Coleção pessoal de luiselza
A mais visível dificuldade de recomeçar é a suposição de se saber alguma coisa; e a maior dificuldade é entender e aceitar que um novo ângulo (sobre o mesmo) requer um outro método onde, muitas vezes, o objeto, a meta e o objetivo sejam uma só coisa só.
A diferença entre valor e preço mostra-se quando aquilo que mais se ama tem bem menos cunho monetário e muito mais amoedo temporal, instante em que se vai de eventuais erros e ilusões do que se está à realidade do que se é.
É preciso cuidado redobrado, triplicado, decuplicado... para que a razão da necessidade comande as boas idéias, sem se deixar errar ou iludir por estas.
O pensamento no incrível sabor do caríssimo manjar (distante) evidencia que algum dos gostos possíveis do de hoje pode equivaler somente aos restos do de ontem.
Aquele que abandona o barco que, de modo consciente, desejoso e irreversível, abdicou de si mesmo, não é um rato; é um ser que tem a lucidez, intuição ou comando biológico de que os organismos vivos estão estruturados para buscar o máximo tempo da melhor vida possível.
Quando uma doença grave se instala de forma óbvia, impossível viver isolado dela. Mas, se a cura completa chega, nasce outra luta: Preencher com opções conscientes e intensas tudo que a enfermidade ocupava como imposição.
Que a vida substitua os "as" inúteis: Não é "a" de arrependimento; é "a" de aprendizado. Não é "a" de angústia; é "a" de alegria. Não é "a" de adeus; é "a" de amanhã...
Um único momento não deve consumir todas as sensações e energias de uma vida, pois é inútil a máxima profundidade quando não se percebe um mínimo da largueza do Oceano.
Muito pouco ou quase nada é capaz de mudar as decisões que foram tomadas antes de qualquer coisa existir. Melhor deixar os rios correrem, pois, adiante, todas as águas se reencontrarão no mesmo Oceano.
O português escrito pode (e às vezes deve) ser corrigido, mas a tese defendida verbalmente e carregada de impropriedades gramaticais é um erro que se prolata no tempo e que fica à espera da prescrição ou do esquecimento.
Cessadas as causas reais da aflição, a lembrança da sensação dolente apenas perdura através da incompreensão do fato ou da percepção de inutilidade da dor sofrida.
Quando um pedaço de madeira ou papel queima, é possível escutar-lhes um mínimo som; parte da energia vinda da combustão é convertida em energia sonora. Quando o hidrogênio se funde em hélio, e este processo emite a energia luminosa do sol, ainda que exista algum som envolvido, é impossível ouvi-lo, pois o som somente se propaga nos meios materiais e não atravessa o vácuo que se medeia do Astro Rei à Terra. A luz do sol é, também, uma expressão do silêncio. Assim são algumas pessoas que apenas estão na memória: É plausível captá-las, em luz, na memória; mas não é factível ouvir-lhes os sorrisos, as palavras, as angústias e os lamentos. Até mesmo o evocar parece ser predominantemente de imagem e disto se trança que há presentes, com ou sem presenteados.
É impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo; mas não é impossível estar em dois lugares antes da medição válida do tempo.
A vontade consciente é incapaz de impedir que, pensando no alimento, alguém salive. Mas é a razão que compreende que a vida deve ser maior que o anseio de toda loucura.
Quando se tem uma única opção, a inevitabilidade vem antes da (eventual) confiança. Quando são várias as alternativas, a certeza deve ter cuidado com os ruídos da imposição.
Para que a existência ou a vida pudessem se afastar continuamente do repetir(-se), necessário seria que a Terra não volvesse; ou fosse chã. Mas a Terra gira; e não é plana. Assim sendo, o seguir em frente é, mais cedo ou mais tarde, um (re)encontro parcial do outro mesmo alguém com as mudanças do parecido.
Assim como a Terra, o Sol e a Lua, às vezes se colinearizam no horizonte, um dia as razões para voltar e os motivos para permanecer podem se alinhar, pois a amplitude e a profundidade não são mutuamente excludentes.
A fatura do amor que nunca acabou, se enviada com atraso, ainda que seja fato que não decai e nem prescreve, pode ser parcialmente paga através da geografia; muito dificilmente pela integralidade da história.