Coleção pessoal de leobosco
Em bandos de macacos rhesus, por exemplo, o macho dominante do grupo caminha firmemente com a cauda e a cabeça erguidas, enquanto os macacos dominados mantêm a cabeça e a cauda baixa, em sinal de respeito ao líder do bando. Estar subordinado a um líder dá a esses animais mais proteção contra os inimigos e garante a eles maior acesso aos alimentos e ao abrigo. Qualquer cientista comportamental que viesse de outro planeta estudar o homem perceberia facilmente a semelhança entre esse comportamento de submissão e a tendência humana de se submeter a um Deus.
O mormonismo é objetivamente menos crível do que o cristianismo, porque os mórmons estão comprometidos em acreditar em quase todas as coisas implausíveis que os cristãos acreditam, além de muitas outras coisas implausíveis adicionais. É matematicamente verdadeiro dizer que qualquer que seja a probabilidade atribuída ao retorno de Jesus à terra para julgar os vivos e os mortos, deve-se atribuir uma probabilidade menor de que isso vai acontecer no Condado de Jackson, Missouri.
O que chamamos de realidade nada mais é do que uma alucinação culturalmente sancionada e linguisticamente reforçada.
O ser humano pela instrumentalização da razão tende a entificar tudo, sobretudo o fundamento a que se reduziu a realidade. Toda conceituação é representação e entificação. A realidade é sem fundamento. Ela funda os fundamentos, os suportes, mas sem se fundamentar. Realidade é o vigorar e acontecer do fundar.
Um sapo, ao ser jogado em uma panela com água escaldante, pula imediatamente. Porém, se colocado em água fria, que pouco a pouco vai esquentando até ferver, morre cozido, por não perceber o aumento gradual da temperatura.
Se as criaturas dos desenhos animados pudessem falar, eles fariam as mesmas suposições. Eles não saberiam que são quadros de filme, passando por máquinas, girando de um rolo para outro.
EU, ETIQUETA
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comparo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Só existem verdades absolutas! A expressão "verdade absoluta" é redundante, não existe meia verdade, ou ainda verdade relativa. Meias verdades e verdades relativas não são verdades. Se a verdade não for absoluta ela não é verdade. Simples como 2 + 2 =4.
O que varia são as diferentes percepções, as diferentes opiniões a respeito do mesmo fato (verdade). Se eu soltar uma bola do 10º andar de um prédio e logo em seguida eu fizer a seguinte afirmação: "Eu soltei uma bola do 10º andar", essa afirmação é absoluta porque se refere a um fato consumado. Temos a mania de confundir a opinião pessoal de cada um como sendo várias verdades, mas isso é falso. A "verdade" de cada pessoa não passa de diferentes impressões a respeito de uma verdade existente. Eu posso enxergar uma bola azul e outra pessoa enxergar ela verde ou outra cor, mas isso não muda o fato de que a bola possui uma cor definida uma cor X ainda que não seja a cor que enxergamos.
Toda a história apologética teísta foi baseada numa infinita tentativa de moldar argumentos e evidências para chegar a uma conclusão que alguém já chegou sem nenhuma evidência. É tentar sustentar uma hipótese de deus que é mal definida, maleável e não falsificável.
Psicodélicos são ilegais não porque tem um governo amoroso que está preocupado que você possa saltar para fora de uma janela do terceiro andar. Psicodélicos são ilegais porque dissolvem as estruturas de opinião e culturalmente estabelecidos modelos de comportamento e processamento de informações. Eles abrem até a possibilidade de que tudo o que você sabe está errado.
Não nascemos com uma tabula rasa - nascemos com os objetivos axiomáticos de evitar o sofrimento e buscar o prazer, e há uma maneira científica, objetiva, certa e errada de alcançar esses objetivos.
O conceito de raça pode ser definido somente dentro de espécies cujos vários grupos foram isolados uns dos outros por um tempo suficientemente longo para que seu patrimônio genético se diferencie. De onde se conclui que, na espécie humana, esta diferenciação é tão pouco pronunciada que o conceito de raças humanas não é operacional.
Existe um rótulo divino e um rótulo mental que, ao aplicá-los como rótulo da explicação, limitamos desnecessariamente o escopo da explicação, dando-lhe propriedades antes que possamos necessariamente afirmar que se tem essas propriedades.
O livre-arbítrio é uma ilusão. Nossas vontades simplesmente não são de nossa própria autoria. Pensamentos e intenções emergem de causas de fundo que desconhecemos e sobre as quais não exercemos controle consciente.
"O ego é uma estrutura que é erguido por um indivíduo neurótico que é membro de uma cultura neurótica contra os fatos da matéria. E a cultura, o que nós colocamos como um sobretudo, é o consenso coletivizada sobre que tipo de comportamentos neuróticos são aceitáveis. "