Coleção pessoal de lucas_nunes
Se os impotentes soubessem como a natureza foi maternal com eles, abençoariam o sono de suas glândulas e o louvariam nas esquinas das ruas.
A experiência do tédio, não do vulgar, por falta de companhia, mas o absoluto, é muito importante. Quando alguém se sente abandonado pelos amigos, não é nada. O tédio em si advém sem motivo, sem causas externas. Com ele vem a sensação de tempo vazio, algo assim como a vacuidade, coisa que conheço desde sempre. Posso recordar muito bem da primeira vez, quando tinha cinco anos. Vivia, então, na Romênia, com toda minha família. Então, tive de repente a consciência clara do que era o aborrecimento, o tédio. Foi por volta das três da tarde, quando fui tomado pela sensação do nada, da absoluta carência de substância. Foi como se, de súbito, tudo tivesse desaparecido, tudo mergulhasse na nulidade e fosse o começo de minha reflexão filosófica. Esse estado intenso de solidão me afetou de maneira tão profunda que me perguntei o que significava realmente. Não poder defender-se, nem poder se livrar dele com a reflexão, assim como o pressentimento de que voltaria outras vezes, me desconcertou tanto que o aceitei como ponto de orientação. No auge do tédio se experimenta o sentido do Nada, e neste sentido não se trata de uma situação deprimente, já que para uma pessoa não crente representa a possibilidade de experimentar o absoluto, algo como o instante derradeiro.
Claro que a morte é um tema na história da filosofia (risos), mas não como vivência íntima. Em Baudelaire existe a morte, em Sartre não. Os filósofos têm se esquivado da morte fazendo dela uma questão, ao invés de experimentá-la como algo existente. Não a consideram como algo absoluto, mas entre os poetas é diferente. Eles adentram profundamente o fenômeno, rastreando-o. Um poeta sem sentimento de morte não é um grande poeta. Parece exagerado, mas é assim.
"Acho que um dia você vai ser um grande escritor" disse ele. "Mas", acrescentou perversamente, "primeiro você terá que sofrer um pouco". Quero dizer, sofrer realmente, porque você não sabe o que significa essa palavra. Você apenas pensa que sofreu. Primeiro, você tem de amar alguém.
Nancy amava Sid mas gostava de ler filosofia e ouvir musica de Wagner, Sid amava Nancy e não gostava de mais nada. Só cantava com a banda por amor a Nancy. Sid odiava filosofia e a musica de Wagner e odiava qualquer coisa que Nancy gostasse. Por sorte, Nancy não gostava da banda, então não tinha que odiá-la. Quando Nancy estava feliz com alguma coisa, Sid dava um jeito de destruir aquela felicidade, de matar aquela coisa. Nancy era feliz com Sid e Sid machucava a si mesmo, não queria de jeito nenhum que ela fosse feliz, as pessoas felizes não eram confiáveis para ele e ele queria confiar em Nancy. Sid batia com a cabeça nas paredes até tirar sangue e Nancy chorava e isso satisfazia Sid. Nancy estancava as feridas de Sid com profunda tristeza e ele a cobria de beijos, chupava seu próprio sangue molhado pelas lágrimas de Nancy.
Um dos mutantes se aproxima: é o pequeno Nico. Ele não só é estúpido como, ainda por cima, pensa que tem coisas em comum conosco. Seu senso de humor é tão eficaz quanto o esperneio de uma tartaruga na água fervendo. Ele coça a cabeça. Não é má pessoa, não tem culpa de ser limitado, um pedaço de lixo genético vazio e sorridente.
Os estudantes que entram e saem nos olham com desprezo e as garotas com asco e curiosidade. Imagino que devemos ter uma
aparência repugnante mas o essencial continua pesando. [...] O olhar destes estudantes assusta, há mais lucidez num pavilhão psiquiátrico, até no necrotério.
Não digo que sou mau, mas digo que tome cuidado. Sou de uma raça indomável, que se movimenta rápido, o tipo de criatura que deixa um rastro de ânsia quando passa. Já não digo mais mentiras porque perdi a imaginação, mas não há nada que seja confiável nas minhas verdades.
Sou apenas um bloco de pedra para mim mesmo. Quero ficar dentro desse bloco, sem ser perturbado. Foi assim desde o começo. Resisti a meus pais, resisti à escola e depois resisti a tornar-me um cidadão decente. O que quer que eu fosse, fui desde o começo. Não queria que ninguém mexesse com isso. E ainda não quero.
Ver as coisas tal como são... torna a vida quase intolerável. Porque eu creio haver visto, em parte, as coisas tal como são, não posso agir. Sempre permaneci à margem dos atos.
Agora, é desejável que os homens vejam as coisas tal como são? Não sei. Penso que as pessoas em geral são incapazes.
Agora, é verdade que somente um monstro pode ver as coisas como elas são, porque o monstro está fora da humanidade.
Uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Porém, uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um homem são e reduze-o a um farrapo. Sempre consegue.
Os filósofos que acreditam na lógica absoluta da verdade nunca tiveram de travar uma discussão cerrada com uma mulher.
O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio.
Ironia da vida: a mulher dá-se como prêmio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.
O homem interessa-se tão pouco pelo próximo que até mesmo o cristianismo recomenda fazer o bem por amor a Deus.