos meus escritos e jogá-los sem dó nem piedade na lixeira. Que deve ter te passado à cabeça? Não teve ressentimento? Dúvidas do tipo jogo-ou-não-jogo? Não te agradaram as palavras? Que houve? Iriam pesar na tua mala? Iria sentir remorso por ter me apagado de um jeito tão brutal da tua vida? Lembrariam-te constantemente a tua covardia?

Não importa a quantidade nem a qualidade da companhia. Estou sempre presa, enjaulada em um mundo meu. Minha cabeça é o meu inferninho particular. Fico sempre presa em lembranças e saudades infinitas. Saudades de mim, do passado, da infância, da felicidade.

Diga a ele que está frio e que está foda.

Diga a ele que ainda prefiro a noite, não gosto muito de sol e sou mais feliz no inverno.

Não chega a doer, é simpatia – empatia – curiosidade. Não alimento esperanças e nem tão pouco ilusões, seria tolice minha. Apenas aprecio tua companhia. Sem quartas intenções.

Tua voz é rouca-abafada. Tuas palavras são curtas e precisas. Acho divertida a forma que ri, só quando tem vontade, só quando acha digno. Tua gargalhada é diferente, curta e escarrada.

Engraçada é a tua forma de beber cerveja. Umas vezes se afoga, e outras faz corpo mole.

A verdade é que estou remando contra a correnteza, tentando nadar para a borda do poço.

Não ficarei bem de um dia para o outro, não não. É um–dia
–após–o–outro.

Concluo então que para mim a escrita é uma forma de desapego, desprendimento. Deixa-me escrever em paz sobre ele, sobre meu passado. Um dia voltarei a pensar no futuro.