Coleção pessoal de luciomedina
Estagnação
Tempo, falta tempo
Muito tempo
Tempo, sobra tempo
Muito tempo
Tempo, parado
Meu tempo
Tormento de ver parado
Estagnado
Podia ser semeado
Pode!
Tempo, meu tempo
Parado que eu movimento
Com ruído barulhento
Por alguns momentos
Para parar esses momentos
Compensar a não ação
Esse meu eu
Essa quase depressão
Que me segura pela mão
É culpa sua
É culpa minha
Essa fossa
É culpa nossa
Pensei em tanto pra te dizer
Mas só de ver- te
Eu me calo
Na boca com o gosto amargo do ciúme
Me retraio
E quando me pergunta com seu jeitinho
Por que eu estou tão quietinho
Quase desmaio
Em teus braços
E a dor que ainda existe
Me faz cada vez mais triste
Por não ver como mudar
Ah esse meu eu
Já que não posso entender
Cabe-me somente aprender
Sobre esse meu eu em você
Espero
Daqui a pouco vou te ver
Teu rosto beijar
E se outro aparecer
Vai acontecer o que?
Sentirá ciúmes
Se eu me insinuar com olhares
Com sorrisos, com charmes
Será?
Espero que ele vá
Pra te mostrar com muita clareza
Que sua estúpida incerteza
Vai fazer eu me afastar
Acho melhor você se cuidar,
Ou melhor, me cuidar...
Se mostrar que é imune
A um pouquinho de ciúme
Eu vou perder o bom costume
De vir te procurar
Pois então lhe digo o seguinte
Que tudo isso muito me aflige
Mas eu não vou desesperar
Agirei calmo como um burguês
Com o dobro de sensatez
Para ninguém me criticar
Mas o ódio que agora me assola
Pode sumir, se esvair
Sem demora
Se apenas um beijo me dirigir
Deixo então ao encargo da lua
Qualquer atitude sua
Que possa me seduzir
E peço ao seu corpo o ciúme
Peço a ti todo o cume
Da montanha do amor
Que nunca subi
Ele
Andar de felino
Olhar de menino
E corpo de homem
Qual é o seu nome?
Meu nome é o nome
Que quiser chamar
É só pensar, escolher e gritar
Que venho rápido
Só pra te amar...
Palavras loucas
Ditas por um pobre poeta
Antes fosse ele um profeta
Para eu poder acreditar
Ela
Por que tudo é Dela
Por que eu só ouço Ela
E se Ela fosse aquela
Seria bem melhor
Todos só veem Ela
E eu já me sinto Dela
E isso é bem pior
Junto a seus seios, olhares
E cabelos de Serafin
Não sobra espaço pra mim
Só pra Ela
Pra falar Dela
Pra conversar com Ela
E esquecer de mim
E eu me acabo assim
Sem poder com Ela
Sem ser melhor do que Ela
E Ela, desejando a mim
Destino
Cai
A chuva lá fora, cai
Eu escuto e escrevo
Sobre suas gotas melancólicas
E a noite no desespero
Fingir que não está
É bem pior do que permanecer
O que se pode esperar
De alguém que não vai te reconhecer
Permaneça no quaro isolado
Chorando lágrimas de solidão
E quando todas elas secarem
Aceite e cumpra sua missão
Agora aqui estará
E aqui irá permanecer
Já não precisa mais esperar
É a hora de crescer
Trace seu rumo e vá
Pelas estradas que deseja
Não espere o vento mudar
Pode ser que isso não aconteça
Descobrirá
Que está longe de ser o resultado, o importante
O importante, de fato
É o caminho que é traçado
Com amor
Despedida
Despeço-me então de ti
Cidade querida onde um dia nasci
E rumo para um rio que não corre
Voa
Entregar-me aqueles que não amam
Zoam
Entregar-me a mim
Tudo a frente é incerto
Vejo um vasto deserto
Se apresentar e confesso
Que não estou triste
Mas posso ficar
Seu perfume me motiva
E me intriga
Não sei se vou suportar
Deixar-te aqui
Entregue a quem quiser
Ou aqui ficar sem poder me entregar
Se eu vou
Eu me mudo
Mudo de mundo
Mas volto pra cá
Para rever-te então
Com toda a amizade
Por minha querida cidade
Que sempre me acolherá
E encontrarei nas ruas e vielas
Moças bonitas
Mulheres belas
E já estarei sorrindo
Por motivos mesquinhos.
Mas voltarei talvez, triste.
Com alguém que insiste
Em num erro acertar
De novo
E aqui estou eu
De novo
Lutando comigo
De novo
Talvez se eu tivesse dinheiro, eu sumisse
De novo
Mas não voltaria
De novo
O ciúme me corroe
De novo
Meus pensamentos me traem
De novo
Só que dessa vez eu não senti o seu cheiro
Mas o coração aperta
De novo
Mas eu estou forte, inflexível...
Completamente variável...
Eu estou apaixonado
De novo
A riqueza do olhar
Li uma história sobre a pobreza
Uma história tão rica
E de tal beleza
Que encheram meus olhos de lagrima
Fez-me perceber
A riqueza de quem só reclama
Com a pobreza de sua alma
Quem pede tudo
E só pra si
A alegria de um bolo de fubá
Que não é de aniversário
Mas que pela pobre mãe com velas é adornado
Para o seu parabéns cantar
E a criança tão pura
E com tal beleza
Que não percebe a pobreza
E se põe a cantar
Para depois apagar as velhinhas
De seu pedaço de bolo de aniversário
Isso mesmo
De seu PEDAÇO de bolo de fubá de aniversário
Somente aquele pedaço
Seu pai pode comprar
E em um boteco celebram um ritual
De mais um ano ver passar
A ternura no rosto da mãe
Parece à Deus implorar
Por uma vida melhor para sua filha
A vida que ela ainda não pode dar
A esmo
Sou sempre escolhido a esmo
Sem saber o porquê, nem como proceder
Quem me escolhe também não sabe
Mistério
Sempre sou escolhido a dedo
Em meio a muitos
Tenho até um pouco de medo
Receio
De transformar a escolha certa na opção errada
Escolhido a dedo
A esmo
No meio da multidão
Sem nenhuma aparente razão
À beira-mar
Decidindo à beira-mar
Por que orla caminhar, chegou o verão
Quente como sempre
E pra onde quer que olhe
Tem olhos sedentos, safados
Pele morena e corpos sarados
E o Rio com seu Cristo
Nos protege e abençoa
E mesmo em meio a tanto pecado
Nosso Cristo nos perdoa
Decidindo à beira-mar
Em que dia embarcar
Esperar as festas ou não
Mesmo apertando o coração
Quero é recomeçar
Em outro lugar
Também à beira-mar