Coleção pessoal de linelua

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ENQUANTO OS ANJOS DORMEM

O adormecer dos anjos


Desperta o desejo sonegado.


Declinamos corpo, alma e espírito


Aos prazeres do pecado.


Libertos desse dogma,


Desobrigados da culpa,


Atraídos e embriagados


Ofertamo-nos à divindade


Que habita o ser amado





O despertar da sutileza amaldiçoada


Faz desabrochar a flor nascida


Nas pegadas de Buda Gautama


Que nos conduzem ao Éden,


Entorpecem


Para atingirmos juntos o Nirvana

Triste essa artista
Que fez do papel
Seu coração
Triste essa artista
Que recebeu o dom
De emocionar
Sem emoção

Insones conversas

Insones conversas desencaminhadas
Que mudam a vida e não levam à nada
Só eu e você enquanto a noite vira madrugada
Eu, você e nossa vida em pauta
Soluções na bandeja
Teoria musicada

O amanhecer transforma
Os garranchos em vida
jogando no lixo a certeza lírica
Da poetisa que se conscientiza
Que só o que sabe
É tornar arte
Palavras difíceis
Que nunca sentiu

Triste essa artista
Que fez do papel
Seu coração
Triste essa artista
Que recebeu o dom
De emocionar
Sem emoção

Insones conversas desencaminhadas
Que mudam a vida e não levam a nada
Que tentam viver e se perdem na estrada

É nas falácias da madrugada
O único momento em que me encontro
Desarmada
E eu, menina, sempre tão desalmada
Assumo que tudo não passa de medo
De não ser amada

Pequenos raios dourados remanescentes do falso brilho do sol, arrancam alegria da amargura e personificam o quantum de amor que exite em todo o ódio.
Inocência que sai pelos poros da luxúria frívola daquilo que deveria ter sido amor, mas não foi, para não ocupar o lugar da doçura quente, tardia e atemporal que traz à tona a verdadeira insanidade que é o amor confrontado à realidade.

MÚSICA ALTA

Ontem eu fui ao inferno em busca de aventuras


O som estava alto do jeito que eu gosto


O cheiro era morno, a cerveja era quente


Risadas histéricas, uma loira gelada


Dançando lindamente






O inferno acolhe em seus braços


Bancando o indulgente


As almas enfermas, de olhar embebido


Em água e sódio


Que carregam o triste sorriso do incoerente


E celebram para abortar o ódio






O inferno te envolve em um enredo


Te lambe sem segredo


Com sua língua bifurcada e repelente


Enquanto a vida, obediente


Segue o curso que seguiria se você não tivesse o medo


De viver e de ser gente.






Tudo o que você ama e preza


O inferno ignora


O vendedor do ingresso te despreza


Quem você amava, morreu


A bússula que te norteava


Agora só aponta para baixo


As crianças cresceram e não carregam nada seu.


Você agora é um morto-vivo


Que passa os dias olhando sua vida estagnada


Através de uma janela trincada pelo calor


Você não sente nada.






A música fica alta demais quando você quer descansar.

IMORTAIS

No fim do arco multicolorido


da Mensageira de Hera


Me aguardava leviano


O anjo que combinava o som com o silêncio


Que sucedeu a morte dos filhos de Urano






A voz grave e melódica


De coração dissonante


Cantava o silêncio de força orquestral


Que profetizava o arranjo final.






O anjo enfermo que quer curar


E se cura


Almas expostas que sangram


E sangrando se misturam


Até se tornar singular






E a alma ensolarada e siamesa


Regra os excessos e duplica sua força


Surgida do vazio original


Amparada por Eros percorre do Caos ao Cosmo


Se tornando imortal.

BIG BANG

Provocada pelo filho do vento


Disforme e rejeitado


A partir da erupção quente e densa


Do vulcão dantesco


A expansão dos meus dissabores


Arranca minha pele


Dilacera minha carne


Deixa expostos meus temores.










Com a alma em carne morta, eu existo


Nascida da explosão vazia


Que ecoa num grito expressionista


Da arte demente de Munch


E percorre, tortuoso, o papel


Misturando letras com lágrimas


De água e óleo na pedra calcária


Imprimindo meu pesar


Em recitativa ária










De uma diestesia evoco o grande Shaman


Que cala todos os sinos para que eu vire poeta


Transformando em arte a minha agonia


Porque o Big Bang da Alma é a poesia

A Dama

Assumo a loucura que me imputam. Todas elas.


O rótulo dos amigos com bons olhos, o da família, o da sociedade, e o de toda a turma da psiquiatria.


Assumo a loucura, mas não a consciência da loucura, pelo menos não a consciência plena que ultrapassa o diagnóstico e se aprofunda na psiquê.


Assumo a loucura diagnosticada mas não a visão de mim mesmo como tal. Talvez seja aí que se encontra a gravidade da coisa, ou não.


Queria mesmo era alguma explicação. Tudo me parece tão louco, tão do avesso em contraste com a minha exclusiva sanidade, que me faz questionar se sou eu, ou o resto do mundo que enlouqueceu. O pior de tudo é que o fato de passar pela minha cabeça que pode ser eu a louca, já demonstra um mínimo de sanidade mental. Ou não? O que me incomoda é a dúvida, a incerteza.


Assumo a loucura. Tudo bem! Mas ao assumir a loucura, presumo instantaneamente que esse é um ato de uma pessoa sã. É nesse ponto que minha cabeça começa a doer e me sinto como a Dama do baralho, dividida em duas. Cabeça pra cima, cabeça pra baixo, sem saber qual é a real e qual é a imagem refletida. Isso me parece sintoma de loucura, mas como tive a consciência e a plena capacidade de analisar minha própria loucura, me sinto sã.





Acho que é hora de parar. Tire suas próprias conclusões se quiser. Quanto a mim vou tentar ficar bêbada (só por hoje) para ter ao menos um momento de certeza nessa minha existência incerta. Bêbados são sempre bêbados e nada mais.

É quando o final se torna prólogo que fica evidente a prepotência com a qual travei a minha luta. É quando percebo que o que mais quero é aquilo que me orgulho em renegar é que sobe a tona a minha fragilidade. E esse é o exato instante em que a força que tento sempre demonstrar se torna a minha maior fraqueza.

Sobrevivendo

E eu sobrevivia intensamente naquela liberdade doente de múltiplos sorrisos e lágrimas cristalizadas que tornavam-se estrelas a cada lua que passava