Coleção pessoal de linamarano

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Os cantos de minh'alma
São negros, são ocos,
São noites sem lua,
São becos de loucos,
Poções de mar morto,
São tapas e socos,
Restos de sonhos
Ligados em outros
Tão longe, tão fracos
Tão poucos ...

(Cantos Negros)

O homem de mil palavras
Ama a mulher sem palavras.
Ele fala pelos dois!
Assim se completam,
e sentem em dobro.

As vezes te sinto
Encurralado, num labirinto,
Teu olhar chamando, faminto
Por mim


Depois pago o finto
Me mandar para o quinto
Do inferno, eu pressinto,
É o que queres, enfim


Um lamento distinto
Ressoa constante, tilinto
Tem amor no recinto
E amor... não tem fim!

Passado ou futuro
Que me importa....
É com o presente que me ocupo
Mas ainda com o vento,
Pela fresta da porta,
Vem teus beijos, tuas mãos,
Teus olhares, teus nãos.
Sinto-os todos...

(Passa passado)

Verso rico de rima pobre


Amar
É deixar
Partir
Pra não ferir

É querer prender
Mas decidir
A hora de parar
Pra libertar

É saber que prender
Sem ter
Nada pra oferecer
É o mesmo que matar

Amar
É deixar ir
Sem deixar de sonhar
Com o amanhecer
Do dia de reencontrar

O indelével
Deleite
Que te delego
Meu deleto
Delito
É uma delícia
Delgada
Deliberadamente
Deleitosa
Que delapida
Um delírio
Deliquente
Bem delineado
(Só delírio )

Moça
Que não almoça
Não faças troça
Do meu amor

Ouça
Meu chamado endossa
Venha e destroça
A minha dor

Moça
Que no meu corpo se enrosca
E de minh'alma se apossa
És meu anjo pecador

Meu bem, meu bem
Joguei mal olhado
Pra te manter apaixonado
Deixa a maldita e vem

Meu bem, meu bem
Te espera nossa maloca
A cama malajambrada,
Me cobre de malmequeres,
Me sufoca
De maledicentes prazeres

Quero teus olhares maldosos
Tua saliva bendida
Me benze, me unta,
Estou mal prescrita

Meu bem, meu bem
Me trata bem mal
Minha salvação
É o pecado original!

Quando andas daquele jeito
No teu gingado perfeito
Mulher, eu me deleito
Debruçado no parapeito

Volto pro quarto e me ajeito
No nosso leito ainda desfeito
Ouço teus passos e suspeito
Que tens o desejo mal satisfeito

Mas que fazer? Eu aceito!
Imagina se te enjeito!
És minha, sou teu eleito!
Já refeito, eu aproveito!

Ainda vivo da viagem
Na nossa carruagem
E fico sem coragem
De ir embora
Meu bem

Tiravas a embalagem
E ficávamos de beberagem
No vai e vêm
Do crepúsculo à aurora
De que eu era refém

Eras meu remédio, sem dosagem
Tempestade, sem estiagem
Eras o motor e a embreagem
E eu, do teu corpo senhora
Aderente feito tatuagem

Eu era uma, eu era cem
Era todas do teu harém
E todos nos olhavam com desdém
O que me resta agora?
Tudo o que eu viva, estará aquém

(eFEITO taTUagem)

A velhice vem transformando meus heróis em quase inimigos.
(sobre pais e filhos)

Quando o dia nasceu
Vi seus olhos nos meus
Os meus sonhos, nos seus
Pendurados num fio!
É a nossa estrada!
Preenche o quarto vazio
Da minha casa
Vem correr no meu rio
Ser a minha calçada
Sentir meu corpo no teu
Como toalha molhada
Vem colher sua flor
Bem no fundo do céu
Já não quero mais nada
(Quando o dia nasceu)

Inspirada na musica
A pele que há em mim

Nas horas vagas,
Divago nas palavras...
Vou bem devagar,
Divulgando em versos,
Nas vagas do mar,
Os devotados beijos,
Que devo lhe dar!
Eles seguem em cardume,
Devastando a noite,
No nevoeiro do devaneio,
Na trilha do vaga-lume.

( A trilha do Vaga-lume)

Você o elegeu
Em busca de mudança
Mas sendo um fariseu
Ele traiu sua confiança!
Vestia uniforme de herói
Escondendo a grande pança
Mas a índole que o mói
Levou-o à matança!
O mal a tudo corrói
Até mesmo a esperança!
(Enganos)

Marinheiro, marinheiro
Coloca teu barco no mar,
Já é tarde, vai ligeiro
Não deixes a alma encalhar
Leva aquele pote de cinzas
Pra na correnteza, esvaziar
O passado é um fantasma
Que faz o barco afundar
Mas que te sirva de carranca
Para o mau agouro afugentar
Segue o curso, solta a âncora
As ondas saúdam tua partida
Livra a farda da cânfora
Esquece o porto suicida
Ouve o canto da sereia
E te apaixona na lua cheia
(Segue o Mar)

Três batidas na madeira
pra isolar mau-olhado,
pra segurar namorado...
Não olhe assim de esguelha,
É uma antiga brincadeira!
- De gente supersticiosa!
De gente medrosa!
Não, é de gente romântica!
- Gente imatura!
Depende da semântica.
Melhor ser feliz ou ser madura?
(doce imaturIDADE)

Em beijos submersos, sentia tua lasciva língua invasora de cavidades em castidade já agora esquecida....
Entre olhares perversos e índole predadora, a cada mordida, mais apetecia-te as entranhas úmidas em meus anseios de ti...
Seguia a tua boca em meus seios... em meus meios... lá no fundo, bem no fundo do mar.
(Amor Submerso)

Me olhavas com aquele olhar de cobiça inquieta...
me tomavas com tua inquietação visivelmente marcada... a inquietar-me os lábios sequiosos.... me deixando em inquietante tontura ...
(Inquietude)

Azaramboar
Ao acaso!
Sina encontrar,
Abstrato singular,
Dentro do prazo!
Quero captar
Seu interesse
Seu olhar
Sem descaso!
Que tal esse?
Vai comentar
Que eu arraso?
Nem pensar!
Só extravaso!

Eu sou o verso
O anverso e o reverso
Sou a partida e o regresso
Quando desisto, logo recomeço
E se confirmo, depois desconverso
Até me concentro, mas depois disperso
Eu nego, nego e confesso
Sou a amiga e o adverso
Um anjo puro e perverso
Caso perdido, de sucesso
Se acalmo o passo, logo já apresso
A ninguém obedeço, mas a todos favoreço
Não sou santa e pago o preço
Mas pouco me importa o que pareço
É na solidão que me fortaleço
E entre amigos, que eu cresço
Nada quero e nada te peço
Apenas entenda o que eu professo
Minha ausência e meu excesso
(Verso e Anverso)