Coleção pessoal de lucijordan
A vontade e a ambição, quando verdadeiramente dominam, podem lutar com outros sentimentos, mas hão de sempre vencer, porque elas são as armas do forte, e a vitória é dos fortes.
A Corte divertia-se, como sempre se divertiu, mais ou menos, e para os que transpuseram a linha dos cinquenta divertia-se mais do que hoje, eterno reparo dos que já não dão à vida toda a flor dos seus primeiros anos. Para os varões maduros, nunca a mocidade folga como no tempo deles, o que é natural dizer, porque cada homem vê as coisas com os olhos da sua idade. Os recreios da juventude não são decerto igualmente nobres, nem igualmente frívolos, em todos os tempos; mas a culpa ou o merecimento não é dela, – a pobre juventude, – é sim do tempo que lhe cai em sorte.
O amor é uma carta, mais ou menos longa, escrita em papel velino, corte-dourado, muito cheiroso e catita; carta de parabéns quando se lê, carta de pêsames quando se acabou de ler. Tu que chegaste ao fim, põe a epístola no fundo da gaveta, e não te lembres de ir ver se ela tem um post scriptum...
A natureza tem suas leis imperiosas; e o homem, ser complexo, vive não só do que ama, mas também (força é dizê-lo) do que come.
Alguns erros... apenas têm consequências maiores que outras. Mas você não precisa deixar que aquela noite seja aquilo que define quem você é.
[...] de repente tive a sensação de ver o tempo passar e de perder grande parte dele nas pequenas idas e vindas pelo mesmo caminho.
O livro — que era surpreendentemente interessante — era sobre uma espécie de luta pela sobrevivência. Afirmava que as mulheres não escolhiam os homens por amor.
Segundo o livro, a fêmea da espécie sempre escolheria o macho mais forte para aumentar as chances de sobrevivência da prole. Ela não tinha culpa. É a natureza.
Seu corpo era apenas uma parte do pacote completo, algo para se lidar de vez em quando, em intervalos, antes de voltarmos a conversar. Para mim, tinha se tornado a parte menos interessante dele.
Eu não sabia que a música era capaz de fazer com que coisas novas surgissem dentro da gente e de nos levar a lugares que nem o compositor imaginou. Deixava uma marca no ar a nossa volta e era como se, ao sair do concerto, você carregasse os resquícios consigo.
É só que o que não se pode compreender a respeito da maternidade, até que se tenha um filho, é que não é um adulto — o deselegante, barbado, fedorento, filho teimoso — que a mãe vê diante de si, com seus recibos de estacionamento, seus sapatos não engraxados e sua complicada vida sentimental. A mãe enxerga todas as pessoas que o filho já foi ao longo da vida reunidas em uma só.
Precisava dar ao meu filho um lugar para onde olhar. Precisava dizer a ele, silenciosamente, que as coisas poderiam mudar, crescer ou fenecer, mas que a vida continuaria. Que todos nós éramos parte de um grande ciclo, algum tipo de arranjo cuja finalidade só Deus poderia entender.
Dizem que só é possível se admirar um jardim depois de certa idade, e acho que existe alguma verdade nisso. Provavelmente tem algo a ver com o grande ciclo da vida. Parece que há algo de miraculoso em ver o inexorável otimismo de um novo broto após a desolação do inverno, uma espécie de alegria na diversidade a cada ano, a forma como a natureza escolhe mostrar diferentes partes do jardim. Houve momentos — quando meu casamento ficou mais populoso do que eu tinha imaginado — em que o jardim foi meu refúgio, momentos em que foi uma alegria.
A primavera chegou durante a noite, como se o inverno fosse um hóspede indesejado que de repente resolveu vestir seu casaco e desaparecer sem se despedir. Tudo ficou mais verde, as ruas foram banhadas por um sol fraco, o ar agora perfumado. O dia tinha sinais florais e acolhedores, com trinados primaveris como fundo musical.