Coleção pessoal de LEONARDOPAIVA
Para um dia mais tarde...
Ele: Sabe o que eu diria se reencontrasse você...?
Ela: Não. Nunca saberia. Você sempre se preocupou em ser imprevisível...
Ele: ...
Ela: Mas, provavelmente, eu sei o que você esperaria que eu lhe dissesse...
Ele: O quê...?!
Ela: Que me arrependo de ter partido e agora sei que sempre te amei.
Ele: ...
Ela: ...
Ele: E você só pode deduzir o que espero que você diga baseando-se no último "eu" que você encontrou...
Ela: E você não é mais o mesmo?
Ele: Nem eu, nem você...
Ela: ...
Ele: ...
Ela: O que será que eu estaria dizendo nesse momento, então, sendo o "eu" que sou agora?
Ele: Não importa... Desde que você seja um "você" melhor do que você era...
Ela: Está dizendo que eu não era boa o suficiente?
Ele: No mínimo, que me interpretava mal, como está fazendo agora...
Ela: Não sou eu. É você me reflectindo...
Ele: ...
Ela: E você? É uma pessoa melhor hoje?
Ele: Acredito que seja o melhor "eu" que já fui...
Ela: Mas, pelo visto, ainda prepotente.
Ele: ...
Ela: Mas não de um jeito arrogante. Suas prepotências sempre foram muito inocentes.
Ele: Sabe o que eu diria se reencontrasse você...?
Ela: Não. O que diria?
Ele: Também não sei...
Ela: ...
Ele: Só sei que, hoje, diria sorrindo...
Contei meus anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora
Tenho muito mais passado do que futuro
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas
As primeiras, ele chupou displicentemente
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram
Cobiçando seus lugares, talento e sorte
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos
Quero a essência... Minha alma tem pressa
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana, muito humana
Que não foge de sua mortalidade
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
Não tenho nada de novo ou revelador para te contar... apenas (e não é nada apenas!!!) gosto de falar contigo... sinto-me mais próxima de mim... próxima daquilo em que acredito!
Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.
Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.
De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.
Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles.
O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas.
Preciso de Alguém
Que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência.
E, ainda que não compreenda, respeite os meus sentimentos.
Preciso de alguém que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado;
alguém amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso odiá-lo por isso.
Nesse mundo de céticos, preciso de alguém que creia, nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível: a amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu perder o meu ouro e não for mais a sensação da festa.
Preciso de um amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida. Mesmo que isto seja muito pouco para suas necessidades.
Preciso de um amigo que também seja companheiro, nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo:
"Nós ainda vamos rir muito disso tudo" e ria muito.
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher meu amigo. E nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma amizade verdadeira, a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela.
Não adianta insistir na beleza de alguém que é vazio de sentimentos. Bonito mesmo é alguém que te arranca sorrisos, não suas esperanças.