Coleção pessoal de eu_Moralles
Poeta, não somente o que escreve.
É aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado
de uma rima, à autenticidade de um verso.
Se um poeta consegue um dia expressar as suas dores com toda a felicidade como é que poderá ser infeliz?
O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
O poema é uma mentira
Todos acreditam na diferença
Mas no fundo
Sabem que é mentira
Sabem que o mundo não tem mais chances
De ser mudado ou remodelado
Ele está completamente ferrado
Destroçado, Acabado
A única chance que tinhamos
Morreu com quem quis
Morreu com quem acreditava
E com quem mais apoiava
Amar é compreender
é se surpreender
é saber viver
é saber sorrir
Amor é ser feliz
é ver as estrelas subir aos céus
é ver o sol ir dormir e a lua subir
isso é amar...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.