Coleção pessoal de lulimap
Ando cansado de oferecer meu corpo ao teu excesso de talvez e de apostar todas as minhas poucas fichas em teus tantos poréns e porventuras. Com você, não vejo mais a chance de acabar morto graças à surpresa de uma nova aventura.
Ando sem forças para beber o silencioso brinde de sua falsa meia taça, agora desfiada e parcialmente destruída pelas traças dessa nossa rotina robótica.
Hoje falta-me fome para encarar teus jantares mornos e notoriamente sem tempero. Cansei de comer o teu feijão com arroz até em dia de festa.
Falta-me paciência para relevar seus menores chuviscos e sua crescente incapacidade de perdoar meus mínimos tropeços.
Tento em teu corpo reencontrar o calor que um dia foi capaz de ferver o meu suor, mas tudo em você anda gelado, como se estivesse morto e, aquela antiga febre delirante, parece que passou de vez.
Tento em tua cama esconder-me dos pavorosos monstros do mundo, mas o teto do teu quarto hoje está desprovido de blindagens, descoberto graças ao desgaste gerado por nossas incontáveis ventanias e agora, quando deito em teu travesseiro empoeirado, sinto-me vulnerável a tudo, menos a você.
Tento achar graça em suas repetidas piadas velhas, mas hoje, infelizmente, tudo que faz brotar em mim é um sorriso quase amarelo e gasto como aquilo que estamos inutilmente tentando prorrogar com beijos pela metade, cartas genéricas escritas em Arial 12 e abraços somente simbólicos.
Amor, o nosso sal acabou, o nosso açúcar findou, o nosso leite derramou, o nosso pão mofou e por mais duro que seja, precisamos admitir o quanto antes que a nossa paixão estragou.
Os navegadores do nome
Eles partiram sem índice logo após o primeiro eclipse.
Atravessaram a duração das águas
cobertos com o frio quente da aventura.
Vestidos apenas de universo
habitaram o avesso do abrigo
- ainda assim, dormiram como santos.
Eles partiram antes da invenção do estilo.
Procuravam arranjos perfeitos de palavras,
tecidos grávidos de sentido.
Não temiam o grito do infinito.
Tambor de guerra, tremor de terra, nada os estremecia.
Tinham coragem de artista.
Muito antes do descobrimento da história, eles partiram.
Abandonaram mulheres, panelas e fogueiras,
meninos pedindo colo e caminho.
Surdos a súplicas,
cegos como morcegos,
foram em busca do nome que habita o ovo e o velho,
a sombra da espada e o espelho.
Eles partiram antes do nascimento de Dante,
antes do enterro de Homero.
Paladinos do destino e da palavra,
navegaram em busca do nome que habita o Homem.
(Partiram também – em grandes levas – no século XIX,
quando a humanidade se despedia do silêncio e gestava o
próximo ancestral.)
Eles partiram hoje de manhã.
Eu os vi da minha janela,
me deu um troço, uma certeza,
e eu parti com eles.
Um dia, estando entre nós dois o Atlântico,
senti a tua mão na minha;
Agora, tendo a tua mão na minha,
sinto entre nós dois o Atlântico.
Ouvir Estrelas
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas.
Só me resta agora
Esta graça triste
De te haver esperado
Adormecer primeiro.
Ouço agora o rumor
Das raízes da noite,
Também o das formigas
Imensas, numerosas,
Que estão, todas, corroendo
As rosas e as espigas.
Sou um ramo seco
Onde duas palavras
Gorjeiam. Mais nada.
E sei que já não ouves
Estas vãs palavras.
Um universo espesso
Dói em mim com raízes
De tristeza e alegria.
Mas só lhe vejo a face
Da noite e a do dia.
Não te dei o desgosto
De ter partido antes.
Não te gelei o lábio
Com o frio do meu rosto.
O destino foi sábio:
Entre a dor de quem parte
E a maior — de quem fica —
Deu-me a que, por mais longa,
Eu não quisera dar-te.
Que me importa saber
Se por trás das estrelas
haverá outros mundos
Ou se cada uma delas
É uma luz ou um charco?
O universo, em arco,
Cintila, alto e complexo.
E em meio disso tudo
E de todos os sóis,
Diurnos, ou noturnos,
Só uma coisa existe.
É esta graça triste
De te haver esperado
Adormecer primeiro.
É uma lápide negra
Sobre a qual, dia e noite,
Brilha uma chama verde
VOZ MENDIGA
E ainda me atrevo a amar
o som da luz numa hora morta,
a cor do tempo num muro abandonado.
Em meu olhar o perdi todo.
É tão distante pedir. Tão perto saber que não há.
No fundo só eu conhecerei
a fundo
meu fundo.
Vocês verão minha boca
suja ou pintada de carmim
eu sentirei meus lábios
sangrado petróleo
Sou composta por urgências:
minhas alegrias são intensas;
minhas tristezas, absolutas.
Entupo-me de ausências,
Esvazio-me de excessos.
Eu não caibo no estreito,
eu só vivo nos extremos.
(Marla de Queiroz)
Pouco não me serve,
médio não me satisfaz,
metades nunca foram meu forte!
(Desconhecido)
Todos os grandes e pequenos momentos,
feitos com amor e com carinho,
são pra mim recordações eternas.
(Desconhecido)
Palavras até me conquistam temporariamente...
Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.
(Desconhecido)
Suponho que me entender
não é uma questão de inteligência
e sim de sentir,
de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
(Clarice Lispector)
Ou sejas tudo
ou não me sejas nada
Gosto do que é inteiro
completo
entrega
Não me contento com metades
porções
Parcelas de sentimentos
de almas
de corpos
apenas não me soam nada
Não as quero
Obrigada
entregue a outra
outra que se contente com suas migalhas
outro pobre ser
que não conheça a beleza
de ser só entrega
ser tudo
o nada
a mim, nada é
Um instante
Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente.
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
Dois e Dois são Quatro
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
A duração média de um abraço entre duas pessoas é de 3 segundos.
Mas os pesquisadores descobriram algo fantástico:
Quando um abraço dura 20 segundos, há um efeito terapêutico sobre o corpo e mente.
A razão é que um abraço sincero produz um hormônio chamado "oxitocina", também conhecido como o hormônio do amor.
Esta substância tem muitos benefícios na nossa saúde física e mental, ajuda-nos, entre outras coisas, para relaxar, para se sentir seguro e acalmar nossos medos e ansiedade.
Este maravilhoso calmante é oferecido de forma gratuita cada vez que temos uma pessoa em nossos braços.
Não se impaciente
O que a gente sente, sente
Ainda que não se tente afetará
O afeto é fogo
E o modo do fogo é quente
E de repente a gente queimará
Que a Aldeia Sol e Lua tem calado essas muitas vivências porque o vosso mundo só aceita o selo da ciência, ainda que a nós nos pareça vossos homens de branco, homens dementados, pensando que só se pensa com a cabeça.
Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...