Coleção pessoal de LucianoSpagnol
PAINEIRA (cerejeira do cerrado)
A paineira da beira da estrada, florida
Com flores incontidas, belas, rosadas
Está mesma “barriguda”, desmedida
“cerejeira do cerrado”, tão iluminadas
No poetar meu, de vós, inteira, é vida
A poesia com suas rimas aveludadas
Quem sabe até da sedução prometida
Ao Outono, e na fascinação estacadas
Está, que me assombra e maravilha
De pétalas rosas e miolo amarelado
Bailando suave, e ao vento rosquilha
E tua pluma branca no fruto moldado
Pelo ar, voa, entoa, e pelo chão trilha
Em um espetáculo da poética ornado.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28 abril, 2024, 20’22” – Araguari, MG
MEU POBRE SONETO
Ele sussurra com uma dor sofrida
Que esmaecido chora na emoção
Tal a uma lágrima na falta sentida
Que bate forte o apertado coração
Ele canta com a sensação pendida
Dos urutaus, que cantando em vão
Entoam cantos de sisuda despedia
Soando saudade adentro do sertão
Um versar gemido e de melancolia
Que rola na trova com árida agonia
Com frios sentimentos superficiais
Meu pobre soneto, tão moribundo
Que quer arrebatamento profundo
E vive o sonho, que não volta mais.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27 abril, 2024, 18’17” – Araguari, MG
*à amiga Lucineide S. Ghirelli
DE SONETO EM SONETO
De soneto em soneto vai o tempo já passado
Do versado fado, as ilusões, na ridente aurora
Dos cânticos encantados, e canto enamorado
De uma poética cheia de sensação de outrora
O tom que no estorvo se sentiu abandonado
O perfume na lembrança, que lembra agora:
O amor perdido, a infância ida, ali arruelado
Na recordação. Ah! tudo vivente a toda hora
Apressado, fugaz, e o versar vai observando
Cada linha, um toque de memória, morrendo
No tempo, guardado na emoção, até quando
For somente uma lembrança, ainda sendo!
E, de rima em rima aquela ocasião rimando
O soneto na saudade e a toada desvalendo.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24 abril, 2024, 07’39” – Araguari, MG
VERSOS MURCHADOS
Pelo soneto saudoso vou versejando
Verso choroso de emoção carregado
E pela poética a agonia vai passando
Suspira, sussurra, ah! sentir danado!
Trova e canta o canto, assim, rimando
Com a rudeza do vazio, tão atordoado
E a alma do sentimento vai murchando
Deixando sem comando o ritmo do fado
Guarda escondido dentro desta poesia
Um tesouro de amor, outrora de alegria
E, a paixão de um romântico coração...
Nem se compara os dias tão elevados
Versados aqui sem reação, despejados
Murchados e, sem qualquer percepção.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
23 abril, 2024, 19’45” – Araguari, MG
SER E NÃO SER
Se disser que não é árduo estou fingindo
Mas no versejar ter-te certo, não consigo
E, nesta sensação o verso vai seguindo
Ser e não ser, ó dúvida, que há comigo?
Se a saudade adentra, dela vou saindo
Mas, ao lado teu, deixo o amor contigo
Sentir teu perfume, arfada vou sentindo
E parar de pensar em ti, infeliz castigo
Se o soneto matutar por ti, descomeço
Se na ilusão me perco, como padeço
Cheio de emoção, emotivo sem saber
Quanto mais a poesia de te está vazia
Mais guardado na prosa, ah! teimosia!
Dando vacilação e objeção sem querer.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22 abril, 2024, 17’45” – Araguari, MG
*paráfrase Bernardina Vilar
LUAR DE ABRIL
Na imensidão do céu, eis o luar
Cá no planalto, alvo de candura
Atraente, seduz o amor a trovar
Toando o negror da noite escura
Oh lua clara que surge em prece
Dando ao sertão diáfana tintura
Divinal tom, que o encanto tece
Ao sentido esplendida candura
Cor caiada, etérea luz, especial
Traçando no espaço sensação
Cintilando florescência no vazio
Luz densa de um leitoso cristal
Reina rútilo, insuflando emoção
No cerrado regalado luar de abril.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 abril, 2024, 19’57” – Araguari, MG
A VOZ DA SOLIDÃO
No vão da noite sombria, deserta
Tão silenciosa, envolta em arrelia
O repouso torna a cena irrequieta
Em um tenso sussurro de agonia
A enodoada alta noite terrificante
Povoada de uma vontade, irradia
Aperto, onde não há o que cante
Nem o poema sem a melancolia
Na treva da escuridão a coruja pia
Rompendo o vazio no tom dolente
Tal um cântico de acerba sensação
O pensamento da gente silencia
O coração arrepia tão vorazmente
E, merencória fala a voz da solidão.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 abril, 2024, 13’58” – Araguari, MG
DISPARADA
Ó inconstantes poesias pressurosas
Escorrem da inspiração apressadas
No alvoroço de ilusões impetuosas
Sobre desígnios, com asas agitadas
Tudo é fugaz, e pouco as corajosas
Sensações. Frenéticas e tão aladas
Emoções. São torrentes fragorosas
E muitos os sentidos das estradas
Pelo verso, zumbindo, o sentimento
E celeremente passa o pensamento
Devaneia, e corre pela madrugada
E, assim, nos versos de incertezas
Estorvos, acasos, súbitas surpresas
Desenhando a vida em disparada!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
18 abril, 2024, 20’21” – Araguari, MG
CERRADO EM FLOR
Como é poético sentir a primavera
Quando de flor recama o cerrado
O matizado tinge, o aroma impera
Boa-nova, vida, sertão demudado
Tudo encanta, canta e reverbera
O céu com o um azul ensolarado
O escurecer estrelado, em espera
O eclodir em graça, ali desenhado
A primavera no cerrado, anuncia
Inspiração num verso perfumado
Ornado de alegria, e tenra poesia
Então floresce o fascínio, ao lado
Do amor, da beleza, tudo é magia
Afinal, é a primavera no cerrado!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
18 abril, 2024, 06’32” – Araguari, MG
ALEGRE SONETO CONTENTE
O meu alegre soneto contente
Canta, celebra, e feliz da vida
Esquece o peso, vai em frente
Na sua satisfação destemida
E nesses versos, tão presente
A extensa felicidade incontida
Que adentra a alma da gente
Alastrando na emoção sentida
O bem estar é são, tem clarão
Fazendo da vitória, boa razão
Enchendo de ovação e clamor
Meu alegre soneto, bem sabe
Que agrado, sensação, cabe,
Na fortuna dum grande amor!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
17 abril, 2024, 17’44” – Araguari, MG
QUISERA, O QUE NÃO FUI
Quisera ter amor no verso de paixão
Ter carinho, gesto, estar enamorado
Sentir na poesia gentileza, a emoção
Ser olhado, estar encantado, amado
Quisera a singeleza em cada fração
Tal um lírio perfumado, tão delicado
Poetar o poema cheio de sensação
Nesta ilusão o tudo com significado
Quisera ser poeta, para dar-te poesia
Na prosa a palavra que acole, alumia
E sentir no meu versar o que conclui
Quisera ser a harmonia uma ternura
Ter da sedução a emoção mais pura
Quisera ser, ter, enfim, o que não fui.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
16 abril, 2024, 12’48” – Araguari, MG
FADO
Poeto triste cansado, inspiração vazia
Os versos sangrando de muito sentir
Atrás duma atração dentro da poesia
E que não pude na poética conseguir
Na ilusão, imaginei, ideei noite e dia
Sem nunca da rima sentimental fugir
Fraquejar, não, pois a fé o meu guia
Na narração a melancolia vem residir
Poema exausto, sussurrante, lento
Cheio de censura, dor, de lamento
Saem da prosa em soturna fornada
Assim o desengano grifa o conteúdo
Cutucando a alma com canto agudo
E em um talvez, não encontrei nada!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
15 abril, 2024, 19’44” – Araguari, MG
SEMELHANTE
O cerrado, místico, denso e feiticeiro
Sinuoso, diversidade um repleto veio
Espinhento, áspero, e singular cheiro
De magia vai deixando o poetar cheio
Se a secura envolve o agreste roteiro
Embora seja, a chuva também é meio
Pancadas, carregadas, vento violeiro
Que canta nos buritis, vergado esteio:
Então, ora acinzentado, ora matizado
Teimoso e fagueiro, pincela o cerrado
Tudo converte, a quantidade aprouver
É semelhante ao cerrado o meu fado
Ora descorado, ora tinto, vou variado
E neste tom, irei onde mansidão tiver!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
15 abril, 2024, 12’20” – Araguari, MG
Vão-se-me
Dos versos para ti, dantes, nada existe
A lembrança é algo de um pouco valor
A poesia, vazia, está sem aquele amor
Que um dia foi certo, da poética saíste
Porque assim como chegaste, partiste
Cessando o peito que batia com ardor
Sangrando n’alma, criando tom de dor
Na prosa, chorosa, suspirante e triste
O tempo anda, a emoção sai do cais
E a sofrência apenas lesão no sentir
E o coração atrelado em outras elos
De quanto foi outrora, nada tem, mais
Nada, daquela sensação, só o resistir
Vão-se-me uns após uns, dos flagelos.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14 abril, 2024, 12’04” – Araguari, MG
SOMBRAS
Guardo poemas soturnos e cinzentos
Numa inspiração desbotada, sem luz
Suspiro no verso sentido, que traduz
A minha poética, cheia de tormentos
Tem tons, inquietos, ais e lamentos
Nos sussurros, a poesia me conduz
Choro e apertos numa pesada cruz
Poetizando estes árduos momentos
E cada sentimento, então, aí figura
Sofrência, enchendo de desventura
A prosa que só queria, apenas amar
E triste, poeto e sinto, sofro e enleio
Vejo tudo feio, tenho o coração cheio
E, a noite sombria, a passar devagar.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
13 abril, 2024, 19’32” – Araguari, MG
PREDESTINAÇÃO
Imerso em versos dum sonho fundo
Com rima amável, tão simplesmente
Sublime, lia-se na poesia claramente
Que não era igual, era amor fecundo
Tinha na poética algo mais profundo
Aquele olhar sedutor de quem sente
Uma métrica enamorada, docemente
Singular, nobre, do coração oriundo
E neste rubro, e emotivo entardecer
Pra sempre se tornou um significado
Serenamente, no peito, doce abrigo
És então, definição, sentido, um crer
E a solidão uma toada do passado...
Agora, o predestinado amor comigo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
12 abril, 2024, 16’40” – Araguari, MG
CATIVO
Ao que a poesia verseja, e teia
Sussurrante, trivial, num clamar
Num amargor do que a perreia
Imersa em um profundo pesar
Com inquietude que devaneia
Um falho sentir, o pouco estar
No qual a insatisfação a enleia
No âmago de um triste poetar
Enturvo nesta aflição tão aflita
De sofredor que na dor orbita
Se limito, então, dizer não sei...
Sei que é danoso, penetrante
Sentimento avarento, pedante
E cativo desta sorte me tornei.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
11 abril, 2024, 19’18” – Araguari, MG
ENREDADA DE NADA
Versejo triste, ralo, a poesia vazia
Verso sangrando de muito sonhar
Atrás de uma poética com alegria
Em vão me esforço para alcançar
Rimei paixão, sensação, ousadia
Sem nunca largar, ou desanimar
Em uma fé sedutora que me guia
Sofri, chorei... Noite e dia a idear
Poeto exausto, lerdo, desatento
Um canto de sussurro, lamento
Saem nos versos em enxurrada
E neste poetizar com verso rudo
A minha desilusão é quase tudo
Numa poesia enredada de nada.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10 abril, 2024, 20’36” – Araguari, MG
EM REDOR DA POESIA
Em redor da poesia distrai o amor
Suspiroso, alegre, impar, elevado
Cândida sensação dum confessor
Num soneto tão quão apaixonado
E neste sentimento cheio de ardor
Diz-se palavras ternas, no afinado
Poetar: modesto, castiço, amador
No tom singular. O peito apertado
Obriga então a poesia ser serena
Onde a prosa pra sedução acena
Desenhando o sentido, as ilusões
Nesta bruma de paixão, estamos:
Soneto e poeta, nestes reclamos
Cochichando prezadas emoções.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09 abril, 2024, 19’36” – Araguari, MG
SÓ LEMBRANÇA
Oh! Cerrado! O tempo passa e insiste
tuas várzeas feridas, no ataque, tanto
e o teu sofrimento se mistura o pranto
de irreflexão. Quanto sentimento triste
A sedução no teu seduzir ainda existe
que teima na vida em morte, vil manto
deste desencanto, num sofrente canto
que murmura, que agoniza, e assiste
Agora, cerrado, é tablado de matança
de quem te lança, feri e além avança
em busca de mudança, árduo rosário
O teu fascínio és calvário, és cenário
de extermínio, tantos... tantos, vário
deixando para atração, só lembrança.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
08 abril, 2024, 20’36” – Araguari, MG