Coleção pessoal de Leninhaalves
DESILUSÂO
Achei ter encontrado
O grande humor da minha vida.
Porém, tudo não passou de um
Delicioso ataque de riso.
-Seu porco imundo!
Gritei com todo ódio
O que ele ouviu foi um canto romântico de passarinho com sotaque francês.
MAGRELO
Esse teu mau humor só te deixa mais velho
E envelhece meu amor por ti
Tens sorte de eu ser apegada
E tens sorte de ser bonito
Amarelo inteiro
Magrelo feio
Haja paciência pra te aturar
Haja carinho pra te sustentar
Haja Wiska pra te alimentar
Seu velho rabugento
Brigão
Violento
Magrelo inteiro
Amarelo feio
Hoje eu quis te morder
Pra te ensinar a me respeitar
Mas acho que não tem jeito
Tu não tens modos
Nem prece que te eduquei
Batalhei dobrado
Pra todo dia chegar na sala
E te ver lambendo o saco
RABISCO
Achei um versinho marginal
perdido no meu caderno de insônia
Encaixei nele todo o sentido
que eu havia guardado
para os versos de emergência
Bebo porque sei que o mundo gira
Mas só acredito vendo
Sei que o amor existe
Mas só acredito fazendo
Se há gravidade
Só caindo saberei
Bebo pra girar
amar
e cair
10 coisas para fazer antes de existir
Comer um filme
Vestir uma árvore
Pular de um anel
Falar azul
Cair para o mar
Assistir uma pipoca
Abraçar um casaco
Usar um bungee jumping
Gostar esrtanho
Olhar no poço
FOSCA LUZ
De longe todos são iguais
A lua, os postes
Tem mais luz
As letras não formas palavras
Anúncios, números de casa, letras miúdas, placas de carro
Nada disso existe
As paisagens são todas expressionistas
Legendas dispensáveis
Rostos sombreados
Rótulos desnecessários
Esse é o gosto da minha pesada miopia
Misturada com meu astigmatismo tosco
Atrás das lentes não sou feliz
PARADOXO
É a contradição
A resposta na minha mão
A verdade no final da piada
Nos olhos do crocodilo a lágrima
É o estranho no espelho
O término sem meio
É o progresso para a morte
Azar na sorte
O fim da estrada
O desfecho sem sacada
Mil olhos cegos
Pasmados e alertos
É a lavagem das mentes
Canto dos malditos em coro de contentes.
ADEUS CIRCO
Se Drummond estivesse errado
Não teria ficado um pouco dele
Aqui em mim
“Às vezes um botão. Às vezes um rato”
Ficou um risinho calado
Um fato histórico
Ficou um pouco de mágica
De circo
De carnaval
Lembranças tão coloridas quanto distantes
Um pouco dos (mala)bares
Um pouco dos rituais
E juntando tanto pouco
Fica um tantinho mais.
ELE LÁ EU RÉ
Ele tanto
Eu quase nada
Pra mim por enquanto
Pra ele longa data
Falo de loucura, desejo
Ele de amor, paz
Me diz que é eterno
Esquece que sou fugaz
Se eu quisesse ter alguém
Seria dele meu carinho
Um coração assim
Não merece ser sozinho.
UMA TARDE NA FRUTEIRA
Só eu e Júpiter deitados na fruteira
Concordando um com o outro
Mais eu com ele
Que ele
Comigo
Saudade
Me convença meu amigo
de que vale a pena a distancia
Me diz se praquele tempo voltar
ainda existe esperança
Quero cantar na calçada,
musicar dia-a-dia.
tomar cachaça ou gelada
contemplando alegria
- Do que mesmo estávamos falando?
borboletas
nuvens
mulheres
móveis
estilo?
Ah não importa se é Pakato ou Danilo
ou se é pacato o Danilo.
Quero meu amigo de volta
tocando na minha porta
se convidando a entrar.
(Para meu amigo Danilo Pakato)
Podia ser ser de terra
Podia ser de ar
Podia ser de fogo
Mas escolheu ser de mar
E assim é
De mar
Ed
mar
(Para meu amigo Edmar)
São esses intervalos entre as palavras
que dão sentido a conversa
o silencio explica
o silencio acusa
o silencio grita
Quando me vi
aos cacos no chão
senti vontade de chorar
por conta da minha distração
ganhei sete anos de azar